Indignação com a nova oferta da ETECSA para recarga internacional pelo Dia dos Pais

A nova promoção da ETECSA para o Dia dos Pais gera indignação pelos altos custos e condições restritivas. Os cubanos criticam a oferta como um chantagem emocional e uma demonstração de desigualdade.

Oficina da ETECSA em HavanaFoto © CiberCuba

Uma nova promoção de recarga internacional lançada pela ETECSA para celebrar o Dia dos Pais gerou uma onda de críticas entre cubanos dentro e fora do país, que acusam a empresa estatal de telecomunicações de manipular emocionalmente os emigrantes e excluir aqueles que não recebem remessas. O descontentamento explodiu nas redes sociais ao se conhecerem os preços e condições da oferta.

Oferta a preço de ouro

De 9 a 15 de junho, ETECSA oferece 25 GB para todas as redes e navegação ilimitada durante a madrugada por 35 dias. No entanto, para acessar esta “promoção”, os familiares no exterior devem pagar 65,99 USD por uma recarga de 1.500 CUP. O preço mínimo para qualquer recarga internacional durante este período é de 21,99 USD por apenas 500 CUP.

Captura do Facebook/ETECSA_Cuba Serviços Móveis

Para muitos cubanos, a equação não faz sentido. “Em Cuba, essa oferta custaria uns 5 mil CUP, que na conversão informal seriam uns 12,5 USD. Mas a ETECSA cobra 22 USD no exterior. Onde está o negócio?”, acrescentou um usuário.

Longe de gerar entusiasmo, a campanha foi recebida com indignação. Vários internautas apelaram diretamente para o boicote. “Que ninguém recarregue!”, “Essa oferta não serve”, “Não sejam cúmplices do abuso”. Outros exigiram o retorno de promoções anteriores mais acessíveis: “Onde está a de 6 mil fixa? Essa sim servia”.

A crítica mais forte recai sobre a desconexão entre a oferta e a realidade econômica da maioria. “Eu não posso pagar isso, é melhor pegar o dinheiro e comprar comida”, comentou uma pessoa.

Outro usuário foi mais direto: “A falta de vergonha é um sintoma claro da desesperação do regime por conseguir dólares. Digam quanto querem, levem tudo, mas deixem o povo VIVER!”

Os comentários também refletem o descontentamento de quem não tem ninguém para fazer recargas do exterior. “E para quem não tem ninguém lá fora? Nós não existimos?”, reclamou um internauta. “Chega de oferecer serviços em moeda estrangeira. Aqui se vive em pesos”, apontou outro cubano.

Captura de tela/ETECSA

A oferta não é vista apenas como abusiva, mas como um lembrete cruel das desigualdades que marcam o acesso à conectividade na ilha. A possibilidade de estar conectado depende do bolso de alguém que vive fora.

Com esta promoção, a ETECSA parece continuar apostando no modelo de arrecadação por meio da emigração, aproveitando datas sensíveis como o Dia dos Pais para mobilizar transferências. No entanto, a estratégia começa a mostrar sinais de esgotamento. Muitos cubanos já não veem essas promoções como uma ajuda, mas sim como um chantagem emocional disfarçada sob a etiqueta de "presente".

“Lembrem que girar o parafuso não significa que sempre haverá rosca”, alertou uma comentarista. E com o crescente descontentamento popular, tudo indica que essa rosca está cada vez mais desgastada.

A medida chega apenas dias depois que a presidente executiva da ETECSA, Tania Velázquez, reconheceu no pódcast oficialista “Desde a Presidência” que o rendimento médio por linha móvel em Cuba caiu de 133 dólares em 2018 para apenas 31 dólares em 2024.

A funcionária atribuiu essa queda ao “fraude” e ao “sequestro de recargas internacionais”, culpando indiretamente os próprios usuários por buscarem alternativas de recarga mais econômicas dentro do país.

A indignação não se limita ao mercado de recargas internacionais. No próprio país, os novos preços nacionais, conhecidos como o "tarifazo", geraram protestos públicos, inclusive em espaços tradicionalmente silenciados, como as universidades.

Os jovens denunciaram a ausência de transparência, a falta de consulta cidadã e a violação do direito à conectividade. Em sua manifestação, chegaram a exigir a renúncia do presidente nacional da Federação de Estudantes Universitários (FEU), Ricardo Rodríguez, por não defender com firmeza as demandas dos estudantes.

Arquivado em:

Equipe Editorial da CiberCuba

Uma equipe de jornalistas comprometidos em informar sobre a atualidade cubana e temas de interesse global. No CiberCuba, trabalhamos para oferecer notícias verídicas e análises críticas.