Este é o plano do USCIS para determinar quem será considerado cidadão americano ao nascer e quem não

Embora a medida esteja suspensa por ordem judicial, as autoridades começaram a delinear como seria sua eventual implementação, caso a Justiça autorize sua execução.

Donald Trump (i) e Oficina de USCIS (d)Foto © Collage Flickr/Gage Skidmore - Instagram/USCIS

Vídeos relacionados:

O Serviço de Cidadania e Imigração (USCIS) já possui um plano operacional detalhado para implementar as novas restrições ao direito à cidadania por nascimento nos EUA, embora uma ordem judicial federal mantenha suspensa por enquanto a aplicação da medida.

O documento, datado de 25 de julho de 2025 - e citado pela imprensa local - estabelece como será interpretado, e quem poderá e quem não poderá ser considerado cidadão americano ao nascer, caso a Justiça finalmente valide a medida.

Este plano marca uma mudança profunda na política migratória do país e antecipa um cenário no qual centenas de milhares de crianças nascidas em território americano não receberiam automaticamente a cidadania, como tem sido a norma por mais de um século sob a Emenda 14 da Constituição.

As chaves do plano do USCIS

O plano do USCIS, divulgado publicamente mesmo com a ordem ainda bloqueada, baseia-se em dois conceitos fundamentais para excluir certos recém-nascidos do acesso automático à cidadania: a presença ilegal e a presença legal, mas temporária.

Ambas categorias determinam se os pais cumprem os requisitos exigidos para transmitir a cidadania aos seus filhos.

O que se entende por “presença ilegal”?

O USCIS adota a definição da Lei de Imigração e Nacionalidade (INA), segundo a qual uma pessoa está em situação de presença ilegal se:

-Continua nos Estados Unidos após o término do período autorizado pelo Procurador-Geral.

-Entrou sem admissão formal ou sem permissão especial de entrada (parole).

No entanto, esclarece que nem toda pessoa sem status migratório regular está automaticamente em situação ilegal.

Por exemplo, aqueles que entraram sob permissões humanitárias (parole) não têm um status legal formal, mas também não são considerados presentes ilegalmente.

O que significa "presença legal, mas temporária"?

Este conceito, ao contrário do anterior, não tem uma definição específica na lei migratória dos Estados Unidos, razão pela qual o USCIS formulou uma interpretação ad hoc.

Segundo o plano: “A presença legal, mas temporária, é aquela autorizada pelo governo, mas com duração limitada ou sujeita a renovação periódica.”

Dentro desta categoria, estão incluídos:

- Pessoas com vistos temporários de não imigrante (turismo, estudo, trabalho).

- Beneficiários do Estatus de Proteção Temporal (TPS).

-Participantes do Programa de Isenção de Visto.

- Pessoas com permissão humanitária.

Cidadãos da Micronésia, Ilhas Marshall e Palau sob acordos especiais.

- Beneficiários da Lei LIFE e da Lei de Unidade Familiar.

- Pessoas com ação diferida (como DACA) ou Saída Forçada Diferida (DED).

-Quem tiver recebido suspensão de deportação ou saída voluntária.

Por outro lado, são considerados como tendo uma presença mais permanente aqueles que possuem:

-Residência legal permanente (green card).

-Estatus de refugiado ou asilado.

Residência condicional.

-Nacionalidade americana não cidadã (como no caso de Samoa Americana).

-Cidadania indígena sob a seção 289 da INA.

O que acontecerá com os filhos de pais com status temporário?

Um dos elementos mais polêmicos do plano é o tratamento dos filhos nascidos nos EUA de pais com status migratório legal, mas não permanente.

De acordo com o texto:

“Se ambos progenitores estão em situação legal temporária e nenhum é cidadão ou residente permanente, a criança também não será considerada cidadã americana ao nascer.”

Isso inclui filhos de estudantes internacionais, trabalhadores com vistos temporários, turistas e outros casos semelhantes. De acordo com a interpretação do governo, essas crianças não receberão automaticamente a cidadania.

Que proteção terão essas crianças?

O USCIS reconhece que aplicar a ordem sem uma solução alternativa poderia deixar esses menores sem um status migratório válido, por isso propõe a criação de um sistema de registro semelhante ao utilizado para os filhos de diplomatas estrangeiros.

Este mecanismo permitiria que os recém-nascidos tivessem o mesmo status que um de seus pais, embora sem cidadania.

Até que este novo sistema seja implementado, o Departamento de Segurança Nacional (DHS) propôs que: “Se buscará adiar qualquer medida de aplicação migratória sobre essas crianças”, a fim de evitar sua deportação ou que permaneçam em um limbo legal.

De onde surge esta iniciativa?

A origem deste plano remonta ao dia 20 de janeiro de 2025, quando o presidente Donald Trump assinou a Ordem Executiva “Protegendo o significado e valor da cidadania americana”.

Esta diretiva busca restringir o alcance da cidadania automática por nascimento, alegando que nem todos os nascidos em solo americano estão "sujeitos à jurisdição" do país, como exige a Emenda 14.

A ordem especifica que não serão considerados cidadãos ao nascer os crianças que cumpram com pelo menos uma dessas duas condições:

-Que a sua mãe estivesse em situação migratória irregular no momento do parto, e que seu pai também não seja cidadão nem residente legal permanente.

-Que a mãe tivesse uma presença legal, mas temporária, como um visto de turista ou estudante, e que o pai também não fosse cidadão nem residente permanente.

Embora essa interpretação seja altamente controversa e tenha sido questionada por especialistas jurídicos e organizações de direitos civis, o governo começou a se preparar para sua eventual aplicação.

Debate constitucional: uma reinterpretação ou uma ruptura?

A proposta do governo Trump representa um desafio direto à interpretação histórica da Emenda 14, que garantiu por mais de 150 anos a cidadania a todos os nascidos em território americano, independentemente do status de seus pais.

A cláusula constitucional estabelece: “Todas as pessoas nascidas ou naturalizadas nos Estados Unidos, e sujeitas à sua jurisdição, são cidadãs dos Estados Unidos”.

Esta interpretação foi confirmada por múltiplos precedentes judiciais, embora o termo “sujeitos à sua jurisdição” seja agora objeto de uma disputa legal que pode acabar na Corte Suprema.

Conclusão: a cidadania já não é automática... ao menos nos planos

Embora a medida ainda não tenha validade legal, o fato de que o USCIS tenha desenvolvido um plano operacional tão completo indica que a administração está decidida a avançar com essa reinterpretação da cidadania por nascimento, se os tribunais permitirem.

O debate está longe de se encerrar. Trata-se não apenas de uma questão migratória, mas de uma definição de nação: quem é considerado verdadeiro membro da comunidade política americana desde o nascimento?

A resposta pode mudar para sempre se esta nova doutrina se estabelecer.

Perguntas Frequentes sobre a Cidadania por Nascimento nos EUA.

Que mudanças o plano do USCIS propõe sobre a cidadania por nascimento nos EUA?

O plano do USCIS propõe que a cidadania por nascimento nos EUA não seja mais automática para todas as crianças nascidas em território americano. A medida excluiria filhos de pais que estejam em situação de presença ilegal ou presença legal, mas temporária. Isso representa uma mudança profunda em relação à interpretação histórica da Emenda 14 da Constituição dos EUA.

O que se entende por "presença ilegal" e "presença legal, mas temporária" segundo o USCIS?

Segundo o USCIS, "presença ilegal" refere-se àqueles que permanecem nos EUA após o vencimento de sua autorização ou que entraram sem admissão formal. "Presença legal, mas temporária" refere-se a pessoas com autorizações de estadia limitada, como vistos temporários ou ações diferidas. Esses termos são fundamentais para determinar se os filhos dessas pessoas se qualificam para a cidadania automática.

Qual é a origem da proposta para mudar a cidadania por nascimento?

A proposta se origina na Ordem Executiva "Protegendo o significado e valor da cidadania americana", assinada por Donald Trump em 20 de janeiro de 2025. Esta diretiva busca restringir a cidadania automática por nascimento, alegando que nem todos os nascidos em solo americano estão "sujeitos à jurisdição" do país, como estabelece a Emenda 14.

Quais implicações a eliminação da cidadania por nascimento nos EUA poderia ter?

A eliminação da cidadania por nascimento impactaria diretamente os filhos de imigrantes em situação irregular, possivelmente deixando-os sem acesso automático a direitos básicos como atendimento médico, educação e proteção legal. Isso poderia criar um limbo jurídico para milhares de menores e transformar radicalmente a política migratória dos EUA.

Arquivado em:

Equipe Editorial da CiberCuba

Uma equipe de jornalistas comprometidos em informar sobre a atualidade cubana e temas de interesse global. No CiberCuba, trabalhamos para oferecer notícias verídicas e análises críticas.