Díaz-Canel aceita convite de Putin e viajará para a Rússia em maio para celebrar o Dia da Vitória

O fortalecimento das relações estratégicas entre Havana e Moscou ocorre em um momento em que Donald Trump aprofunda seus gestos de compreensão em direção a Vladimir Putin, rompendo com a linha tradicional da política externa dos Estados Unidos, que considera a Rússia uma ameaça global.

Vladimir Putin recebe Díaz-Canel e sua esposa no Dia da Vitória (2024)Foto © Wikipedia

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O governante cubano, Miguel Díaz-Canel, aceitou o convite de seu homólogo russo, Vladimir Putin, e participará das celebrações pelo Dia da Vitória, que ocorrem todo dia 9 de maio em Moscou, conforme informou o chanceler russo, Serguéi Lavrov.

“Estamos nos preparando ativamente para a visita do presidente da República de Cuba, companheiro Díaz-Canel”, declarou Lavrov durante um encontro com o presidente da Assembleia Nacional do Poder Popular, Esteban Lazo Hernandez. Ele também destacou que as relações bilaterais estão em um período de “contatos intensos no mais alto nível”.

A visita de Díaz-Canel a Moscou marcará um novo capítulo no fortalecimento da aliança estratégica entre os dois governos, em um contexto internacional cada vez mais convulso, no qual Havana tem mantido seu respaldo às posições de Moscou em organismos multilaterais, e evitou condenar publicamente a invasão russa à Ucrânia.

Lavrov antecipou que nas próximas semanas será realizada uma nova sessão da comissão intergovernamental russo-cubana para a cooperação comercial, industrial e científico-técnica. Em paralelo, o vice-primeiro-ministro russo, Dmitri Chernyshenko, deve viajar a Cuba, em um sinal claro do dinamismo que Moscou deseja imprimir à sua relação com Havana.

“Queremos e vamos a conseguir que todos esses contatos e visitas resultem em um acordo para aprofundar ainda mais nossa parceria estratégica em todas as áreas e promover nossa coordenação no âmbito internacional”, acrescentou Lavrov, segundo o meio russo Pravda.

A Rússia reforça sua influência em Cuba

O viagem de Díaz-Canel se soma a uma série de intercâmbios de alto nível entre os dois governos nos últimos meses. Em novembro de 2022, o governante cubano visitou Moscou para inaugurar uma estátua de Fidel Castro e se reunir com Putin, em um ato que ressaltou a proximidade política entre os dois regimes.

Desde então, a Rússia intensificou sua presença em setores chave da economia cubana, com investimentos em energia, transporte, agricultura e turismo, como parte de um renovado interesse em consolidar seu papel no Caribe. Em troca, o regime cubano ofereceu condições preferenciais para empresas russas e autorizou pagamentos em rublos em determinados setores.

Especialistas internacionais consideram que o Kremlin busca consolidar sua influência geopolítica na América Latina, utilizando a relação com Cuba como uma plataforma simbólica e estratégica, ao mesmo tempo que Havana tenta diversificar suas alianças internacionais para contornar sua profunda crise econômica.

Cooperação e dependência

Apesar do discurso de “associação estratégica”, analistas apontam que a cooperação entre os dois países tem um forte componente de dependência por parte de Havana.

Com o turismo e as remessas em queda e a economia dolarizada sem respaldo produtivo, o regime cubano buscou em Moscou um braço salvador que compense a diminuição do apoio venezuelano e a escassa entrada de divisas.

Além disso, desde o início do conflito na Ucrânia, Cuba adotou uma postura ambígua, alinhada com o Kremlin, o que lhe rendeu críticas da comunidade internacional. Enquanto isso, a imprensa oficial cubana mantém um silêncio quase absoluto sobre os aspectos mais controversos da política externa russa.

A viagem de Díaz-Canel em maio será, portanto, uma oportunidade para encenar mais uma vez a proximidade entre os dois governos e selar novos acordos, em um momento em que o regime cubano precisa de apoio financeiro e político diante de uma crescente pressão social e uma profunda crise estrutural.

O dilema geopolítico: Trump, Putin e o regime cubano

O reforço das relações entre Havana e Moscovo ocorre também num momento em que o presidente norte-americano Donald Trump aprofunda seus gestos de entendimento em direção a Putin, rompendo com a linha tradicional da política externa norte-americana que considera a Rússia uma ameaça global.

Este aproximação entre Trump e Putin gera tensões dentro do próprio partido e causa preocupação entre os aliados de Washington na Europa, especialmente diante da possibilidade de que a mudança de Trump implique um distanciamento dos Estados Unidos em relação à OTAN e uma abordagem mais complacente em relação ao Kremlin.

Neste contexto, torna-se evidente uma contradição difícil de ignorar: enquanto Trump se mantém como um crítico severo do regime cubano e ameaça endurecer as sanções durante sua presidência, sua proximidade com Putin —o principal aliado estratégico de Havana— coloca em dúvida a coerência dessa postura.

Para a sociedade civil cubana, que depositou parte de suas esperanças em uma maior pressão internacional para impulsionar uma transição democrática, este cenário representa um desafio considerável.

A legitimação tácita do vínculo Cuba-Rússia, em meio a um eventual realinhamento geopolítico liderado por Trump, poderia enfraquecer a já frágil resposta internacional diante das violações de direitos humanos na ilha. Além disso, corre o risco de reforçar o regime de Díaz-Canel, que capitaliza sua relação com potências autoritárias para resistir ao isolamento diplomático e sustentar seu modelo repressivo.

A contradição entre a retórica radical de Trump e sua afinidade com Putin complica o panorama para os ativistas cubanos que lutam pela liberdade e a democracia, e levanta questionamentos sobre as verdadeiras prioridades que regerão a política externa dos Estados Unidos com o retorno do magnata republicano à Casa Branca.

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Equipe Editorial da CiberCuba

Uma equipe de jornalistas comprometidos em informar sobre a atualidade cubana e temas de interesse global. No CiberCuba, trabalhamos para oferecer notícias verídicas e análises críticas.

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