Apagões em Cuba disparam no sábado devido à saída imprevista de uma unidade da termoelétrica de Nuevitas

A falha da unidade 5 na termelétrica de Nuevitas intensificou os apagões em Cuba, revelando mais uma vez os problemas estruturais no sistema elétrico nacional.

Central termoelétrica “10 de Octubre” de NuevitasFoto © Adelante / Orlando Durán Hernández

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A saída inesperada da unidade 5 da Central Termoelétrica (CTE) de Nuevitas agravou neste sábado uma situação energética já crítica em Cuba, disparando os apagões a níveis alarmantes.

Segundo informou a União Elétrica (UNE), esse problema contribuiu para o aumento das afetações previstas, que chegaram a atingir 943 MW durante o horário de maior demanda, superando as previsões iniciais e afetando severamente a população.

O parte oficial indicou que neste domingo a disponibilidade do Sistema Elétrico Nacional (SEN) era de 2.100 MW, em comparação com uma demanda projetada de 2.950 MW nas horas de pico, gerando um déficit estimado de 850 MW. As interrupções durante o dia poderiam ultrapassar os 920 MW se as condições do sistema não forem restabelecidas.

Nuevitas: epicentro de um colapso prolongado

A termoelétrica de Nuevitas tem sido uma das peças-chave para a geração elétrica em Cuba, mas também um dos pontos mais vulneráveis. Há anos, esta planta tem enfrentado problemas recorrentes que têm colocado em xeque o SEN e, por conseguinte, a estabilidade energética do país.

1. Maio de 2024: A unidade 6 de Nuevitas saiu do sistema em menos de 24 horas após ter sido reparada. Essa avaria deixou a usina parcialmente inoperante e gerou críticas da população, especialmente após declarações da imprensa oficial que qualificaram esses eventos como “normais”.

2. Junho de 2024: A unidade 6 voltou a se desconectar devido a outra falha, deixando a população em uma situação desesperadora. Essas falhas, recorrentes na planta, evidenciam a falta de manutenção preventiva e de soluções estruturais.

3. Agosto de 2024: Uma saída inesperada de outro bloco em Nuevitas aprofundou as afetações ao SEN. Este evento provocou protestos na localidade, onde alguns residentes chegaram a lançar pedras contra as instalações da termoelétrica como demonstração de sua indignação pelos prolongados apagões.

4. Janeiro de 2025: A recente saída da unidade 5 se soma a esta longa lista de incidentes. A avaria não apenas deixou a planta fora de serviço, mas também coloca em dúvida a capacidade de recuperação do SEN em curto prazo.

Medidas oficiais: paliativos temporários

Em diversas ocasiões, a UNE anunciou medidas emergenciais para tentar mitigar os impactos no sistema elétrico.

Essas incluem a redistribuição de cargas, a manutenção acelerada de unidades e o uso de geração distribuída. No entanto, a falta de combustível e os problemas estruturais têm limitado a eficácia dessas iniciativas.

Em maio de 2024, a UNE informou sobre "ações emergentes" para melhorar a eficiência operacional das usinas termoelétricas. No entanto, pouco mudou desde então. A termoelétrica de Nuevitas continua sendo um exemplo das dificuldades em implementar soluções sustentáveis em um sistema que depende em grande parte de instalações obsoletas e mal conservadas.

Reações da população: entre o cansaço e a indignação

Os apagões recorrentes geraram um profundo mal-estar social em Cuba. Em localidades próximas a Nuevitas, incluindo a própria cidade, os protestos têm sido uma constante.

Os residentes têm criticado a falta de transparência das autoridades e a incapacidade de resolver os problemas de forma eficaz. As interrupções prolongadas do serviço afetam tanto a vida doméstica quanto a economia, limitando atividades essenciais como a conservação de alimentos e a produção industrial.

Uma residente de Nuevitas comentou nas redes sociais: “Estamos fartos de viver na escuridão, de que não haja soluções reais. Enquanto as autoridades falam de normalidade, nós continuamos sem luz, sem ventilação e sem poder cozinhar.”

Outra habitante de Camagüey acrescentou: “Isto não é viver. Estamos assim há anos e não parece que isso vai melhorar. As mesmas plantas se quebram repetidamente. O que estão esperando para consertar isso de verdade?”.

Impacto na vida cotidiana

A instabilidade do SEN afeta todos os aspectos da vida cotidiana em Cuba. As famílias dependem da eletricidade não apenas para iluminação e ventilação, mas também para a refrigeração de alimentos e medicamentos, especialmente em um contexto de escassez generalizada.

Os apagões também dificultam o acesso a água potável em comunidades onde o abastecimento depende de bombas elétricas.

Além disso, o setor econômico sofre gravemente com essas interrupções. Indústrias, pequenas empresas e centros educacionais enfrentam paralisações constantes, o que impacta na produtividade e no bem-estar da população.

Um sistema colapsado e sem soluções claras

A situação energética em Cuba é um reflexo de problemas estruturais que não foram resolvidos ao longo de décadas.

A dependência de usinas termelétricas obsoletas, como Nuevitas, e a falta de investimentos em energias renováveis ou tecnologia moderna deixaram o país em uma posição vulnerável.

As autoridades prometeram uma melhoria a médio prazo, mas a realidade no terreno demonstra o contrário. Enquanto isso, a população cubana continua enfrentando apagões diários, um serviço deficiente e uma qualidade de vida deteriorada.

A recente avaria na unidade 5 de Nuevitas não é apenas mais um incidente, mas sim uma evidência da incapacidade do sistema elétrico cubano para atender às necessidades básicas da população.

Sem uma solução abrangente que trate das causas estruturais dessas falhas, os apagões continuarão sendo parte do dia a dia em Cuba, agravando a já precária situação econômica e social do país.

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