Um criador de conteúdo em redes sociais desencadeou uma intensa polêmica ao afirmar que os cubanos que emigram e aceitam outra nacionalidade renunciam automaticamente a suas raízes e deixam de ser cubanos.
O youtuber cubano Deni, conhecido por seu blog pessoal Reflexões de Deni, divulgou através de um vídeo o que considera serem as condições que levam um cubano a querer deixar de ser cubano.
Desde o minuto em que você decide partir e viver em outro país, já renunciou às suas raízes. Desde que aceita outra nacionalidade, outro passaporte, e se sente bem viajando com ele, seus filhos sendo chamados de americanos, noruegueses ou suíços, você já não é cubano, afirmou o criador de conteúdos em sua mensagem.
Deni também afirmou que para a maioria dos cubanos no exílio, um dos dias mais importantes de suas vidas é quando adquirem a cidadania do país em que residem, especialmente aqueles que vivem em Miami.
Segundo ele, muitos preferem viajar com seu novo passaporte e deixam o cubano guardado, utilizando-o apenas quando é obrigatório para entrar na ilha.
Noventa e nove por cento dos cubanos que vivem fora gostariam de viajar para Cuba com seu passaporte estrangeiro porque se sentem mais protegidos, afirmou em sua declaração.
Suas palavras geraram divisões de opinião. Enquanto alguns apoiam sua posição e afirmam que a nacionalidade não é apenas um documento, mas sim um sentimento de pertencimento que se dilui com a emigração, outros consideram que a identidade cubana vai além de um passaporte e não se perde ao adquirir outra cidadania.
Entre os comentários mais destacados na publicação, alguns usuários compartilharam suas experiências e opiniões.
Uno de eles expressou sua determinação de não retornar à ilha até que ela seja livre: "Eu fui forçado a renunciar quando parti. Não voltarei mais até que Cuba seja livre. E agradeço a este país por abrir-me as portas. God bless America."
Também houve quem destacasse seu orgulho por suas raízes, independentemente da distância: "Cuba não é o governo, Cuba é dos cubanos, não de uma ditadura. Eles jamais vão me tirar o orgulho de ser cubano."
Alguns apontaram que a emigração não é uma escolha, mas sim uma necessidade: "Você nunca desistiu, foi obrigado a sair pela situação que vive em Cuba. Ah, e te digo, 100% desses cubanos, se pudessem voltar a uma Cuba livre, o fariam."
Enquanto isso, outros destacaram a dureza da realidade cubana: "Qualquer um que passe pelo que o cubano passa seria feliz em outro país."
Incluso pessoas de outras nacionalidades defenderam a ideia de que a identidade cubana vai além do governo ou da situação política: "Você será o único cubano que não ama sua cultura e suas raízes. É verdade que não ama a ditadura, mas esse é seu país, o que te coube."
Este debate se soma a uma conversa mais ampla sobre a diáspora cubana e a relação dos emigrados com seu país de origem. Enquanto isso, o vídeo continua gerando interações e consolidando posturas entre aqueles que se sentem identificados com suas palavras e aqueles que o criticam fortemente.
A legislação cubana
Em junho de 2024, o governo cubano apresentou um projeto de Lei sobre a Cidadania que estabelece os procedimentos para a renúncia e perda da cidadania cubana.
Según esta lei, aprovada no mês de julho, a renúncia só é aceita se realizada do exterior e o solicitante possuir outra nacionalidade, com o objetivo de evitar casos de apatridia. Além disso, são necessárias condições como ser maior de 18 anos, não ter dívidas com o Estado cubano, nem estar cumprindo uma sentença penal ou ser perseguido por um delito.
A lei também introduz o conceito de "Cidadania Eficaz", que obriga os cidadãos cubanos a utilizarem sua cidadania cubana para ingressar, permanecer, transitar e sair do território nacional, assim como para se identificarem em todos os atos jurídicos e políticos realizados em Cuba. Isso significa que, embora se adquira outra nacionalidade, a cubana não se perde automaticamente e deve prevalecer dentro do país.
É importante destacar que, embora a Constituição de 2019 reconheça a possibilidade de renunciar à cidadania cubana, a falta de uma Lei de Cidadania específica tem impedido o exercício deste direito de forma imediata. O projeto de Lei de Migração menciona esta possibilidade, mas é necessária uma legislação detalhada que estabeleça claramente os procedimentos e as autoridades competentes para a renúncia da cidadania cubana.
Estas regulamentações geraram debates sobre a identidade e os direitos dos cubanos que residem no exterior e adquirem outra nacionalidade. Enquanto alguns consideram que aceitar outra cidadania implica uma renúncia às raízes cubanas, outros argumentam que a identidade nacional vai além da documentação legal e que é possível manter um vínculo cultural e emocional com Cuba independentemente do status legal.
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