Díaz-Canel e a União Elétrica de Cuba prometem menos apagões em julho

A promessa de que todos os tempos futuros serão melhores se repete mais uma vez. Em 2024, o regime assegurou que haveria menos cortes de luz no verão, mas isso não ocorreu, e o ministro de Energia teve que reconhecer que fracassaram. Agora, retomam o discurso otimista após admitir que precisam de três anos para "recuperar o sistema elétrico nacional"


O Partido Comunista de Cuba continua prometendo desesperadamente que todo tempo futuro será melhor. O presidente Miguel Díaz-Canel fez isso novamente nesta quinta-feira, em um trecho de seu podcast, 'Desde la Presidencia', compartilhado na rede social X, onde, acompanhado pelo ministro de Energia e Minas, Vicente de la O Levy, e pelo diretor-geral da União Elétrica de Cuba, Alfredo López Valdés, afirmou que em julho haverá menos apagões do que em maio de 2025. O ponto de referência é um mês que não deu descanso aos cubanos e que, de fato, já deixou as primeiras protestas em Bayamo, Santiago de Cuba e Cienfuegos.

"Estamos trabalhando para que no próximo mês de julho haja menos apagões; para que a situação esteja muito melhor do que está neste momento. Em março, quando inauguramos apenas quatro parques (de placas solares), a geração fotovoltaica contribuía com 107 MW/hora. Agora a geração fotovoltaica está contribuindo com 1.437 megawatts/hora. Multiplica-se por mais de 10, mas em julho teremos mais de 500 MW instalados em parques fotovoltaicos", destacou Díaz-Canel em um resumo de seu podcast. Não esclareceu o número de lares que se beneficiarão dessa potência fotovoltaica instalada, nem por quanto tempo.

De qualquer forma, isso não significa que os apagões acabarão, esclareceu imediatamente o ministro de Energia. "Não podemos dizer nem garantir que chegaremos ao zero apagão", afirmou, jogando o relato otimista de Díaz-Canel no lixo.

Ainda assim, o ministro defende que não estamos diante de mais uma prova da incapacidade dos comunistas cubanos em reverter a situação econômica do país. Muito pelo contrário. "Isso é uma estratégia. Não é um programa para esperar, é um programa para que Cuba seja definitivamente sustentável, energeticamente. O partido (PCC), o Governo do país está consciente da gravidade do problema e não descansamos na busca por soluções, e estaremos sempre prontos para responder a quaisquer dúvidas que surgirem", acrescentou no resumo do podcast de Díaz-Canel, ignorando que, neste momento, o que se precisa são soluções de curto prazo.

O anúncio desse suposto alívio nos apagões que, segundo Díaz-Canel, será sentido em julho, chega após o regime confirmar que os cortes de luz continuarão neste verão devido aos mesmos motivos de sempre: o calor, a alta demanda, o deterioro das infraestruturas, a escassez de combustível importado e as térmicas paradas.

Lázaro Guerra Hernández, diretor geral de eletricidade do Ministério de Energia, explicou com números. Ele disse ao diário oficialista Trabajadores que a disponibilidade estimada para os próximos meses será de 1.935 MW, diante de uma demanda que, apesar da queda da população, pode atingir 3.500 MW. Isso resulta em um déficit de mais de 1.500 MW.

A promessa de menos apagões no verão não é nova em Cuba. Sem ir mais longe, no ano passado (2024) a União Elétrica previu uma melhoria na geração térmica de eletricidade no verão e calculou um aumento de cerca de 100 MW em relação ao mesmo período do ano anterior (2023). Agora, em 2025, prometem o mesmo, embora falem em gerar 500 MW a mais para abastecer uma população que eles situam em 9,7 milhões de pessoas, mas que estudos independentes reduzem para 8 milhões. Menos gente e mais apagões.

Os fatos desmentiram a UNE e em setembro de 2024 o ministro de Energia não teve outra escolha senão admitir que o prometido não foi cumprido e que a estratégia desenhada para aliviar a população havia falhado pela enésima vez devido à escassez de combustível, que neste ano tem aumentado.

Cuba vive uma situação limite, agravada pela escassez e pelo aumento dos preços dos alimentos e pelo colapso dos serviços públicos essenciais, como a saúde (mais de meio milhão de cubanos morreu entre 2020 e 2024); o transporte público (as guaguas cubanas registraram 46 milhões de usuários de janeiro a março de 2025) e a coleta de lixo (todos os dias se deixa de coletar o equivalente a três piscinas olímpicas). Nesse contexto, compreende-se a indignação geral após o anúncio do regime de que precisará de três anos para "recuperar" o sistema elétrico nacional.

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Tania Costa

(Havana, 1973) vive na Espanha. Ela dirigiu o jornal espanhol El Faro de Melilla e FaroTV Melilla. Foi chefe da edição de Murcia do 20 minutos e assessora de Comunicação da Vice-Presidência do Governo de Múrcia (Espanha).