
Vídeos relacionados:
O Governo cubano confirmou nesta quinta-feira que mais de 24.000 trabalhadores do setor de saúde prestam atualmente serviços no exterior como parte de seu sistema de escravidão moderna, mascarado em uma política de cooperação internacional.
A cifra foi revelada durante o debate parlamentar sobre as diretrizes da política externa para o período de 2025-2028, realizado na Assembleia Nacional do Poder Popular, reportou a oficialista Cubadebate.
Nessa sessão, o ministro das Relações Exteriores, Bruno Rodríguez Parrilla, defendeu a política exterior do regime como uma diplomacia “revolucionária e popular”, afirmando que esta responde “aos princípios fundamentais desde as lutas pela independência”, e que é orientada pela cúpula do poder político, liderada pelo primeiro secretário do Partido Comunista e presidente do país.
Rodríguez afirmou que todos os órgãos do Estado, incluindo o Parlamento, os ministérios, as organizações de massa e o Partido, fazem parte ativa dessa política externa, que, segundo ele, tem "o povo como seu principal protagonista".
No obstante, na prática, o modelo que descreve deixa de fora milhares de profissionais de saúde enviados forçosamente para o exterior, sem voz, sem direitos e sob o controle do aparato estatal, enquanto os médicos que permanecem na ilha devem trabalhar em condições precárias e regulados sem possibilidade de abandonar o país.
Durante os debates, os deputados do regime reafirmaram que as prioridades dessa política se concentram na preservação do modelo socialista, na defesa do sistema político cubano e na busca por oportunidades econômicas que acelerem a recuperação do país.
Nesse contexto, o chanceler reconheceu que um dos objetivos fundamentais é fortalecer as relações financeiras, as exportações, os investimentos e a cooperação internacional, o que inclui, de maneira central, a exportação de serviços médicos.
Segundo Rodríguez, a participação de dirigentes e delegações cubanas em eventos internacionais responde a uma estratégia para “aprofundar os vínculos econômicos” e reforçar a liderança do regime em organismos multilaterais como o Grupo dos 77 mais a China ou o Movimento de Países Não Alinhados.
No entanto, o funcionário evitou se referir às críticas internacionais que o programa de missões médicas tem recebido, e também não mencionou as condições de trabalho que enfrentam os profissionais enviados ao exterior.
Em vez disso, limitou-se a qualificar seu trabalho como uma demonstração de “solidariedade” e “compromisso revolucionário”.
Na mesma linha discursiva, a subdiretora geral para os Estados Unidos do Ministério das Relações Exteriores, Johana Tablada, afirmou que “o povo é a inspiração do trabalho dos diplomatas cubanos”.
A defensora do regime justificou a ação do Ministério das Relações Exteriores como um esforço para explicar ao mundo “o que está acontecendo em Cuba, o que sofremos e qual é o efeito severo das políticas do Governo dos Estados Unidos”.
O vínculo com os cubanos residentes no exterior também foi abordado na sessão parlamentar.
Segundo declarações oficiais, o regime busca sua implicação no desenvolvimento econômico da nação, ao mesmo tempo em que os convoca a “defender a independência e soberania” do país.
Por sua parte, Ana Teresita González, diretora geral de Assuntos Consulares e de Cubanos Residentes no Exterior, afirmou que um dos objetivos atuais da política externa é "aprofundar os vínculos" com os emigrantes, aos quais é solicitado que contribuam com matérias-primas e insumos para reativar a indústria nacional, em meio a uma crise econômica que tem esvaziado hospitais, colapsado serviços básicos e forçado o êxodo de milhares de profissionais, incluindo médicos.
González admitiu que, embora tenha havido avanços, “ainda estamos longe de alcançar o nível de participação desejado” por parte dos cubanos no exterior.
Não se mencionou, entretanto, o maltrato migratório nem as dificuldades burocráticas que o próprio regime impõe àqueles que tentam manter vínculos com a ilha a partir do exílio, além do óbvio: a maioria dos cubanos da diáspora reside em outras nações após fugir do regime.
O debate parlamentar concluiu com uma mensagem final do chanceler Rodríguez Parrilla, que exaltou o trabalho dos trabalhadores cubanos no exterior e reafirmou que "milhões de cubanos, dentro e fora do país, são atores essenciais da política externa".
A realidade, no entanto, mostra que muitos deles estão presos a contratos impostos, sob vigilância e sem garantias mínimas de liberdade ou justiça trabalhista.
Apesar do discurso oficial sobre a "solidariedade", o sistema continua a gerar dúvidas dentro e fora da ilha, especialmente em meio à profunda crise que atravessa o sistema de saúde pública cubano, com hospitais sem recursos, escassez de pessoal e milhares de profissionais que emigram ou abandonam o setor.
Em abril passado, foi divulgado que 91,6% do dinheiro que as Bahamas pagam por cada médico cubano é embolsado pelo regime, deixando o profissional com uma fração mínima de seu salário.
Em maio, foi anunciado que o Governo das Bahamas exigiu o pagamento direto aos médicos, em uma tentativa de reduzir a opacidade do sistema.
No entanto, a administração cubana resistiu, insistindo que os fundos fossem transferidos para o Ministério da Saúde Pública de Cuba.
Este modelo foi descrito pelo Secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, como uma “prática atroz de escravidão moderna”, que priva os médicos cubanos de liberdades básicas, como escolher seu destino, renunciar livremente ou manter seus passaportes durante as missões.
Perguntas frequentes sobre as missões médicas cubanas no exterior
Quantos trabalhadores da saúde cubanos estão prestando serviços no exterior?
Mais de 24.000 trabalhadores do setor de saúde cubano estão atualmente prestando serviços no exterior, conforme confirmou o Governo cubano durante um debate parlamentar sobre política exterior.
Quais são as críticas às missões médicas cubanas no exterior?
As missões médicas cubanas foram criticadas internacionalmente por serem consideradas uma forma de "escravidão moderna". Os médicos cubanos enfrentam condições de exploração trabalhista, como a retenção de salários e restrições de movimento, enquanto o Governo cubano se beneficia economicamente de seus serviços.
Quanto dinheiro o regime cubano ganha com as missões médicas?
O regime cubano obtém mais de 4,900 milhões de dólares por ano com as missões médicas internacionais, de acordo com denúncias do governo dos Estados Unidos.
Por que alguns países continuam contratando médicos cubanos apesar das críticas?
Apesar das críticas, alguns países consideram a cooperação médica cubana essencial para seus sistemas de saúde e preferem mantê-la, mesmo que isso signifique enfrentar sanções ou perder o acesso a serviços americanos. A falta de pessoal médico local em alguns países justifica essa dependência.
Que medidas tomou os Estados Unidos contra as missões médicas cubanas?
Os Estados Unidos impuseram sanções e restrições de visto a funcionários de países que contratam médicos cubanos em condições abusivas, alegando que essas missões constituem uma forma de tráfico de pessoas e trabalho forçado.
Arquivado em: