Los Van Van gravam videoclipe no bairro de San Isidro e Luis Manuel Otero Alcántara assiste de dentro da prisão

O ativista agradeceu o gesto do diretor do videoclipe por mostrar San Isidro e seu povo, e enviou uma mensagem aos Los Van Van, cujo vídeo captou a essência do bairro que marcou sua vida e sua obra.

San Isidro no videoclipe de Los Van Van e Luis Manuel OteroFoto © Captura de vídeo YouTube / Los Van Van - Facebook / Luis Manuel Otero Alcántara

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Desde sua cela na prisão de máxima segurança de Guanajay, em Artemisa, o artista e ativista cubano Luis Manuel Otero Alcántara viu recentemente, através do programa televisivo Los Lucas, o videoclipe 'Ven, dame un abrazo', de Los Van Van, lançado no dia 2 de agosto passado.

A surpresa chegou quando reconheceu uma das locações do vídeo: o bairro de San Isidro, especificamente a sua própria quadra e os arredores da sede do Movimiento San Isidro (MSI), coletivo que fundou em 2018 e que transformou este canto de Havana Vieja em um símbolo de resistência cultural e política contra o regime totalitário cubano.

Captura de tela Facebook / Luis Manuel Otero Alcántara

Em conversa telefônica com a activista Yanelys Núñez Leyva, Otero Alcántara relatou que, segundo uma entrevista que teria dado o realizador do clipe, Alejandro Varela, a filmagem foi difícil. E isso não o surpreendeu: “Tudo que se faz em San Isidro é profundamente vigiado, como se quisessem apagar a história que lá se gestou”, comentou.

No vídeo, ele reconheceu vários de seus vizinhos, os mesmos que durante anos o acompanharam em ações artísticas e comunitárias, o protegeram das detenções, ofereceram-lhe comida e participaram de performances e atividades contra a censura.

Esse vínculo estreito entre o artista e seu bairro foi fundamental na construção do MSI, um projeto que, através das artes plásticas, da música e da poesia, desafiou abertamente o Decreto 349 e a repressão estatal, e que custou anos de prisão ao artista e ao rapper contestatório e ganhador de dois Latin Grammy pela música ‘Patria y Vida’, Maykel “Osorbo” Castillo.

As atividades do MSI —greves de fome, exposições, debates e concertos— foram reprimidas com operações policiais, cortes de internet e prisões. O episódio mais lembrado ocorreu em novembro de 2020, quando a sede do movimento foi violentamente invadida, um fato que provocou protestos nacionais e condenação internacional.

Desde a prisão, Otero Alcántara pediu que se agradecesse publicamente o gesto de Varela por mostrar San Isidro e sua gente. Também enviou uma mensagem a Los Van Van, cujo vídeo captou a essência do bairro que marcou sua vida e sua obra.

“San Isidro não é apenas um lugar, é uma memória viva de resistência”, expressou o jovem da prisão onde permanece desde as massivas protestas de 11 de julho de 2021 (11J).

Condenações e condições de prisão dos líderes do MSI

No dia 11 de julho de 2021, durante os protestos antigovernamentais que abalaram a ilha, Luis Manuel Otero Alcántara foi preso em Havana enquanto tentava se juntar às manifestações.

Meses antes, em maio daquele ano, as autoridades também haviam detido o rapper e membro do MSI Maykel “Osorbo” Castillo, no meio de uma onda repressiva contra artistas e ativistas independentes.

Em junho de 2022, Otero Alcántara foi condenado a cinco anos de prisão por “ultraje aos símbolos patrióticos”, “desacato” e “desordens públicas”. No mesmo processo judicial, Osorbo recebeu uma condenação de nove anos de prisão por “desacato”, “atentado” e “desordens públicas”.

Ambos denunciaram condições desumanas: isolamento prolongado, ameaças constantes, doenças sem atendimento médico adequado, agressões, violência física e tortura psicológica.

Assim, recorreram a múltiplas greves de fome como forma de protesto, o que deteriorou gravemente sua saúde. Organizações como a Anistia Internacional e Human Rights Watch os consideram prisioneiros de consciência e exigem sua liberação imediata.

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