De minimizar a sujeira a varrê-la: Johana Tablada se junta à limpeza de lixo em Havana

Johana Tablada participa na limpeza de Havana, após minimizar o problema do lixo semanas atrás. A crise higiênica persiste, com microdepósitos e resíduos acumulados. A resposta oficial aponta indisciplinas sociais.

A funcionária que disse que em Cuba “não há tanta sujeira” agora limpa algumas ruas da capitalFoto © Facebook/Yoani Sánchez e Yohana Tablada

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A subdiretora-geral para os Estados Unidos do Ministério das Relações Exteriores (Minrex), Johana Tablada, participou hoje de um trabalho voluntário de limpeza em Havana, onde compartilhou fotos e reflexões sobre o dia.

O gesto, apresentado como uma demonstração de compromisso cívico, contrasta com suas próprias declarações de agosto passado, quando minimizou publicamente o problema do lixo em Cuba.

“Hoje, muitos colegas e colegas do Ministério das Relações Exteriores se uniram ao trabalho voluntário em atividades de limpeza de áreas da cidade... fico muito feliz por ter me sentido útil”, escreveu Tablada em seu perfil no Facebook, onde descreveu como funcionários do Minrex limparam parte da avenida 31, no município de Playa, em Havana.

Captura do Facebook/Johana Tablada

Em sua publicação, reconheceu que em seu próprio bairro há “um grande lixão na esquina há meses” e que o caminhão coletor “não passa com a frequência necessária”, o que impede os vizinhos de manter a limpeza.

O contraste é marcante: em agosto, durante uma entrevista no videopodcast Alma Plus, a diplomata minimizou a acumulação de resíduos, assegurando que “Cuba não é o país com mais lixo no mundo”.

Nesse momento, culpou os meios de comunicação independentes e as políticas dos Estados Unidos pela “demonização” do assunto.

Fotos: Facebook de Johana Tablada

É verdade que há lixo nas ruas, mas não somos a única cidade com problemas de higiene, afirmou então.

Sua participação recente na limpeza ocorre em meio a uma crise higienico-ambiental que afeta toda Havana, onde se acumulam microlixões, resíduos não recolhidos e fossas transbordando em diversos bairros.

Apesar das repetidas denúncias da população, as autoridades insistem que a situação se deve mais a "indisciplinas sociais" do que a falhas estruturais no sistema de saneamento.

A publicação de Tablada -com fotos do “antes e depois” de uma esquina particularmente suja- provocou reações mistas: alguns aplaudiram a iniciativa, enquanto outros lembraram da necessidade de que agora, nos restantes dias em que não há trabalho voluntário, a Empresa de Comunais desempenhe seu papel.

A esse respeito, a própria Tablada ressaltou: “exatamente, e isso é o que mais está falhando além das boas maneiras de pessoas que jogam o lixo em qualquer lugar”.

Em qualquer caso, a funcionária parece ter passado de justificar o lixo a tentar consertar com a vassoura o que não se conseguiu com o discurso.

O governante Miguel Díaz-Canel presidiu na véspera um encontro de emergência com altos comandos do Partido Comunista e das Forças Armadas, onde se discutiu a crise energética, o acúmulo de lixo e o abastecimento de água, fatores que provocaram a indignação popular.

A esse respeito, as autoridades decretaram neste sábado uma “jornada de saneamento” e mobilizaram recrutas, policiais e trabalhadores estatais, com o objetivo de limpar uma capital sufocada pelos lixos.

Recentemente, o ministro da Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (Citma), Armando Rodríguez Batista, reconheceu publicamente a gravidade do colapso sanitário na capital ao admitir que “esse lixo não está contido: está espalhado por toda Havana”.

A esse respeito, a jornalista oficialista Ana Teresa Badía foi enfática ao afirmar que “Havana cheira a lixo”, através de um post em sua conta de Facebook, no qual criticou o acúmulo de toneladas de resíduos nas ruas e esquinas sem a coleta oportuna.

Em sua breve reflexão, Badía opinou que “há uma indolência institucional galopante. Não culpemos apenas o bloqueio, há coisas como a empatia, o trabalho, o respeito pelos cidadãos que não dependem de nenhum bloqueio”.

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