Jovem em Cuba chora a morte do pai na guerra da Ucrânia

A morte de Giovani Gómez Basulto na guerra da Ucrânia destaca o drama de cubanos recrutados sob enganos, presos entre a pobreza e promessas salariais na Rússia, deixando famílias desoladas.

Giovani Gómez BasultoFoto © Facebook / Rey Michel Gomez Rivero

“Papi, eu sei que você está me vendo desse céu tão imenso e distante… eu te amo, papai.” Com essas palavras, um jovem cubano se despediu nas redes sociais de seu pai, Giovani Gómez Basulto, conhecido como “el Chino”, que faleceu após se alistar no exército russo para lutar na guerra da Ucrânia.

A mensagem, carregada de dor e ternura, revela o vazio que a guerra deixa em famílias cubanas que nunca imaginaram se despedir de seus entes queridos em um front tão distante.

“Tomara que algum dia eu possa me tornar o homem que você foi... Estou com saudades, meu velho”, escreveu o rapaz em um post acompanhado por um vídeo com fotos de seu pai vestido com uniforme militar.

Captura do Facebook/Rey Michel Gómez Rivero

Gómez Basulto, como outros compatriotas, uniu-se às fileiras russas seduzido por promessas de altos salários e benefícios migratórios. Nas trincheiras, no entanto, encontrou a morte e deixou para trás um filho que agora o recorda como “seu anjo da guarda”.

Fontes próximas à família confirmaram à CiberCuba que Giovani estava entre os cubanos que viajaram para a Rússia para se alistar como soldados contratados, um fenômeno que tem crescido com força desde 2023.

Jovens enganados e famílias desesperadas

A tragédia desta família se soma à de dezenas de cubanos que denunciaram ter sido recrutados sob falsos pretextos. Em agosto de 2023, os adolescentes Alex Rolando Vega Díaz e Andorf Antonio Velázquez García, ambos de 19 anos, gravaram um vídeo a partir de uma base militar russa denunciando que foram levados com promessas enganosas de emprego na construção e acabaram nas trincheiras ucranianas.

“Tudo foi uma fraude. Não temos documentos, não fomos pagos. Estamos com medo”, confessaram, revelando torturas e abusos. Seus testemunhos quebraram o silêncio e expuseram um padrão que depois seria confirmado por vazamentos da inteligência ucraniana, revelando que existem mais de 1.000 cubanos identificados como mercenários, alguns deles menores de 20 anos e outros maiores de 50.

Familias como a de Michael Duro, que busca seu irmão desaparecido na guerra há um ano, descrevem um panorama desolador, onde é desconhecido o paradeiro de mais de 600 cubanos, muitos deles presos em um limbo entre a vida e a morte.

O silêncio e as contradições do governo cubano

Apesar da magnitude do drama, o regime de Havana respondeu com ambiguidade. O Ministério das Relações Exteriores negou vínculos com o envio de cidadãos para a guerra, embora tenha reconhecido a existência de redes de recrutamento.

O vice-canceler Carlos Fernández de Cossío insistiu que se tratava de “redes na Europa” e .

No entanto, investigações jornalísticas e declarações de oficiais russos revelam que muitos cubanos viajaram diretamente da ilha, assinaram contratos com o Ministério da Defesa da Rússia e foram enviados para a linha de frente. “Lá só havia cubanos e sérvios”, confessou um militar ao Moscow Times.

Enquanto isso, mães cubanas imploram por notícias, irmãos escrevem cartas a governos estrangeiros e os filhos, como o de Giovani Gómez Basulto, choram nas redes sociais pela perda daqueles que partiram em busca de uma saída para a crise da ilha e acabaram como carne de canhão em uma guerra alheia.

Entre a miséria e a guerra

O caso de "el Chino" reflete o drama de uma geração presa entre a pobreza em Cuba e a promessa de um salário na Rússia. Sem futuro na ilha e sem opções de emigrar legalmente, muitos aceitam contratos que não compreendem, redigidos em russo, e acabam enfrentando o horror da guerra.

Para o seu filho, que agora o lembra com lágrimas e palavras de amor, o custo é irreparável: “Nunca me esqueças, papai, que o mundo pode te esquecer, mas o seu filho nunca vai fazer isso pelo resto da vida”.

Perguntas frequentes sobre o recrutamento de cubanos para a guerra na Ucrânia

Por que estão recrutando cubanos para a guerra na Ucrânia?

O recrutamento de cubanos para a guerra na Ucrânia aumentou devido a promessas enganosas de salários altos e benefícios migratórios. Muitos cubanos foram atraídos pela promessa de empregos bem remunerados na Rússia, apenas para descobrir que foram recrutados para combater no conflito bélico. Este fenômeno foi facilitado pela crise econômica em Cuba, que deixa muitos sem opções viáveis de sustento.

Como o governo cubano tem respondido ao recrutamento de seus cidadãos?

O governo cubano tem mantido uma postura ambígua, negando qualquer responsabilidade direta no recrutamento de seus cidadãos. O regime afirmou que se trata de redes de recrutamento na Europa e garantiu que suas leis proíbem a participação em conflitos estrangeiros. No entanto, as evidências sugerem que houve uma falta de ação clara e efetiva para deter esse fenômeno, o que gerou críticas tanto dentro quanto fora da ilha.

Qual é o papel da Rússia no recrutamento de cubanos para a guerra?

A Rússia tem recrutado ativamente cidadãos cubanos como parte de sua estratégia para reforçar suas tropas na guerra contra a Ucrânia. Este recrutamento é feito por meio de promessas de emprego e benefícios que muitas vezes acabam sendo enganosos. Além disso, existem indícios de que o governo russo tem mantido conversas com as autoridades cubanas sobre a presença de cubanos em seu exército, o que sugere uma certa cumplicidade ou, pelo menos, conhecimento da situação.

Quais foram as consequências desse recrutamento para as famílias cubanas?

O recrutamento de cubanos para a guerra na Ucrânia deixou muitas famílias em Cuba em uma situação de desespero e angústia. Com mais de 600 cubanos desaparecidos e outros falecidos no conflito, as famílias enfrentam a incerteza sobre o paradeiro de seus entes queridos. Muitas denunciam enganos e falta de resposta tanto das autoridades cubanas quanto das russas, o que agrava a dor e o sentimento de impotência.

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