“Estamos há mais de 30 horas sem energia em Cuba. Isso é especificamente na província de Matanzas... vejam como as crianças tomam água, senhor, porque com essa quantidade de horas sem energia não há água fria em lugar nenhum, e com o calor que está fazendo, isso é realmente insuportável.”
Assim narrou a jovem cubana Sheyla no TikTok (@sheyreyes032) o impacto dos apagões prolongados na vida cotidiana de milhares de famílias na ilha. De sua casa, ela mostra refrigeradores descongelados, crianças bebendo água da pia, a impossibilidade de conservar alimentos e a resignação com que sua família enfrenta a falta de serviços básicos. “Todos os congelados descongelados, os alimentos estragados”, lamentou. “Dá bastante trabalho conseguir tudo isso e é bastante caro o que temos que pagar para depois estragar.”
Em outro vídeo publicado horas antes, Sheyla documentou que já estavam há 24 horas sem eletricidade. “Não consegui dormir nada, e olhe que tenho um ventilador recarregável. Não quero nem imaginar como estão as pessoas que não têm nada”, explicou. Ela acrescentou que sua mãe lhe trouxe o café da manhã na cama “porque eu não tinha forças nem para acordar”. A jovem almoçou comida reaquecida do dia anterior e mostrou uma bandeja com ovos estragados: “Conseguimos salvar apenas isso. É uma falta de respeito”.
“Assim são todos os dias até que isso não aguente mais”, disse com um tom sereno, embora visivelmente afetada.
O apagão também obrigou muitos vizinhos a recorrer ao carvão como a única alternativa para cozinhar. “Muitos já guardaram seus fogões a gás porque, de qualquer forma, este é o único que resolve”, contou, ao mencionar que em sua área não há gás há mais de seis meses. Não é um caso isolado. Dias antes, outra jovem cubana publicou um vídeo viral onde mostrava como foi obrigada a cozinhar no chão com carvão, após uma interrupção de eletricidade que ocorreu antes do horário previsto. “Tivemos que meter a mão no carvão porque senão, não almoçávamos”, disse @meli.cubanita0 no TikTok, refletindo a mesma mistura de resignação e raiva que hoje compartilham milhares de cubanos.
As publicações geraram uma avalanche de reações. Vários usuários compartilharam dicas de sobrevivência, como deixar os ovos fora da geladeira para evitar que estraguem. “Não coloque os ovos na geladeira porque, uma vez que o frio acaba, eles estragam”, recomendou uma internauta. Outros usuários sugeriram usar coolers ou fazer gelo em garrafas plásticas para mitigar as longas horas sem energia.
Muitos expressaram empatia: “Que tristeza, só lhes resta tentar manter o ânimo”, “Admirável como você enfrenta tudo isso com firmeza”, “Que força a do povo cubano, já é demais”.
Também houve comentários carregados de indignação e crítica ao regime. “Não têm governo”, disse uma usuária. “Esse país já não aguenta mais”, escreveu outra. “E por que não protestam?”, perguntou alguém, ao que outra pessoa respondeu: “Porque se saírem, é corda para o pescoço deles”.
Alguns questionaram seu estilo de vida, insinuando que vivia melhor do que outros ou que recebia ajuda do exterior. “E agradeça, que você vive muito melhor que a maioria”, comentou uma usuária. Outra escreveu: “Sempre se queixa, mas não falta sorvete para ela.”
Este testemunho se soma a uma série de denúncias de cidadania sobre a agudização da crise elétrica em Cuba. No passado sábado, 29 de junho, a ilha alcançou um recorde de afetção com um déficit de 1.936 megawatts, segundo dados da União Elétrica. A situação piorou com a saída de serviço de várias térmicas-chave, bem como com a escassez de combustível, o que deixou inativos centenas de motores geradores.
Em Matanzas, a segunda província com maior consumo do país, os apagões podem ultrapassar as 30 horas, apesar das promessas de alívio e da incorporação de parques solares. Uma pesquisa recente revelou que até três quartos da população provincial podem ficar sem eletricidade ao mesmo tempo, mesmo respeitando o limite legal aprovado.
Em março passado, o próprio Miguel Díaz-Canel reconheceu durante uma visita a Matanzas que os residentes haviam sofrido apagões de até 32 horas consecutivas. No entanto, longe de oferecer soluções imediatas, o governante repetiu sua retórica habitual sobre promessas de investimentos futuros em parques fotovoltaicos e recuperação agrícola. “Sei que eles sofreram”, admitiu, enquanto justificava a crise com argumentos conhecidos e evitava assumir responsabilidades concretas.
Enquanto isso, vozes como a de Sheyla continuam ganhando espaço nas redes sociais. “Compartilhem o vídeozinho para que mais pessoas vejam esta situação”, pediu ao final de seu post mais recente.
Perguntas frequentes sobre os apagões em Cuba e seu impacto na vida diária
Quais são as principais consequências dos apagões prolongados em Cuba?
Os apagões prolongados em Cuba têm graves consequências na vida diária dos cidadãos. Isso inclui a perda de alimentos devido à falta de refrigeração, a impossibilidade de acessar água potável fria e a necessidade de recorrer a métodos alternativos para cozinhar, como o uso de fogões a carvão. Além disso, afetam o descanso e a saúde das pessoas devido ao calor e à falta de ventilação, e geram um impacto econômico devastador ao se perder produtos que são caros e difíceis de obter.
Como os apagões em Cuba afetam a conservação de alimentos?
A falta de eletricidade impede a adequada conservação dos alimentos. Isso provoca que produtos perecíveis que requerem refrigeração, como carnes e laticínios, se estraguem. Muitas famílias são obrigadas a consumir rapidamente suas reservas de comida ou perdê-las, o que representa um golpe econômico importante devido ao alto custo dos alimentos na ilha.
Quais alternativas os cubanos utilizam para cozinhar durante os apagões?
Diante da falta de eletricidade e gás, muitos cubanos recorrem ao uso de fogões a carvão para cozinhar. Esta é uma das poucas alternativas disponíveis para preparar alimentos em meio aos apagões, apesar de o carvão não ser tão eficiente nem fácil de usar quanto o gás ou a eletricidade. Essa situação reflete a precariedade em que vivem muitas famílias cubanas devido à crise energética.
Que medidas podem ser tomadas para mitigar os efeitos dos apagões em Cuba?
Para mitigar os efeitos dos apagões, os cubanos buscam alternativas como o uso de geradores, carregadores portáteis e lâmpadas LED. Além disso, algumas dicas práticas incluem não armazenar ovos na geladeira para evitar que estraguem e utilizar isopor ou gelo em garrafas plásticas para conservar alimentos por mais tempo. No entanto, essas medidas são soluções temporárias que não resolvem o problema de fundo.
Que impacto os apagões têm na qualidade de vida dos cubanos?
Os apagões prolongados afetam gravemente a qualidade de vida dos cubanos ao interromper serviços básicos. A falta de eletricidade não só impacta a conservação de alimentos, mas também interrompe o fornecimento de água potável e paralisa a produção industrial, como a do pão. Além disso, o calor e a falta de ventilação prejudicam o descanso e a saúde das pessoas, gerando um impacto negativo no seu bem-estar geral e aumentando a frustração e o mal-estar social.
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