Em uma recente entrevista com CNN, o ex-assessor de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Bolton, expressou sua profunda preocupação com a atual direção da política exterior americana, especialmente em relação à influência da Rússia na América Latina e seu impacto na segurança nacional.
Bolton dirigiu críticas diretas ao secretário de Estado, Marco Rubio, a quem reprochou por seguir a encenação da Casa Branca, orquestrada a partir do Kremlin sob a direção de Vladimir Putin, e lembrou-o da ameaça que representa a presença russa na região, com ênfase em países como Cuba, Venezuela e Nicarágua.
“Uma das razões pelas quais está cada vez mais difícil fazer com que os russos negociem é que Donald Trump está dando tudo o que eles querem. E lembre-se, de que tipo de regime estamos falando em Moscovo? Hã, Marco? Este é o regime que apoia Ortega na Nicarágua. É o regime que apoia Maduro na Venezuela. É o regime que apoia o regime pós-Castro em Cuba, Marco. Essa é a Rússia de que estamos falando”, disse Bolton.
Perguntado sobre o encontro tenso que tiveram Trump e o vice-presidente J.D. Vance com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, o embaixador Bolton o qualificou como "um desastre para a segurança nacional americana".
“Trump se divorciou dos fundamentos da política externa americana desde 1945. Muitos de seus apoiadores aplaudiriam isso, mas isso é um desastre para os Estados Unidos. Os europeus não podem fazer isso sozinhos. Eles podem falar sobre isso o quanto quiserem, mas precisam dos Estados Unidos liderados por alguém que entenda quais são os seus próprios interesses”, acrescentou.
Segundo o ex-assessor de Segurança Nacional da primeira administração Trump, o presidente está "emocionalmente comprometido com o lado russo, e acredito que isso prenuncia um desastre para a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), e uma má sinal para os aliados dos Estados Unidos em todo o mundo".
“Trump está consumido pela ideia de que Zelenski e a Ucrânia conspiraram contra ele nas eleições de 2016. Poderia ler alguns trechos do meu livro, omitindo as palavras que não posso repetir na televisão que Trump disse repetidamente sobre Zelenski. E por outro lado, ele pensa que Putin é seu amigo. Isso não apenas vai na direção errada, mas vai na direção catastrófica errada, rapidamente, com implicações globais para nosso sistema de alianças,” assegurou o analista internacional.
Segundo a entrevistadora da CNN, após o infeliz encontro, o atual conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz, e o secretário Rubio foram informar a Zelenski que ele deveria deixar a Casa Branca, fechando a porta para a negociação pela qual ele havia viajado a Washington. “O que você teria feito se estivesse em seu antigo cargo?”, perguntou a apresentadora a Bolton.
Bom, eu poderia ter cumprido a ordem, mas teria renunciado depois disso. Devo dizer que ver o Marco naquela situação foi muito triste para mim. Ele tem sido um defensor firme de uma política externa americana vigorosa no mundo, que nos mantém mais seguros em casa e, no entanto, ele falou sobre como é difícil fazer com que o pobre regime russo se sente à mesa para negociar”, sentenciou.
Animando-o a colocar "as calças de homem mais velho", Bolton dirigiu-se a Rubio para aconselhá-lo sobre como negociar com Putin. "Putin é um dos indivíduos mais impiedosos que já conheci. Ele sabe o que significa a negociação. Não é que ele esteja nervoso em sentar-se à mesa. Ele não precisa fazer isso", afirmou.
"Trump tem o vento a seu favor, só precisa sentar e conseguir mais. Isso é exatamente o oposto do que ele está fazendo em sua maneira de negociar com Putin. Posso garantir que os russos são melhores do que qualquer outro em aceitar concessões, guardá-las em seus bolsos e, em seguida, perguntar: 'o que vocês têm para mim agora?' É isso que estão fazendo no Kremlin esta noite", concluiu.
John Bolton: Um defensor da linha dura na política externa
Bolton é uma figura proeminente na política americana, conhecido por sua postura firme e, em algumas ocasiões, controversa em questões de segurança nacional e política externa.
Se desempenhou como assessor de Segurança Nacional do presidente Trump de abril de 2018 até setembro de 2019. Durante seu mandato, Bolton defendeu políticas mais agressivas em relação a nações consideradas adversárias dos Estados Unidos, incluindo a Rússia e seus aliados na América Latina.
A sua saída da administração Trump ocorreu após desacordos significativos sobre a estratégia a ser adotada em países como Venezuela e Coreia do Norte.
Expectativas e preocupações da comunidade cubano-americana
A comunidade cubano-americana tem acompanhado de perto a política da administração Trump em relação a Cuba e outros regimes autoritários na região.
Inicialmente, a nomeação de Rubio como Secretário de Estado foi recebida com entusiasmo, antecipando uma postura mais rigorosa contra as ditaduras da América Latina. No entanto, as recentes ações e declarações geraram inquietação e expectativa entre aqueles que esperavam uma política mais contundente.
Histórico aproximação entre os Estados Unidos e a Rússia
Recentemente, foi observado um aproximamento entre os Estados Unidos e a Rússia. O secretário Rubio e o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguéi Lavrov, mantiveram um diálogo em Riad, dando seguimento à conversa entre os presidentes Trump e Putin.
Este diálogo tem sido interpretado como uma tentativa de melhorar as relações bilaterais e abordar conflitos internacionais, incluindo a situação na Ucrânia.
Nesse sentido, as declarações de Bolton ressaltaram a necessidade de uma reavaliação da política externa dos Estados Unidos em relação à América Latina, especialmente no que diz respeito à influência russa.
Arquivado em: