Todo mundo em Cuba sabe que quando o regime de Miguel Díaz-Canel quer mudar de estratégia, utiliza o verbo "ordenar". Isso aconteceu com a "Tarefa Ordenamento" , que deu o golpe final na economia cubana e agora quer tentar (novamente) com os meios de comunicação, especialmente com aqueles que escapam da órbita do Partido Comunista.
Para conseguir isso, esta quarta-feira, 28 de maio, entrou em vigor uma nova resolução (9/2025 do Instituto de Informação e Comunicação Social), que se apresenta como uma ferramenta para "ordenar" o funcionamento dos registros nacionais de publicações, incluindo um artigo (51.1) que contempla a "suspensão temporária ou cancelamentos" de sites e publicações seriadas, sem necessidade de notificação prévia nos casos em que se considere que violam "gravemente os princípios socialistas".
Mas isso não é tudo. O artigo 56 da resolução acrescenta que, uma vez determinada a suspensão ou cancelamento do registro do site ou da publicação, se algum conteúdo for gerido ou compartilhado por meio desse meio, seu titular pode ser sancionado "com medidas mais severas". Para que fique claro, se o conteúdo não se enquadrar nos "princípios socialistas" do Partido Comunista, o site é cancelado e, se após o cancelamento voltar a ser publicado, a pessoa responsável enfrentará "severas sanções".
Além disso, a resolução obriga os provedores de hospedagem (empresas que oferecem serviço de alojamento de sites) a trabalhar apenas com páginas que estejam oficialmente registradas, o que exclui do serviço os meios independentes.
Além disso, a nova normativa exige o controle das fontes de financiamento dos meios de comunicação, e isso, mais uma vez, é um ataque contra os veículos que escapam ao controle do Partido Comunista e de seu entorno midiático oficial.
Obviamente, este ponto não foi abordado pela informação do Canal Caribe, que apenas fez referência aos casos em que está previsto que as infrações sejam notificadas via digital a meios que incorram em "violações graves da ética e da moral", sempre que o regime considere que não trataram adequadamente o conteúdo dirigido a crianças, jovens, pessoas com deficiência e idosos.
Mas o ponto central do arroz com frango é exatamente o poder que esta resolução concede ao regime para cancelar, sem aviso prévio, sites e publicações periódicas que discordem dos "princípios socialistas". O Canal Caribe afirma que isso é feito para ter "uma sociedade mais justa e mais saudável", ignorando a possibilidade de que o objetivo seja controlar a narrativa em um momento especialmente delicado para o Governo, incapaz de reverter a grave crise econômica, política, migratória, demográfica, de saúde e saúde pública que o país enfrenta.
A entrada em vigor desta resolução 9 de 2025 coincide no tempo com o início das primeiras protestas cidadãs em Bayamo, Guantánamo e Cienfuegos, denunciando o descontentamento diante dos apagões e da fome que aflige os cubanos sem solução a curto prazo. O regime diz um dia que precisa de três anos para controlar os apagões e no dia seguinte promete menos cortes de luz em julho.
Caiu a cerveja no chão
Não é a primeira vez que o governante Díaz-Canel aprova uma normativa que restringe a liberdade de expressão. Ele já o fez em 2018 com o Decreto 349, que exigia autorização prévia para organizar espetáculos e exposições públicas e privadas e que levou Díaz-Canel, três anos depois, a reconhecer que se havia equivocado com seu planteamento. Mas também com o Decreto 370, conhecido como Lei Azote das publicações nas redes sociais.
No caso do 349, tratava-se de um instrumento de censura que pretendia deixar fora da cena cultural cubana qualquer manifestação artística que destoasse das consignas do Partido Comunista. De fato, poderia estar entre as causas do conflito que resultou em as protestas massivas de 11 de julho de 2021.
Neste caso, a reação internacional não se fez esperar e o Parlamento Europeu pediu, em junho de 2021, a revogação imediata de os Decretos 349 e 370 em Cuba e outras leis concebidas para limitar a liberdade de expressão.
El 370 nasceu em 2019 e foi lançado em 2020, com uma primeira multa à então colaboradora da CiberCuba Iliana Hernández. Em essência, a Lei Azote se concentrou em ativistas e jornalistas independentes. O problema é que as críticas agora vêm de todos os lados e o regime não consegue acompanhar as multas para aqueles que utilizam suas redes sociais para criticar a gestão de Díaz-Canel.
Os esforços para controlar os meios de comunicação e as redes sociais não cessaram. Em novembro de 2024, o aparato midiático do PCC chegou até a credenciar o primeiro grupo de inspetores de comunicação social, subordinados ao Instituto de Informação e Comunicação Social (IICS), com o objetivo de “controlar e fiscalizar” a informação que é divulgada na Ilha.
Depois veio a recomendação de apertar a regulamentação, sugerida por um comunista espanhol (Carlos González Penalva, um desconhecido no universo midiático da Espanha), mas apresentado no Canal Caribe como "especialista" em redes sociais, apesar de que até hoje ele tem apenas 566 seguidores no Instagram e 3.900 na rede social X, a anos-luz de distância de influenciadores cubanos como La Dura (3,1 milhões no Insta) ou de Magdiel Jorge Castro, jornalista da CiberCuba, com 81.100 seguidores no que antes era o Twitter.
Em um contexto de descrédito nacional da imprensa oficial, incapaz de conectar com o público, o vice-presidente da UPEC, Francisco Rodríguez Cruz, não teve outra ideia senão afirmar em março deste ano que o aparato narrativo estatal não responde a interesses políticos do Partido Comunista, mas sim "ao povo".
É nesse panorama que surge a Lei de Comunicação Social, aprovada há dois anos e que, como se espera, inclui mais restrições à liberdade de expressão em Cuba.
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