Cubanos em redes sociais apoiaram as manifestações de quinta-feira à noite em Havana contra a falta de eletricidade e água, com mensagens de raiva e desespero em relação ao Governo, que eles apontam como o principal responsável pela crise que tem empobrecido cada vez mais amplas faixas sociais.
“É abusivo, das 5 da tarde até quase 3 da manhã, não há corpo nem mente que resista. Não há água, não há eletricidade, não há transporte... isso parece um filme de terror”, escreveu um usuário na página em Facebook de CiberCuba, refletindo o sentimento de milhares que exigem liberdade e o fim da miséria.
Outras mensagens pedem unidade frente ao regime: “Cubanos orgulhosos, unam-se e protestem. Em todos os lugares e sempre. O poder está no povo. A revolução sempre venceu. Liberdade para o povo”.
As denúncias apontam diretamente para o Governo pela falta de fumigações, medicamentos e água potável, enquanto as doenças proliferam e a comida se perde pela ausência de refrigeração.
“É isso que devemos fazer, todo o povo para a rua, já não aguentamos mais, liberdade para Cuba”, resumiu outro internauta.
Os reclamos vão além da conjuntura imediata: “Chega de ser escravos, estão morrendo crianças inocentes por doenças curáveis, outras por fome e falta de medicamentos. Meu Deus, faça algo nessa ilha para que esses descarados saiam do poder... são 65 anos de angústia, chega”.
A explosão de indignação nas redes sociais acompanhou as manifestações registradas na noite de quinta-feira, 2 de outubro, no Centro Habana, onde moradores saíram às ruas com panelas, gritos de “¡Libertad!” e até fogueiras no meio da rua.
Várias interseções foram bloqueadas em protesto pacífico, inclusive com a participação de menores.
A manifestação ocorre após um dos dias mais críticos no fornecimento de eletricidade, com cortes de mais de 12 horas que afetaram grande parte da capital.
À falta de luz se soma à crise da água, com bairros inteiros que já estão há mais de um mês sem serviço, obrigando a pagar por caminhões-pipa a preços exorbitantes.
Até agora, as autoridades apenas ofereceram explicações técnicas e promessas vagas de reorganização, enquanto os cidadãos insistem que a única saída é a mobilização popular para pôr fim a um sistema que consideram esgotado.
As manifestações mais recentes na capital cubana são significativas porque as pessoas persistem em se manifestar, mesmo sabendo que cada ação na rua traz o risco de serem detidas e condenadas a longas penas de prisão pelo regime.
As duras sentenças aos presos das protestas de 11 de julho de 2021 (11J) foram uma tentativa de dissuadir futuras mobilizações.
Dias atrás, a Fiscalía cubana solicitou condenações de até nove anos de prisão contra seis homens acusados de participar em um cacerolazo pacífico em protesto pelos apagões na localidade de Encrucijada, Villa Clara.
No obstante, nesta situação, a procuradoria demonstra uma contradição, pois, embora apenas aluda ao ato de "tocar panelas", a acusação formal é de desordens públicas.
Assim, a repressão do regime cubano atingiu adolescentes, após os protestos ocorridos em 17 de setembro em Maniabón, município de Puerto Padre, Las Tunas, quando moradores saíram às ruas para exigirem direitos básicos como eletricidade, água, alimentos e liberdade, informou a plataforma Alas Tensas.
Antes, as manifestações de 13 de setembro em Gibara, tiveram seu estopim nos prolongados apagões e na falta de água na comunidade de El Güirito.
Segundo o Observatório Cubano de Direitos Humanos, pelo menos 27 pessoas foram detidas após a manifestação, das quais quatro continuam encarceradas e o restante permanece sob estrita vigilância.
Todo isso apesar de que as autoridades afirmaram que haviam mantido um “franco e honesto intercâmbio” com um grupo de moradores do bairro El Güirito desenvolvido “com muito respeito e em um ambiente de diálogo e tranquilidade” para explicar as causas da crise energética.
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