ETECSA antecipa um suposto “falha geral” para justificar o aumento das tarifas telefônicas

ETECSA enfrenta críticas por um aumento de tarifas, enquanto sua presidenta alerta sobre um possível colapso nas telecomunicações. Estudantes protestam por conectividade desigual e exigem mudanças na FEU.


Em meio ao crescente rejeição da população ao aumento de tarifas aplicado pela estatal Empresa de Telecomunicações de Cuba S.A. (ETECSA), sua presidenta, Tania Velázquez, antecipou um possível “colapso generalizado” do sistema nacional de telecomunicações.

A advertência foi lançada durante o pódcast presidencial “Desde a Presidência”, que é transmitido pela rádio e televisão estatais nesta quinta-feira e que foi anunciado como uma “análise crítica” junto ao governante Miguel Díaz-Canel e o vice-ministro de Comunicações, Ernesto Rodríguez Hernández, sobre as recentes decisões da ETECSA, que desencadearam uma onda de protestos estudantis e críticas até mesmo de setores tradicionalmente oficialistas.

“Foram apresentados determinados falhas nesta infraestrutura que estão levando a um caminho [...] no qual temos previsto que pode existir em algum momento uma falha generalizada”, disse Velázquez.

Segundo a funcionária, as consequências deste suposto falho seriam “não conseguirmos fazer chamadas telefônicas, não conseguirmos enviar mensagens, não conseguirmos chegar aos nossos centros de estudos ou de trabalho […]”, acrescentou, descrevendo um cenário de colapso quase total do sistema de telecomunicações na ilha.

A inclusão desta mensagem em um espaço midiático cuidadosamente produzido pelo regime gera ceticismo, pois pode tratar-se de uma narrativa pré-fabricada para legitimar a medida tão questionada.

Os novos pacotes de dados ultrapassam 11.000 CUP, enquanto as recargas na moeda nacional foram limitadas a 360 CUP mensais. Simultaneamente, ETECSA promove pacotes em dólares americanos, acessíveis apenas com cartões internacionais ou via Monedero MiTransfer, aprofundando a exclusão digital.

O podcast desta quinta-feira, 5 de junho, foi promovido em meio a um paro acadêmico indefinido protagonizado por estudantes universitários, especialmente da Universidade de Havana. O movimento exige não apenas conectividade equitativa para os estudantes, mas também acesso real para todos os cubanos.

A resposta oficial foi um chamado para “fechar fileiras” contra o que o regime qualifica como uma “guerra midiática” promovida por “inimigos do sistema”. Os estudantes, inclusive, agora exigem a renúncia do presidente nacional da FEU, Ricardo Rodríguez González, acusando-o de não representar os interesses estudantis.

O programa de hoje é produzido quatro dias depois de Miguel Díaz-Canel ter quebrado seu silêncio com um breve fio na rede X (anteriormente Twitter), reconhecendo a insatisfação popular, mas sem oferecer soluções concretas. “Estamos atentos às opiniões, críticas e insatisfações do nosso povo em relação às medidas anunciadas pela ETECSA”, escreveu no dia 1 de junho.

Perguntas frequentes sobre o aumento de tarifas da ETECSA e suas implicações em Cuba

Por que a ETECSA justificou o aumento das tarifas em Cuba?

A presidente da ETECSA, Tania Velázquez, argumentou que o aumento tarifário é necessário para injetar divisas na empresa, que enfrenta um alto endividamento que impede a importação de tecnologia e a manutenção dos serviços. A empresa também perdeu mais de 60% de suas receitas externas devido a fraudes em recargas internacionais.

Como afetam as novas tarifas da ETECSA os cubanos?

As novas tarifas limitam as recargas em pesos cubanos (CUP) a 360 CUP mensais, o que obriga muitos cubanos a utilizar pacotes em dólares para ter acesso adequado à internet, o que é inacessível para grande parte da população que não recebe remessas. Isso tem sido percebido como uma profundização da desigualdade digital.

Que medidas a ETECSA tomou para acalmar as críticas dos estudantes?

Para mitigar o descontentamento estudantil, ETECSA ofereceu um pacote adicional de 6 GB por 360 CUP a estudantes universitários, permitindo um total de 12 GB por mês. Além disso, isentou o custo de acesso a mais de 40 sites educacionais, embora isso não tenha detido as protestas estudantis.

Qual tem sido a resposta do governo cubano diante das protestas contra o aumento de tarifas da ETECSA?

O governo cubano fez um apelo para “unir forças” contra o que considera uma “guerra midiática” e acusou os estudantes de serem manipulados por inimigos do sistema. Não ofereceu soluções concretas para as demandas dos estudantes, que continuam exigindo conectividade equitativa e acesso à internet para todos os cubanos.

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Equipe Editorial da CiberCuba

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