Uma casal, dois embaixadores: Assim o regime premia Johana Tablada e Eugenio Martínez

Tablada de la Torre e Martínez Enríquez, um casal com histórico diplomático a serviço do regime cubano, liderará a embaixada no México. Esta nomeação reflete a centralização do poder nas mãos de leais à ditadura.

Johana Tablada de la Torre e Eugenio Martínez EnríquezFoto © Facebook / Johana Tablada

A funcionária do Ministério das Relações Exteriores de Cuba (MINREX), Johana Tablada de la Torre, foi nomeada embaixadora e segunda chefe de missão na embaixada cubana no México, onde atuará junto ao seu marido, Eugenio Martínez Enríquez, que ocupará o cargo de embaixador e chefe de missão perante o governo mexicano.

O anúncio foi feito pela própria Tablada de la Torre em suas redes sociais após uma cerimônia presidida pelo governante Miguel Díaz-Canel, na qual foi oficialmente condecorada e prestou juramento.

Captura de tela Facebook / Johana Tablada

“Foi meu juramento após a nomeação como embaixadora e segunda de missão em nosso próximo destino, ao lado de Eugenio Martínez como Embaixador e Chefe de Missão”, escreveu, expressando gratidão pela confiança recebida e reafirmando seu “compromisso com a Revolução e com nosso povo único”.

O ato também serviu para reconhecer outros funcionários do MINREX, como os embaixadores Carlos Zamora, Luis Mariano Fernández e Joel Concepción, assim como a funcionária Hilda Realin, que foram condecorados por suas missões recentes em contextos críticos como a Síria e o Haiti.

Um casal com carreira paralela na diplomacia cubana

O nomeação simultânea de um casal como embaixadores na mesma sede diplomática é uma anomalia dentro da prática diplomática internacional, onde normalmente se busca distribuir os funcionários separadamente, tanto para evitar conflitos de interesse quanto para garantir uma rotação equitativa de cargos.

De acordo com a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, assinada em 1961, só pode existir um chefe de missão diplomática acreditado por um Estado ante outro Estado.

O artigo 1(e) define o chefe de missão como “a pessoa encarregada pelo Estado acreditante de atuar com esse caráter perante o Estado receptor”, utilizando o singular de forma explícita. Por sua vez, o artigo 14 classifica os chefes de missão em três categorias — embaixadores, ministros e encarregados de negócios — mas não contempla a possibilidade de coexistirem múltiplos chefes de missão em uma mesma sede.

Na prática diplomática internacional, essa disposição implica que apenas um dos funcionários pode estar oficialmente acreditado como embaixador perante o país receptor. Nesse caso, é Martínez Enríquez quem possui essa condição perante o governo mexicano, enquanto Tablada de la Torre, apesar de ter o cargo interno de embaixadora, ocupa a função de segunda chefe de missão, equivalente funcionalmente a uma ministra conselheira dentro da embaixada.

Neste caso, entretanto, não se trata de uma coincidência isolada, mas sim de um padrão repetido na carreira diplomática de Tablada de la Torre e Martínez Enríquez . Ambos coincidiram entre 1996 e 2000 na Seção de Interesses de Cuba em Washington D.C., onde desempenharam funções diplomáticas de nível médio.

Anos mais tarde, entre 2013 e 2017, foram designados como embaixadores em Portugal (Tablada de la Torre) e Espanha (Martínez Enríquez), respectivamente, o que lhes permitiu estar fisicamente próximos, apesar de estarem designados a missões distintas.

Esses antecedentes permitem observar que, dentro da estrutura diplomática cubana —fortemente centralizada e controlada pelo Partido Comunista—, as designações nem sempre respondem a critérios técnicos ou institucionais convencionais, mas também incorporam elementos de confiança pessoal, lealdade ideológica e vínculos estreitos com o poder político.

México: Um destino chave para o regime

A embaixada cubana no México é uma das missões diplomáticas mais estratégicas do regime de Havana. Não apenas pelos profundos vínculos históricos e políticos entre os dois governos, mas também pelo papel que o México desempenha em questões migratórias, cooperação médica, comércio, operações financeiras e até mediação diplomática diante de terceiros países.

O contexto atual, marcado pelo aumento do êxodo cubano, a instabilidade regional e as negociações migratórias entre Havana, México e Washington, exige uma missão diplomática experiente e totalmente alinhada com a narrativa oficial do regime.

Desde essa perspectiva, a nomeação conjunta de Martínez Enríquez e Tablada de la Torre pode ser interpretada como uma jogada de confiança estratégica, além de suas implicações formais. Ambos têm trajetórias extensas, lealdades firmes ao sistema e experiência prévia em cenários complexos.

Dos perfis simbólicos do aparato diplomático cubano

Martínez Enríquez, até agora diretor-geral da América Latina e do Caribe no MINREX, tem sido uma das vozes mais visíveis da diplomacia oficial na região. Seu discurso tem sido marcado por um tom ideológico e pela defesa sistemática do sistema cubano perante organismos multilaterais.

Em 2018, respondeu com firmeza à OEA, classificando como “vulgar calúnia” as acusações de que cidadãos cubanos participavam de atos de repressão na Venezuela. Mais recentemente, em julho de 2025, questionou abertamente Washington, acusando os Estados Unidos de “pressionar o regime cubano de Havana e Miami” com políticas que buscam isolar a ilha no hemisfério.

Por sua vez, Tablada de la Torre tem protagonizado múltiplas declarações controversas desde seu cargo como subdiretora geral para os Estados Unidos. Nos últimos meses justificou a acumulação de lixo em Havana, minimizou a crise alimentar e reiterou ataques à oposição, ao exílio cubano e à política dos Estados Unidos.

Ambos representam o modelo de diplomacia oficialista do regime: fechado à autocrítica, agressivo em sua retórica internacional e profundamente alinhado ao discurso de resistência ideológica frente ao Ocidente.

Também qualificou de “vergonhosa” a política dos EUA em relação a Cuba e acusou seus diplomatas de tentar “dividir o povo cubano” por meio de contatos com a sociedade civil, durante uma visita oficial a Washington em 2025.

Em outra declaração, minimizou o impacto do êxodo migratório e culpou o “bloqueio e a manipulação midiática” da percepção internacional sobre a situação na ilha.

Assim, defendeu publicamente a recomendação do jejum intermitente como uma “opção saudável”, em pleno contexto de escassez alimentar, o que gerou críticas intensas tanto dentro quanto fora do país.

Consolidação do poder diplomático nas mãos de uma família

Mais além do simbolismo de par, a designação conjunta de Tablada e Martínez no México reforça uma dinâmica de concentração de poder dentro do corpo diplomático cubano, onde a confiança do Partido e a fidelidade ideológica pesam mais do que o mérito técnico.

Em um contexto de crise econômica, descontentamento popular e crescente pressão internacional, o regime parece apostar em figuras incondicionais que garantam o controle político em sedes chave.

A missão no México não será um simples deslocamento diplomático: será um centro de operações em meio a uma região chave para o futuro de Cuba.

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Equipe Editorial da CiberCuba

Uma equipe de jornalistas comprometidos em informar sobre a atualidade cubana e temas de interesse global. No CiberCuba, trabalhamos para oferecer notícias verídicas e análises críticas.

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