A subdiretora geral da Direção dos Estados Unidos, do Ministério das Relações Exteriores de Cuba, Johana Tablada, uniu-se nesta terça-feira ao coro oficial que rejeita as polêmicas declarações da ministra do Trabalho, Marta Elena Feitó, sobre a suposta existência de “mendigos disfarçados” na nação.
Através de uma extensa mensagem publicada em seu perfil no Facebook, Tablada afirmou estar “indignada desde ontem, como a grande maioria dos cubanos”, diante do que classificou como “declarações insensíveis, inaceitáveis e repudiadas” por parte de uma “alta funcionária” do país, em clara alusão a Feitó.

“Não tenho dúvida de que em algum momento ela tenha feito um bom trabalho, mas seu erro é muito grave e nos machuca a todos”, escreveu a diplomata.
Além disso, expressou seu desejo de que outra pessoa assuma a direção do Ministério do Trabalho e Segurança Social, ao considerar que se trata de uma responsabilidade “sensível” que “merece o melhor”.
A funcionária do MINREX também elogiou a reação do governante cubano Miguel Díaz-Canel, que dias antes se desvinculou do escândalo e declarou que “não se pode criminalizar a pobreza”.
Para Tablada, essa resposta foi “rápida e adequada” e reafirmou que o mandatário “se coloca, como tantas vezes, do lado de seu povo, do lado da Revolução”.
No entanto, em sua publicação, a diplomata misturou o repúdio a Feitó com um ataque frontal à oposição cubana, ao exílio e à política dos Estados Unidos, afirmando que não aceita críticas de quem —em sua opinião— apoia o “bloqueio” ou permanece em silêncio diante de abusos em outras partes do mundo.
“Que ternura a dos mil por hora de quem fazem um post a cada 10 minutos fingindo se importar com a pobreza em Cuba, mas não falam nem criticam as barbaridades de lá por hipocrisia, medo ou cumplicidade”, escreveu em tom sarcástico.
Tablada defendeu o regime daqueles que “criam dificuldades em Cuba para depois criticá-la” e atacou figuras do exílio como Marco Rubio, María Elvira Salazar, Carlos Giménez e Ted Cruz, a quem chamou de “mequetrefes do mesmo pelaje artificial e fétido”.
A reação de Tablada se junta à onda de rejeições públicas geradas pela afirmação da ministra Feitó, que durante uma intervenção parlamentar sugeriu que algumas pessoas que pedem esmola ou reviram o lixo poderiam estar "disfarçadas" para evitar trabalhar.
O revuelo não só alcançou as redes sociais, onde jornalistas, artistas e cidadãos têm publicado fotos e testemunhos da crescente indigência em Cuba, mas também provocou um dano de imagem dentro do próprio aparato estatal, a ponto de altos funcionários, como Díaz-Canel e o primeiro-ministro Manuel Marrero, se verem obrigados a se pronunciar em tom corretivo.
Em vez de reconhecer o aumento da pobreza e da indigência como uma consequência da profunda crise econômica que o país enfrenta, vários porta-vozes do regime optaram por instrumentalizar politicamente o escândalo, direcionando o discurso contra aqueles que criticam do exterior ou da oposição, sem abordar com seriedade a raiz do problema.
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