A presidenta executiva da Empresa de Telecomunicações de Cuba S.A. (ETECSA), Tania Velázquez Rodríguez, abordou o cres crescente descontentamento social em relação ao recente aumento de tarifas telefônicas, oferecendo desculpas públicas pela má comunicação institucional, embora sem retratar-se das medidas impostas.
Em sua recente aparição pública, no pódcast oficial “Desde a Presidência”, transmitido pela rádio e televisão estatal, Velázquez defendeu a nova política comercial, advertiu sobre um possível colapso técnico do sistema de telecomunicações e continuou justificando a priorização de ofertas em divisas pela existência de um “mercado fora de Cuba”.
Durante a intervenção oficial, na qual estavam presentes o mandatário Miguel Díaz-Canel e o vice-ministro de Comunicações, Ernesto Rodríguez Hernández, a funcionária reconheceu que ETECSA deveria ter comunicado melhor suas intenções e admitiu que o descontentamento da população é compreensível diante da falta de clareza e da brusquidão da mudança.
No entanto, defendeu a medida como uma ação necessária para “determinar os objetivos” estratégicos da entidade no atual contexto econômico do país.
“Avisar que estaremos em breve realizando determinadas ações, direcionadas a definir os objetivos que estamos explicando hoje e que estamos aprofundando hoje. E nesse sentido, não posso deixar de oferecer e pedir desculpas ao nosso povo, pois toda essa situação que se gerou a partir do nosso sistema, da nossa empresa, dos nossos serviços nos obriga a fazê-lo”, expressou Velázquez.
Adicionou que na ETECSA sentem um forte compromisso com a cidadania e se consideram parte do problema:
“Ou seja, não podemos deixar de fazê-lo porque é algo que sentimos profundamente, nos sentimos sensibilizados, nos sentimos parte do problema, somos parte do problema e, claro, todos estamos comprometidos, todos os trabalhadores da ETECSA estamos comprometidos na solução, na busca por uma solução conjunta, construtiva, respeitosa e civilizada”.
A recente decisão anunciada pela ETECSA se soma a uma longa lista de queixas sobre a péssima qualidade dos serviços móveis e de internet, os altos custos e a falta de transparência sobre o uso das receitas arrecadadas.
Muitos usuários denunciaram nas redes sociais que a conectividade se tornou um luxo para uma população cujo salário médio gira em torno de 2.100 pesos cubanos mensais.
Apesar da onda de críticas, a empresa, única autorizada a prestar serviços de telecomunicações na ilha, sustenta que não pode operar sem realizar ajustes de preços diante do aumento dos custos tecnológicos, das dificuldades para importar peças e do impacto do embargo americano.
No mesmo programa, a diretiva alertou que o país poderia enfrentar um “falha generalizada” nas telecomunicações se não forem implementadas as adequações necessárias.
“Têm ocorrido determinados falhos nesta infraestrutura que estão levando a um caminho [...] no qual prevemos que pode haver em algum momento uma falha generalizada”, alertou a presidenta da ETECSA, antecipando um possível colapso do sistema nacional de telecomunicações.
Segundo explicou, se esse erro ocorrer, as consequências seriam drásticas. “Que não possamos fazer chamadas telefônicas, que não possamos enviar mensagens, que não possamos chegar aos nossos centros de estudos ou de trabalho […]”.
Días antes, em uma aparição especial no dia 31 de maio, a funcionária gerou uma nova polêmica ao revelar que uma das motivações por trás do aumento tarifário é atender ao mercado internacional de cubanos que desejam se comunicar com seus familiares na ilha.
“Há mais de 15 anos temos o conceito de recarga internacional, que tem sido muito bem aproveitado por uma porcentagem significativa da nossa base de clientes”, explicou Velázquez. “Também aproveitamos as possibilidades que hoje temos para um mercado fora de Cuba, que tem interesse em manter seus familiares comunicados”.
Embora tenha negado que ETECSA esteja completamente dolarizada, reconheceu que “o conceito de dolarização é uma necessidade hoje, de certa forma, em alguns setores”. As novas tarifas em dólares, acessíveis apenas por meio de cartões internacionais ou do Monedero MiTransfer, confirmam essa tendência.
O impacto foi tão grande que estudantes da Universidade de Havana mantêm uma greve acadêmica indefinida, exigindo conectividade equitativa e a renúncia do presidente nacional da FEU, Ricardo Rodríguez González, por considerá-lo incapaz de representar seus interesses.
Enquanto o governo insiste que essas críticas fazem parte de uma “guerra midiática”, na internet circulam paródias virais como a do jovem Alex Umur, que ridiculariza o novo esquema de revenda informal de saldo:
“Juancito recebe recarga do exterior, Juancito vende saldo, você compra saldo do Juancito... agora o que precisamos ver é a quanto ele vende”, comentou com sarcasmo.
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