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A produção de leite na província de Camagüey continua em queda livre e tudo indica que 2025 terminará com um déficit de mais de um milhão de litros em relação ao plano anual e também em comparação com 2024, um ano que já havia registrado números muito abaixo do esperado, confirmaram autoridades do setor.
René Mola Valera, chefe do departamento de acopio da Empresa Láctea, reconheceu que a situação é crítica, especialmente na zona norte da província, onde a seca deixou os pastos sem comida para os animais, afetando diretamente a capacidade produtiva das fazendas de gado leiteiro.
A isso somam-se velhos problemas que nunca são resolvidos: o furto e sacrifício ilegal de gado maior, o abastecimento insuficiente de água e uma perda generalizada da cultura pecuária, informou o jornal provincial Adelante.
Pero, além das desculpas, os números falam por si só: dos 8.023 produtores contratados para entregar leite, 3.674 não estão cumprindo com os planos acordados, o que equivale a 45,8% do total.
Mais alarmante ainda é que, desse grupo, 1.049 não entregaram nem um único litro de leite nem uma libra de queijo, informou.
A pergunta que paira no ar é inevitável e foi feita sem rodeios pelo próprio Mola: onde vai parar esse leite que não entra no sistema?
Nem o Estado, nem as empresas do setor, nem os órgãos responsáveis oferecem uma explicação clara, enquanto a população lida com uma escassez cada vez mais aguda de produtos lácteos.
Enquanto o programa de leite está em colapso, as causas profundas continuam sem serem abordadas com seriedade.
O modelo pecuário se erosiona, o controle é fraco e a falta de incentivos desmotiva os produtores, em uma província que um dia foi considerada a principal bacia leiteira de Cuba. Hoje, Camagüey já não tem nem leite.
Semanas atrás, o jornal oficial Granma reconheceu que Camagüey viu sua produção anual de alimentos despencar para menos da metade dos 92 milhões de litros alcançados em 2019.
Em 2024, foram coletados apenas 41,1 milhões de litros de leite. Em nove municípios da província, as crianças recebem apenas meio litro por dia, ou um litro a cada dois dias. Se a tendência não mudar, daqui a três anos o leite chegará apenas a cada três dias, mesmo em áreas-chave da chamada bacia leiteira.
Llama a atenção que o sistema pecuário na província central perde milhares de animais devido a mortes, sacrifícios ilegais e má gestão. Apenas em 2024, foram registradas quase 58,963 mortes e 7,143 sacrifícios clandestinos.
“El ano passado, entre furtos, sacrifícios e mortes por outras razões, perderam-se as vacas equivalentes às de um município. Se essa tendência continuar, em aproximadamente 15 anos não haverá pecuária em Camagüey, e muito menos leite“, alertou o meio de comunicação.
Em um discurso como governante em 2007, o general do Exército Raúl Castro criticou o fato de que os cubanos só recebessem leite até os sete anos e afirmou que isso deveria mudar.
Em 2021 deixou o Conselho de Estado sem transformar essa triste realidade. Após 18 anos de sua promessa, o panorama continua sendo o mesmo e as famílias criam seus filhos sem este e outros alimentos.
Recentemente, tornou-se público que a estatal Río Zaza acumulou dívidas milionárias com produtores e provocou uma crise que afeta o fornecimento de leite para gestantes, crianças e pessoas com dietas médicas em Sancti Spíritus, uma das principais províncias fornecedoras do país.
Desde o final de 2023, a indústria leiteira em Cuba tem evidenciado sinais claros de colapso estrutural. Em novembro passado, o então ministro da Indústria Alimentar reconheceu que o país não dispunha de leite suficiente para abastecer toda a população, e que o objetivo era garantir “uma parte” aos grupos mais vulneráveis, uma admissão sem precedentes das limitações do estado em assegurar um produto considerado essencial.
Um mês depois, o governo anunciou que entregaria leite em pó apenas para crianças de zero a seis anos, excluindo gestantes e outros grupos tradicionalmente beneficiados. Essa medida gerou indignação e evidenciou o agravamento da falta de abastecimento.
A crise não se limitou à escassez do produto em si. Em Ciego de Ávila, a falta de leite em pó levou a substituí-lo por um “refrigerante vitaminado” na dieta infantil.
A inícios de junho, foi divulgada a prisão de cinco pessoas por roubo de 197 sacos de leite em pó para bebês da empresa En Frigo, em Havana do Leste.
Enquanto isso, no mercado negro, um quilograma de leite em pó pode custar até 2.000 pesos cubanos (quase um salário mínimo). Embora o produto esteja disponível em lojas em divisas (MLC), seu preço em dólares o torna proibitivo para a maioria das famílias cubanas, que dependem do deteriorado sistema de racionamento.
Perguntas frequentes sobre a crise do leite em Camagüey, Cuba
Qual é o déficit de produção de leite em Camagüey para o ano de 2025?
Camagüey enfrentará um déficit de mais de um milhão de litros de leite em relação ao plano anual de 2025. Esse número é alarmante considerando que o ano anterior também ficou abaixo das expectativas. A redução na produção se deve a fatores como a seca, o furto e sacrifício ilegal de gado, e a perda da cultura pecuária.
Quais são as principais causas da crise leiteira em Camagüey?
As principais causas da crise leiteira em Camagüey incluem a seca que afeta os pastos, o roubo e o abate ilegal de gado, e uma gestão inadequada do sistema pecuário. A falta de incentivos e a desordem no setor agravam a situação, afetando a produção e o abastecimento de leite para a população.
Como a crise do leite afeta a população de Camagüey?
A crise do leite afeta gravemente a população de Camagüey, especialmente os grupos mais vulneráveis, como crianças e pessoas em dietas médicas, que recebem quantidades insuficientes de leite. Em nove municípios, as crianças recebem apenas meio litro por dia ou um litro a cada dois dias, e teme-se que, em poucos anos, a distribuição seja ainda mais esporádica.
Que medidas estão sendo tomadas para resolver a crise do leite em Camagüey?
Apesar de reconhecer o problema, as autoridades não implementaram soluções eficazes para enfrentar a crise do leite em Camagüey. As promessas de melhorias e a construção de novos centros de refrigeração não resolveram o problema de fundo: um sistema pecuário desarticulado e falta de incentivos para os produtores.
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