Al menos onze cidadãos cubanos com vínculos com as Forças Armadas Revolucionárias (FAR) estão detidos na província de Matanzas, sob investigação por suposto delito de mercenarismo.
A acusação se baseia no fato de que foram recrutados para lutar na guerra da Rússia contra a Ucrânia, segundo reportou o meio independente 14ymedio.
Os implicados teriam sido capturados por um oficial cubano conhecido como "El Maestro", que - segundo a fonte mencionada - coordenava a logística de viagens, passagens e trâmites para, de forma informal, integrar uma rede de recrutamento destinada a enviar combatentes cubanos para a linha de frente da guerra na Ucrânia.
Nacionalidade russa e milhares de dólares como incentivo
De acordo com testemunhos recolhidos pelo referido meio, aos supostos mercenários era prometida a cidadania russa e um pagamento inicial de 2.000 dólares, como parte de um acordo informal com supostos contatos do Kremlin.
Embora não tenham sido revelados contratos oficiais, os relatos indicam um esquema estruturado de recrutamento militar.
Os detidos tinham em comum algum grau de formação ou experiência na área militar ou de segurança do Estado.
Um deles, chamado "Amaury", ex-funcionário do Ministério do Interior (MININT) e com treinamento como franco-atirador, trabalhava como motorista em unidades das FAR.
Outro implicado, conhecido como "Tasé" e procedente de Baracoa, se identificava como integrante de uma equipe de artes marciais mistas e alegou que viajava para a Rússia por um suposto “intercâmbio cultural”.
O caso Eduardo e as prisões de Matanzas
La trama salió parcialmente a la luz tras el testimonio de "Eduardo", un cubano que estuvo encarcelado durante un año y cuatro meses en el Combinado do Sul, una prisión de máxima seguridad en Matanzas.
Eduardo teria sido preso por ter comprado uma passagem para a Rússia no mesmo voo que os onze agora investigados.
Embora tenha negado conhecê-los, acabou compartilhando cela com três deles. Eduardo foi liberado no dia 12 de maio passado.
Os arrestos, conforme detalha 14ymedio, são tratados com total hermetismo, sem declarações públicas do regime cubano nem processos judiciais transparentes.
O suposto recrutador, "El Maestro", continua sob custódia, embora esteja separado dos demais acusados. No seu caso, está na prisão de Canaleta, em Jovellanos, Matanzas.
Esta separação alimentou a teoria de que seu isolamento responde a uma estratégia de controle: "evitar vazamentos entre os processados ou preservar hierarquias dentro do sistema prisional".
Segundo um dos detidos no Combinado do Sul, existe a suspeita de que El Maestro foi sacrificado como bode expiatório para acalmar as águas e desmentir qualquer participação do Estado quando eclodiu o escândalo dos cubanos enviados à guerra.
Também se considera a hipótese de que o recrutador tenha agido por conta própria.
O mercenarismo, delito grave em Cuba
No ordenamento penal cubano, o mercenarismo é considerado um crime de extrema gravidade, punido com penas de até 30 anos de privação de liberdade.
A acusação implica servir a um exército estrangeiro em troca de benefícios econômicos ou políticos.
Embora as autoridades da ilha tenham tentado se desvincular do envio de cubanos para o conflito armado, os fatos recentes e os testemunhos acumulados revelam a existência de redes ativas de recrutamento, que podem estar operando com o conhecimento — ou ao menos permissão — do regime.
Enquanto o governo cubano continua negando oficialmente qualquer participação no conflito, diversos testemunhos e vazamentos confirmaram, nos últimos dois anos, a presença de cidadãos cubanos na frente russa.
Muitos deles são jovens sem futuro econômico na ilha, seduzidos por ofertas de trabalho ou legalização na Rússia.
Uno dos casos mais dramáticos é o de Francisco García, cubano de 37 anos, que foi enganado com a promessa de trabalhar na reparação de edifícios na Rússia.
Terminou como combatente na frente. Desertou em outubro de 2024 e atualmente vive nas ruas de Atenas, Grécia, após pagar quase 13.000 dólares a um traficante para fugir do conflito.
Nos últimos meses, diversos relatos sobre cubanos falecidos na linha de frente vieram à tona.
O caso mais recente foi a morte de Osvaldo David Rodríguez Donate, jovem cubano natural do município de Fomento, na província de Sancti Spíritus, que perdeu a vida em um ataque com drones na Ucrânia, após ter sido recrutado pelo exército russo.
O governo cubano se isenta de responsabilidade
O governo cubano assegura que não tem responsabilidade no recrutamento de cidadãos cubanos para participar como mercenários na guerra entre a Rússia e a Ucrânia, apesar das denúncias e testemunhos que abalam famílias dentro e fora da ilha.
Em uma entrevista com o programa americano Democracy Now!, o vice-ministro cubano Carlos Fernández de Cossío afirmou recentemente que Havana "tornou público e denunciou" o fenômeno de cubanos recrutados como soldados nesse conflito bélico.
Fernández de Cossío assegurou que foram identificados cidadãos cubanos lutando em ambos os lados do conflito: “Foram detectados cubanos do lado da Rússia e foram detectados cubanos do lado da Ucrânia”.
Segundo o vice-ministro das Relações Exteriores, foram redes de recrutamento na Europa que atraíram cidadãos de vários países, incluindo cubanos, para enviá-los à linha de frente.
"Nossas leis proíbem que um cidadão sob nossa jurisdição se preste a participar nas guerras de outros países. É algo que é punido pela lei em Cuba”, sentenciou.
No entanto, múltiplas investigações e depoimentos de cubanos envolvidos no conflito retratam um panorama muito diferente.
Um relatório do meio ucraniano Schemes revelou a presença de vários centenas de cubanos lutando para o exército russo, muitos dos quais integrados à 106ª Divisão Aerotransportada, ativa em algumas das batalhas mais sangrentas da guerra, como a de Bakhmut.
Inclusos, foram identificados combatentes cubanos com insígnias do grupo Wagner, promovendo propaganda bélica nas redes sociais.
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