Díaz-Canel chama a “derrotar a reação extrema” em meio a protestos contra o aumento das tarifas da ETECSA

O primeiro secretário do PCC, o também governante Miguel Díaz-Canel, confirmou de forma velada sua segunda “ordem de combate” para enviar os “revolucionários” a enfrentar o descontentamento e as manifestaçõe dos cubanos, especialmente dos estudantes universitários.

O primeiro secretário do PCC, Miguel Díaz-CanelFoto © Cubadebate / José Manuel Correa

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Em meio a uma onda de descontentamento popular pela recente alta de tarifas imposta pela estatal ETECSA, o Partido Comunista de Cuba (PCC) divulgou uma mensagem que retoma o tom confrontativo e repressivo já utilizado em momentos críticos anteriores.

A declaração, publicada em redes sociais do PCC, chamou a “derrotar a reação extrema”, em clara referência às recentes protestas lideradas principalmente por estudantes universitários.

Captura de tela Facebook / Partido Comunista de Cuba

Detrás da mensagem está o próprio Miguel Díaz-Canel, na sua qualidade de primeiro secretário do partido único, o que confere ao pronunciamento um caráter de linha política direta do poder, e o relaciona com anteriores “ordens de combate” emitidas pelo governante.

“E lembrem-se disto que a história nos ensina: que esses processos revolucionários não têm meio-termo, e que ou triunfam plenamente ou são derrotados”, lê-se na mensagem, extraída do ditador Fidel Castro, e cuja intenção não disfarça um chamado à ação contra qualquer expressão de dissenso.

Ao advertir que “tenham a certeza de que não seremos contados entre os derrotados”, Díaz-Canel reviveu uma lógica de confrontação interna que criminaliza o desacordo, exclui a possibilidade de diálogo e consenso, divide o tabuleiro entre “vencedores e vencidos” e reforça a repressão ideológica e física contra aqueles que questionam as decisões do regime.

Este novo chamado lembra a a “ordem de combate” lançada pelo próprio Díaz-Canel em 11 de julho de 2021, quando Cuba viveu as maiores manifestações civis de sua história recente.

Nessa ocasião, o governante instou publicamente os “revolucionários” a saírem às ruas para enfrentar o povo que protestava de forma pacífica contra a crise econômica e a falta de liberdades.

“A ordem de combate está dada, os revolucionários para a rua”, declarou então em cadeia nacional, apontando diretamente para os manifestantes como provocadores e “confundidos”.

O cenário se repete sob novas causas

Nos últimos dias, a população, especialmente os jovens, reagiu com indignação diante do aumento de preços por parte da ETECSA, que implica um golpe direto ao acesso à internet e à comunicação, pilares para a expressão social e política no contexto atual.

As novas tarifas são percebidas como abusivas e desproporcionais em relação ao poder aquisitivo da cidadania, mergulhada em uma profunda crise econômica. No entanto, longe de reconsiderar as medidas, o regime cubano preferiu mobilizar seu aparato repressivo, deslocando agentes da Segurança do Estado para as universidades do país.

Além disso, em vez de reconhecer o descontentamento como um sinal de alerta e corrigir as políticas impopulares, o governo optou por reativar sua maquinaria discursiva de guerra interna, acusando novamente a “contrarrevolução” de instigar os protestos.

Ao mesmo tempo, tem encenado uma série de gestos, como a promoção a general de Corpo de Exército do atual ministro do Interior, Lázaro Alberto Álvarez Casas, em um ato onde reapareceu novamente o nonagenário ditador Raúl Castro.

Este enquadramento não apenas deslegitima as demandas dos cidadãos, como também possibilita uma resposta repressiva sob o manto da "defesa da revolução".

A gravidade da mensagem do PCC reside no fato de que não é uma simples declaração ideológica, mas uma linha de ação política que historicamente tem sido seguida pelo aparato repressivo do Estado. Primeiro vem um militante exaltado ou um meio oficialista gritando "machete que são pouquinhos", e então a maquinaria repressora é colocada em ação.

Quando o primeiro secretário do PCC — a figura com mais poder político em Cuba e cabeça do único partido legal que a Constituição do regime reconhece — faz um apelo para confrontar aqueles que expressam descontentamento, o resultado imediato costuma ser o aumento da vigilância, a repressão policial, detenções arbitrárias e o assédio a ativistas, jornalistas e cidadãos comuns.

A ausência de referência direta ao aumento das tarifas da ETECSA na mensagem não impede que seja compreendida como uma resposta direta à onda de protestos que começou a se articular nas universidades e redes sociais.

O uso da linguagem bélica e ideologizada do castrismo por parte do líder da chamada “continuidade” confirma que, para o regime, a crítica não faz parte do debate público, mas sim uma ameaça que deve ser silenciada.

O cenário que se configura é alarmante: diante de uma cidadania cada vez mais informada e cansada de promessas vazias, o poder responde com consignas de trincheira, fechando o espaço para o diálogo e reforçando o controle social.

Em vez de retificar, o regime totalitário cubano aposta mais uma vez no medo e no terrorismo de Estado.

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