O regime cubano mente novamente na ONU sobre os direitos em suas prisões

Ativistas, jornalistas e familiares de presos denunciam um padrão sistemático de abusos, negligência médica e mortes evitáveis nas prisões cubanas, enquanto o regime tenta limpar sua imagem perante organismos internacionais como a ONU.

Asento de Cuba na ONUFoto © X/CUBAONU

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Enquanto centenas de presos políticos e comuns sofrem condições desumanas nas prisões da ilha, o regime cubano se orgulhou nesta sexta-feira na ONU de respeitar a dignidade humana em seus centros penitenciários.

Através de sua conta oficial na X (antes Twitter), a missão diplomática de Cuba nas Nações Unidas assegurou que o governo da ilha interveio no debate de alto nível por ocasião do 10º aniversário das Regras Nelson Mandela, princípios internacionais para o tratamento digno das pessoas privadas de liberdade, e que lá apresentou “suas boas práticas” em matéria de reintegração social, acesso à educação, ao trabalho, à cultura e ao respeito pela dignidade humana dos internos.

A afirmação gerou indignação imediata. O jornalista cubano José Raúl Gallego classificou a intervenção oficial como “uma falta de respeito absoluta e total”.

“E se não, que o digam os presos políticos, os familiares dos detidos ou qualquer pessoa que tenha passado por uma prisão em Cuba”, escreveu Gallego em seu perfil no Facebook.

Captura de Facebook/José Raúl Gallego

O comunicador denunciou que o regime viola de forma sistemática as Regras Mandela e que, em Cuba, as prisões não apenas não cumprem padrões mínimos de humanidade, mas muitas vezes se tornam elas próprias formas de tortura.

As chamadas Regras Nelson Mandela são o nome dado à versão atualizada das Regras Mínimas da Organização das Nações Unidas para o Tratamento de Reclusos, adotadas pela Assembleia Geral da ONU em 2015 em homenagem ao líder sul-africano que passou 27 anos preso por lutar contra o apartheid.

Estas regras não são legalmente vinculativas, mas representam um padrão ético internacional sobre como os detentos devem ser tratados: com dignidade, sem tortura nem discriminação, com acesso a cuidados médicos, educação, trabalho, visitas e defesa legal. Também estabelecem a obrigação de investigar qualquer denúncia de abuso ou morte na prisão.

Apesar de todas essas diretrizes e do discurso oficial, nos últimos anos, as prisões cubanas se tornaram cenários recorrentes de mortes sob custódia, torturas, desnutrição extrema e abandono médico.

Segundo relatos da ONG Cubalex, pelo menos 56 pessoas morreram sob custódia em Cuba entre janeiro de 2022 e janeiro de 2024, das quais 36 faleceram em prisões. As causas mais frequentes foram a negligência médica, a violência institucional e a falta de atendimento médico oportuno.

Solo em 2024, mais de 40 detentos perderam a vida em condições semelhantes, de acordo com o Observatório Cubano de Direitos Humanos.

Casos como o de Inoel Rodríguez, brutalmente espancado por vários guardas na prisão de Ariza (Cienfuegos), ou o de Jorge Luis Torres Vaillant, que morreu desnutrido e sem atendimento médico em Santiago de Cuba, revelam um padrão sistemático de abusos.

Também faleceram por tuberculose sem a devida atenção prisioneiros como Yankiel Justiz Despaigne em Melena del Sur, ou Frank Morales Cuesta em Boniato, onde os familiares denunciaram condições desumanas.

A morte de Manuel de Jesús Guillén Esplugas, preso político do 11J, acendeu ainda mais os alarmes, após ser reportada como um “suicídio” que sua família e organizações consideram um assassinato encoberto.

Estes fatos, documentados em múltiplas notas de CiberCuba, refletem uma crise estrutural no sistema carcerário cubano, em flagrante contradição com os padrões internacionais de direitos humanos, como as Regras Mandela.

Perguntas frequentes sobre as condições penitenciárias em Cuba e as Regras Nelson Mandela

O que são as Regras Nelson Mandela e como elas se relacionam com as prisões em Cuba?

As Regras Nelson Mandela são um conjunto de diretrizes internacionais adotadas pela ONU em 2015 para garantir um tratamento digno das pessoas privadas de liberdade. Em Cuba, foi denunciado que as prisões não cumprem com esses padrões, uma vez que são relatadas condições desumanas, torturas e falta de atendimento médico nas prisões, em clara violação de princípios como o respeito à dignidade humana e o acesso a serviços básicos.

Como o regime cubano tem respondido às críticas sobre o tratamento aos presos?

Em suas interveneções oficiais, como a recente na ONU, o regime cubano afirmou que respeita a dignidade humana em suas prisões e promove a reintegração social. No entanto, essas afirmações foram qualificadas como falsas por ativistas e organizações de direitos humanos, que denunciam um padrão sistemático de abusos e negligências no sistema penitenciário cubano.

Quantos presos políticos existem atualmente em Cuba?

Segundo informes de organizações como Prisoners Defenders, Cuba mantém presos mais de 1.150 prisioneiros políticos, muitos deles detidos por se manifestarem contra o governo. Este número inclui menores de idade e reflete a repressão contra aqueles que discordam do regime cubano.

Qual é a posição da União Europeia em relação aos direitos humanos em Cuba?

Embora a União Europeia mantenha um acordo de diálogo político com Cuba, tem sido criticada por não adotar uma postura mais firme em relação às violações de direitos humanos na ilha. Activistas pedem à Europa maior coerência na defesa dos valores democráticos, argumentando que o acordo não conseguiu melhorias significativas na situação dos direitos humanos em Cuba.

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Equipe Editorial da CiberCuba

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