"O bloqueio já não convence ninguém": cubanos explodem contra explicação da UNE após 'fim de semana crítico'



A UNE culpa o bloqueio; os cubanos respondem com indignação e desconfiança.

Apagão em Cuba (Imagem de referência feita com IA)Foto © CiberCuba

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Cubanos reagiram com indignação e cansaço diante das recentes publicações da União Eléctrica de Cuba (UNE) e do meio oficial , que reproduziu declarações da empresa estatal sobre o suposto caráter “crítico” do fim de semana e a responsabilidade do “bloqueio financeiro” nos apagões massivos que o país enfrenta.

As reações começaram no perfil de , onde foi compartilhada uma entrevista com Omar Ramírez Mendoza, subdiretor da UNE, e afirmava-se que “o sistema elétrico viveu um fim de semana crítico”. O uso do passado provocou uma onda de comentários sarcásticos e de raiva de usuários que ainda estavam sem eletricidade naquele momento.

Facebook / 

“Viveu? Ainda não acabou, continuamos sem energia desde sexta-feira”, escreveu um leitor. Outro comentou: “Não foi um fim de semana crítico, foi uma eternidade crítica”. Um terceiro ironizou: “Claro, vocês com ar-condicionado e o povo no calor. Assim qualquer um.”

Outras mensagens questionaram diretamente os meios de comunicação oficiais: “Cubadebate, sejam sérios. Se vão informar, que seja com respeito ao povo. Não estamos falando de política, estamos falando de fome, calor e escuridão.”

“Sem divisas não há luz”: a nova justificativa da UNE

Horas depois, a UNE publicou em sua página oficial no Facebook outro comunicado no qual atribuiu o colapso do sistema elétrico ao bloqueio financeiro dos Estados Unidos.

“O Sistema Elétrico Nacional padece um sintoma visível de uma causa financeira externa: o bloqueio que impede Cuba de gerir livremente os recursos monetários necessários para comprar combustível, peças de reposição e serviços técnicos”, dizia o texto, que insistia: “Sem divisas não há combustível, sem divisas não há manutenção, sem divisas não há modernização. Sem o fim do bloqueio financeiro, não haverá estabilidade energética permanente.”

Facebook / UNE

Essa publicação gerou ainda mais comentários. “O bloqueio já não convence ninguém”, escreveu um usuário. Outro respondeu: “Se o bloqueio existia também quando havia luz, por que agora não?”. Um internauta apontou: “Sempre a mesma história. E o dinheiro da Rússia, do Catar, da China? Onde está? Quem responde por isso?”.

“Falam de bloqueio, mas o verdadeiro bloqueio é o que vocês impõem à vida do povo”, escreveu outro. Um comentário entre os mais compartilhados dizia: “O problema não é o bloqueio, é a desvergonha. Não têm vergonha de sair para repetir o mesmo quando o povo está no escuro e passando fome.”

“Viveu um fim de semana crítico”… e o país continua às escuras

Muitos cubanos também zombaram da frase usada pela UNE em seu primeiro comunicado: “viveu um fim de semana crítico”. “Isso soa como se já tivesse passado, e aqui seguimos sem energia”, escreveu uma pessoa. Outra mensagem dizia: “‘Viveu’... será vocês, porque o povo ainda está vivenciando o apagão”.

Alguns lembraram dos relatos de províncias inteiras com mais de 40 horas sem eletricidade: “Que fim de semana? Se isso nunca termina”.

Cansaço e reclamações de transparência

Entre os comentários, repetem-se os pedidos por responsabilidade e transparência. “Dizem em que se gastam os dólares que entram pelas lojas MLC e ETECSA”, pedia um usuário. Outro foi mais direto: “Não é o bloqueio, é o desvio. O que está bloqueado é o cérebro dos que dirigem”.

Vários cubanos também apontaram para o contraste entre a vida dos funcionários e a do povo: “Eles em escritórios com ar-condicionado, e nós dormindo no chão por causa do calor. Assim, qualquer um suporta os apagões.”

Protestos e desespero

O descontentamento nas redes coincidiu com novas protestas noturnas em vários pontos do país, especialmente em Marianao, onde moradores saíram às ruas batendo panelas e acendendo fogueiras. Vídeos publicados pelo rapper El Funky mostraram dezenas de pessoas exigindo a restauração da eletricidade. “O povo de Marianao sabe o que fazer quando lhe cortam a luz”, escreveu o artista.

Também foram registrados cacerolazos em Regla, La Lisa, Alamar e na Universidade de Camagüey. O apagão de segunda-feira foi o mais grave do ano, afetando 62% do país e com um déficit superior a 2.000 MW, segundo dados oficiais, que confirmaram o maior nível de afetacão nacional registrado em 2025.

“O bloqueio mais forte é o interno.”

Os comentários mais compartilhados resumiram o sentimento geral dos cubanos: incredulidade, zombaria e cansaço. “Já nem vergonha eles têm”, escreveu uma pessoa. “O bloqueio mais forte é o interno”, dizia outra mensagem. Um usuário concluiu: “Se o bloqueio é o problema, então nunca haverá luz, porque eles não vão retirar. Essa é a solução? Viver em apagão eterno.”

Enquanto a UNE culpa o bloqueio e os meios de comunicação oficiais repetem o mesmo discurso, os cubanos respondem na escuridão, com velas, panelas e palavras que iluminam seu descontentamento.

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