Cenas de detenções migratórias abalando Miami: “São pessoas que estão trabalhando”



Agentes do ICE realizam detenções em Miami-Dade, gerando medo entre os imigrantes. Vídeos mostram ações em Little Havana, Hialeah e mais. Comunidade dividida diante de operações não confirmadas.

Agentes do ICE detêm trabalhadores em MiamiFoto © Captura de vídeo Facebook / Maylin Legañoa

Vehículos negros com luzes intermitentes, agentes uniformizados e homens sendo revistados no meio da rua: as imagens divulgadas nas redes sociais, que mostram supostas operações migratórias em diferentes pontos de Miami-Dade, abalou a comunidade latina e gerou um profundo sentimento de medo e indignação.

Os vídeos, compartilhados pela popular conta local Only in Dade, mostram agentes do Serviço de Imigração e Controle de Alfândega (ICE, na sigla em inglês) realizando detenções em vias públicas.

Nas gravações, feitas por testemunhas com seus telefones móveis, ouvem-se vozes que comentam com espanto: “São pessoas que estão trabalhando”; “Olha isso, ICE”, enquanto os uniformizados interagem com pessoas ao lado de veículos estacionados.

A publicação, que superou as 12 mil reações em poucas horas, veio acompanhada de uma frase curta, mas contundente: “Agentes do ICE vistos em múltiplos locais do condado de Dade hoje…”.

O post desencadeou um torrente de comentários que refletem a tensão e a divisão dentro da comunidade. “É doloroso ver tantos latinos celebrando a desgraça de outros trabalhadores latinos”, escreveu uma mulher.

Outro usuário apontou com ironia: “Os mesmos que hoje se alegram, na próxima semana vão reclamar porque o José não foi cortar a grama por 45 dólares e agora terão que chamar o Chad por 125”.

Enquanto alguns pediram para manter a calma e portar documentos em dia —“Se te pararem, leve sua licença ou a residência com você”—, outros aplaudiram a presença de agentes federais: “Apenas seja legal. Meu pai cubano se naturalizou, parem de arranjar desculpas”.

Testemunhos das ruas

Nas últimas 48 horas, vários residentes de Miami afirmam ter visto veículos do ICE ou da Patrulha Fronteiriça em áreas como Little Havana, Coral Gables, Hialeah, Doral, Miami Beach e Hollywood Beach.

“Hoje eu os vi em Hollywood Beach, é a primeira vez que vejo isso nesta área”, relatou uma mulher nas redes. “Na Pequena Havana não dá nem para sair; há carros da Border Patrol por todos os lados, já faz dois dias que não saio de casa”, escreveu outra.

Outros testemunhos afirmam que as operações parecem direcionadas a trabalhadores, jardineiros e operários da construção, o que intensificou o medo entre aqueles que não têm status migratório.

“Eu vi vídeos de proprietários chorando enquanto levavam seus funcionários”, comentou um internauta. “É amargo viver assim; essas pessoas estão apenas trabalhando.”

Apesar da avalanche de depoimentos e vídeos, o ICE e o Departamento de Segurança Nacional (DHS) não confirmaram a realização de operações em massa em Miami durante este fim de semana.

Redadas prévias em 2025

Os relatórios de meios de comunicação acreditados confirmam que algumas operações ocorreram nos meses recentes.

Em junho, NBC 6 South Florida informou sobre uma operação no noroeste do condado de Miami-Dade, onde 11 pessoas foram presas. Em janeiro, Telemundo 51 e Miami New Times também documentaram detenções de imigrantes indocumentados em diferentes locais do sul da Flórida.

Esses antecedentes mantêm viva a preocupação entre comunidades migrantes, especialmente cubanas, venezuelanas e centro-americanas, que trabalham em setores vulneráveis como a construção, a jardinagem ou o serviço doméstico.

Silêncio oficial e clima de tensão

Até o fechamento desta nota, não há confirmação oficial de uma operação coordenada pelo ICE no condado. No entanto, a viralização dos vídeos de Only in Dade e os avisos publicados por influencers locais espalharam o medo.

“Também construímos este país”, escreveu um usuário. “Não é justo que nos tratem como criminosos.”

Enquanto as autoridades permanecem em silêncio, Miami vive um dia marcado pela incerteza e pelo medo. As ruas continuam tranquilas, mas nas casas de muitos imigrantes, o eco de uma frase se repete com angústia: "São pessoas que estão trabalhando".

 

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