O presidente nacional da Federação Estudantil Universitária (FEU), Ricardo Rodríguez González, responsabilizou nesta segunda-feira supostos "inimigos da revolução" por manipularem as recentes manifestações de descontentamento nas universidades do país, após o aumento de tarifas anunciado pela estatal ETECSA.
Durante sua intervenção no programa televisivo oficialista Mesa Redonda, Rodríguez disse que as reivindicações estudantis têm sido utilizadas por atores externos com “mau propósito” para distorcer a postura legítima dos universitários, que, segundo afirmou, mantiveram uma atitude de respeito e diálogo diante das medidas impopulares.
“Acabou ocorrendo algo que também esperávamos, que os inimigos da revolução, com má intenção, distorceram essa postura, essa posição de inquietação que surgiu na comunidade estudantil universitária e tentaram manipular essa visão para buscar uma confrontação”, apontou.
Rodríguez defendeu que a FEU tem agido “dentro da revolução” e assegurou que têm existido múltiplos espaços de intercâmbio entre estudantes, diretores da ETECSA, representantes do Partido Comunista, ministros e dirigentes da União de Jovens Comunistas (UJC) para canalizar as inconformidades.
O líder estudantil relatou que desde a sexta-feira anterior ao programa ocorreram reuniões nas faculdades da Universidade de Havana, conversas telefônicas com altos dirigentes do Estado e uma videoconferência nacional para discutir o impacto do aumento de preços na vida acadêmica.
“Desde todas as estruturas da organização, tem-se mantido uma visão de respeito (…) e a intenção tem sido buscar a perspectiva de como dialogar e consensuar soluções”, insistiu.
Rodríguez também ressaltou que os protestos refletem preocupações reais entre os estudantes, mas esclareceu que a organização não se desvinculou do governo.
Em sua intervenção, defendeu o papel da FEU como interlocutor válido no processo de "formação de homens de ciência e pensamento".
Apesar das afirmações demagógicas do porta-voz do regime, a realidade é que as novas tarifas anunciadas pela ETECSA provocaram uma onda de críticas nas redes sociais e pronunciamentos de vários centros universitários do país, que questionaram o impacto negativo dos preços no acesso à internet e, portanto, no desenvolvimento acadêmico.
Embora a intervenção do presidente da FEU buscasse reforçar a imagem oficialista de que o diálogo tem sido a via predominante, suas declarações confirmam a magnitude do descontentamento gerado pelo chamado “tarifazo” em setores tradicionalmente afins ao oficialismo, como o estudante universitário.
Apesar das declarações do dirigente estudantil Ricardo Rodríguez, que acusou "inimigos da revolução" de manipular o descontentamento universitário, a realidade está significativamente distante da narrativa oficial.
As protestas e declarações públicas de diversas faculdades e coletivos estudantis em Cuba evidenciam um rechaço genuíno e articulado ao aumento de tarifas imposto pela ETECSA.
Este terça-feira, estudantes da CUJAE exigiram à ETECSA alternativas viáveis que não comprometam o acesso à internet na educação superior.
Em uma carta institucional, alertaram sobre a impossibilidade de manter a vida acadêmica com as novas tarifas, qualificando como "insuficientes" as justificativas oferecidas pela empresa estatal.
Este lunes, a presidência nacional da FEU foi alvo de críticas massivas após se retratar de um comunicado inicial que questionava o aumento de preços.
Este giro foi percebido como uma tentativa de alinhar-se com a postura oficial, gerando um profundo desconforto entre os estudantes, que denunciaram a falta de representação real de seus interesses.
Durante o fim de semana, a Faculdade de Economia da Universidade de Havana tornou pública sua postura crítica, apontando que o aumento nas tarifas atenta diretamente contra a equidade acadêmica.
O texto emitido pela FEU local reivindicou maior inclusão estudantil nos processos de decisão e expressou sua preocupação com a desconexão entre as necessidades reais do corpo estudantil e as medidas implementadas.
Já anteriormente, a Faculdade de Psicologia da mesma universidade se pronunciou em termos semelhantes, deixando claro que a rejeição ao aumento das tarifas era generalizada.
Sua declaração alertou sobre o impacto negativo dessas políticas na qualidade do processo educativo e denunciou o silêncio institucional como uma forma de violência simbólica contra os estudantes.
Perguntas frequentes sobre os protestos estudantis e o aumento de tarifas da ETECSA em Cuba
Por que a FEU culpa "inimigos da revolução" pelas protestos?
A FEU afirma que os protestos estudantis foram manipulados por atores externos com "más intenção". O presidente da FEU, Ricardo Rodríguez González, sustenta que essas ações buscam distorcer a posição legítima dos universitários em relação ao aumento das tarifas da ETECSA. Segundo ele, esses protestos foram utilizados para incitar à confrontação, apesar de que diálogos com o governo e a empresa estatal foram mantidos para buscar soluções.
Qual tem sido a resposta da FEU diante do aumento de tarifas da ETECSA?
Inicialmente, a FEU se manifestou contra o aumento de tarifas da ETECSA. No entanto, após reuniões com a ETECSA e o governo, emitiram um comunicado que suaviza sua postura e destaca a importância do diálogo. Essa mudança gerou críticas por parte de estudantes e usuários nas redes sociais, que acusam a FEU de oportunismo e de não representar verdadeiramente os interesses dos estudantes.
Que medidas foram propostas pela ETECSA para acalmar as críticas após o aumento das tarifas?
ETECSA ofereceu aos estudantes universitários um segundo pacote de dados de 6 GB por 360 CUP. Isso permite que os estudantes tenham um total de 12 GB por mês por 720 CUP. Além disso, mais de 40 sites educativos foram habilitados para acesso gratuito, embora essas medidas não eliminem a limitação de 360 CUP em recargas mensais, o que tem sido amplamente criticado.
Como a comunidade estudantil reagiu ao aumento de tarifas da ETECSA?
A comunidade estudantil expressou um forte rejeição ao aumento de tarifas da ETECSA. Diferentes faculdades da Universidade de Havana, assim como outros institutos, emitiram comunicados denunciando que as novas tarifas restringem o acesso à internet, prejudicando seu desenvolvimento acadêmico. As críticas se concentram na falta de transparência e na percepção de que essas medidas beneficiam aqueles que podem pagar em divisas.
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