Cubanos explodem por novas medidas de dolarização na ETECSA: "Mais ladrões não podem ser"

"Isso é a mesma coisa da venda de carros em dólares para investir no transporte público e das lojas em MLC para as de CUP, e no final nada", disse uma usuária.


A recente decisão da ETECSA de limitar as recargas em pesos cubanos (CUP) a 360 mensais e oferecer planos de dados móveis apenas em dólares americanos (USD) gerou uma onda de indignação entre os usuários cubanos.

Usuários nas redes sociais expressaram sua frustração diante do que consideram uma exclusão em massa de milhões de cidadãos que não têm acesso a moedas estrangeiras.

Uma jovem comparou a situação dos dados móveis com a escassez de pão nas padarias. "Embora você queira mais, só tem direito a um por mês. E desta vez não há onde comprar mais pão. Porque a ETECSA é única."

Con ela coincidiu outro cubano de Houston, que escreveu ironicamente: "Dados móveis por livreta de abastecimento".

Desde o exílio, a indignação também é palpável. Um cubano na Espanha expressou seu descontentamento dizendo que a ETECSA "a mete dobrada, sem anestesia, sem avisar e muito pior do que se previa".

Outro comparou a gestão da empresa cubana com as dos Estados Unidos: "Em um mundo onde as empresas competem para ter o plano ilimitado mais barato, a ETECSA aparece com 6,5 GB no máximo, mensalmente...".

Esse sentimento de traição é comum entre aqueles que, do exterior, tentaram apoiar seus familiares em Cuba por meio de recargas e remessas.

A medida é mais um passo na dolarização da economia cubana, onde os serviços essenciais, como o acesso à Internet, estão se tornando privilégios para aqueles que recebem remessas ou têm acesso a dólares.

"Todas as medidas que estão sendo tomadas só estão aumentando a diferença entre a sociedade cubana; os novos ricos são aqueles que têm familiares no exterior ou os poucos que têm acesso aos USD", opinou uma habanera.

Além das críticas pela exclusão econômica, os usuários também apontam a falta de transparência e a gestão deficiente da ETECSA.

Um técnico em eletrônica lembrou promessas não cumpridas do governo e apontou que, apesar das inúmeras recargas do exterior, não se viu uma melhoria significativa na infraestrutura de telecomunicações do país.

"Quando arrecadavam milhões de dólares com as recargas do exterior, não investiram em nada. Não houve nenhuma melhoria. Nem na telefonia móvel, nem na fixa, nem em nada", afirmou.

A justificativa oficial da ETECSA para essas novas restrições é a necessidade de "sustentar e desenvolver a rede". No entanto, muitos consideram essa desculpa como uma zombaria, uma vez que as deficiências no serviço, os apagões de dados e os preços abusivos têm sido constantes ao longo dos anos.

"O que é necessário fazer é melhorar o serviço de antenas, que é péssimo, investir em antenas que funcionem com energias renováveis e assim, quando não houver energia, ao menos tentar garantir o serviço de Internet", exigiu um habitante de Havana.

A partir de agora, enquanto, por um lado, as recargas em pesos cubanos (CUP) estão limitadas, os principais planos de dados deverão ser adquiridos em dólares americanos (USD) por meio de cartões internacionais ou do Monedero MiTransfer.

A medida foi qualificada por muitos como uma fraude legalizada e uma agressão direta ao povo cubano.

"Isso é a mesma coisa da venda de carros em dólares para investir no transporte público e das lojas em MLC para as de CUP, e no final nada", apontou uma habanera.

"Já é uma falta de respeito que me limitem a gastar o meu dinheiro, mas além disso, pelo que eu pagava antes 500 CUP agora tenho que pagar mais de 6000. O que diabo está acontecendo com essa gente?", questionou uma jovem.

"Todos os dias eles se superam mais em nos complicar a vida", expressed a flautista, refletindo o sentimento generalizado de cansaço.

Não são poucos os que preveem um novo fracasso para o governo ao desqualificar o serviço da ETECSA em moeda nacional.

"A vocês o que lhes falta são ideias. (...) Mas precisam usar a inteligência para criar serviços atraentes em USD sem afetar o atendimento ao povo que recebe apenas moeda nacional", sugeriu um usuário.

"Como sempre calculam mal. Com isso, só conseguirão arrecadar menos dinheiro. Porque não acreditam que agora a 'máfia' de Miami vai correr para recarregar as linhas em Cuba só porque vocês dizem. Já vão ver que vão acabar se complicando de novo", assegurou um autônomo.

A empresa de telecomunicações cubana deu um novo golpe no bolso dos cidadãos com essas medidas que limitam severamente o acesso à Internet em moeda nacional e aprofundam a dolarização do serviço móvel na Ilha.

Poder recarregar apenas até 360 pesos cubanos em um período de 30 dias representa um limite drástico e sem precedentes. Com essa quantia, mal se consegue comprar um pacote de 6 GB.

Quem precisar de mais informações deverá pagá-las em dólares americanos (USD) ou através de plataformas digitais que operam sob a lógica do mercado paralelo, onde o valor real de cada dólar é quase o mesmo que na rua.

Os dados, cada vez mais em dólares

Enquanto se restringe o uso do CUP, a ETECSA promove novos Planos de DATAS Extras em USD, os quais já estão disponíveis através de cartões internacionais e do Monedero MiTransfer.

Esses planos podem ser adquiridos nos escritórios comerciais autorizados e oferecem:

4 GB por 10 USD.

8 GB + 75 MIN + 80 SMS por 20 USD.

16 GB por 35 USD.

Todas essas "ofertas" incluem 300 MB adicionais para navegação nacional, um componente que permanece sem alterações.

O que resta em CUP?

A pesar dessa dolarização parcial do serviço móvel, a ETECSA garante que ainda será possível adquirir alguns planos em moeda nacional até um limite de 360 CUP.

No entanto, também foram habilitados novos Planos de DADOS Extras em CUP, disponíveis através do Transfermóvil, Serviços Online, Carteira MiTransfer e na rede comercial.

Esses pacotes ficariam assim:

3 GB por 3.360 CUP.

7 GB por 6,720 CUP.

15 GB por 11.760 CUP.

Cada um desses planos inclui também 300 MB para navegação nacional.

No entanto, os preços em pesos cubanos são excessivamente elevados, atingindo cifras que superam amplamente o salário mínimo no país, que gira em torno de 3.000 CUP.

Ou seja, o acesso à internet móvel em níveis básicos requer até quatro vezes o salário mensal mínimo. É um serviço inacessível para grande parte da população, especialmente para aqueles que não recebem remessas nem têm acesso a moeda forte.

A ETECSA também informou que esses planos agora podem ser utilizados em qualquer rede móvel (2G, 3G e 4G), o que garante que isso representa uma melhoria técnica.

Além disso, os planos de voz, SMS e a Bolsa de Mensagens toDus mantêm seus preços em CUP e continuam disponíveis através dos canais tradicionais.

Enquanto isso, os planos em dólares, promovidos como "extra", são vendidos através do Monedero MiTransfer ou cartões internacionais:

4 GB por 10 USD

8 GB + 75 minutos + 80 SMS por 20 USD

16 GB por 35 USD

Uma família cubana sem ajuda do exterior, sem remessas nem acesso a divisas, fica relegada ao mínimo possível de conectividade, ou diretamente fora do sistema.

A ETECSA não só restringe o acesso à Internet, mas também o direito à informação, ao trabalho digital, ao estudo e à conexão com o mundo exterior, em um país onde cada vez mais pessoas dependem da Internet para sobreviver, estudar, trabalhar por conta própria ou simplesmente se manterem comunicados.

Em vez de democratizar o acesso à conectividade, a ETECSA - com o apoio do governo - transformou a rede em um produto de luxo, em plena era digital.

Perguntas Frequentes sobre as Novas Medidas de Dolarização da ETECSA em Cuba

Por que a ETECSA decidiu dolarizar parte de seus serviços?

ETECSA decidiu dolarizar parte de seus serviços para captar mais divisas e sustentar a rede de telecomunicações em Cuba. A empresa argumenta que a necessidade de divisas é crucial para manter e desenvolver a infraestrutura de telecomunicações, em um contexto de grave crise econômica no país.

Quais são as novas restrições no uso de pesos cubanos para recargas na ETECSA?

As recargas em pesos cubanos (CUP) estão limitadas a 360 CUP por mês, o que restringe significativamente o acesso a dados móveis para aqueles que não têm acesso a moedas estrangeiras. Esta medida tem sido altamente criticada por aumentar a exclusão econômica e social em Cuba.

Quais opções de planos de dados a ETECSA oferece em dólares americanos?

ETECSA oferece vários planos de dados em dólares americanos: 4 GB por 10 USD, 8 GB mais 75 minutos e 80 SMS por 20 USD, e 16 GB por 35 USD. Esses planos estão disponíveis apenas através de cartões internacionais ou pelo Monedero MiTransfer, o que dificulta o acesso para muitos cubanos.

Como reagiu a população cubana a essas medidas da ETECSA?

A população cubana reagiu com indignação e rejeição às medidas da ETECSA, expressando seu descontentamento nas redes sociais. As críticas se concentram na exclusão econômica, na falta de transparência e no que muitos consideram um "roubo à mão armada" por parte do monopólio estatal.

Qual é o impacto dessas medidas da ETECSA na sociedade cubana?

Essas medidas da ETECSA aprofundam a brecha social e econômica em Cuba, ao limitar o acesso a serviços essenciais como a Internet àqueles que têm acesso a divisas. Isso transforma a conectividade em um privilégio, deslocando grande parte da população à margem da digitalização e aumentando a desigualdade.

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Equipe Editorial da CiberCuba

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