Medo, controle e manipulação: As ferramentas do regime cubano para impor a taxa de câmbio oficial



O governo de Miguel Díaz-Canel assegura que o novo “mercado cambial transformado” permitirá organizar a economia cubana. Mas, com uma taxa oficial muito abaixo do valor real do dólar, o regime terá que recorrer aos seus velhos métodos: medo, controle e manipulação. Conseguirá?

CADECA Foto © CiberCuba

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El jueves 18 de dezembro de 2025, o Banco Central de Cuba lançou sua nova taxa "flutuante" para a compra e venda de moedas na CADECA: 401,80 pesos para compra e 418,20 para venda.

Uma cifra que, à primeira vista, tenta se aproximar do mercado real, mas que ainda está distante do valor que os cubanos comuns atribuem.

Esse mesmo dia, o portal independente El Toque fixava a taxa informal do dólar em 440 CUP, o euro em 480 e o MLC em 300.

A diferença pode parecer pequena, mas revela uma verdade incômoda: os cubanos continuam confiando mais na rua do que no Estado. E o regime sabe disso.

O dilema: Poucos dólares e menos confiança

O Banco Central pode publicar a taxa que quiser, mas se não tiver dólares suficientes para vender, o mercado oficial não funcionará.

Hoje, as reservas do país estão esgotadas, o turismo continua abaixo dos níveis de 2019 e as exportações estatais não conseguem gerar divisas frescas.

Enquanto isso, os cubanos que recebem remessas ou trabalham com moeda forte preferem trocar seus dólares no mercado informal, onde pagam mais e sem burocracia.

Nesse cenário, o Estado enfrenta um dilema: precisa captar dólares para sobreviver, mas não pode competir com a rua.

Por isso, mais do que persuadir, tentará impor.

Estratégia 1: Medo

Já se insinua nos meios oficialistas: alertas contra as "operações ilícitas de divisas", relatórios policiais e advertências do ministério do Interior. A mensagem é clara: "Trocar fora do sistema é um crime".

O regime confia que o medo funcione onde a economia fracassa. Mas os cubanos já viram esse roteiro antes e sabem que, enquanto o governo não tiver dólares, a CADECA será apenas uma vitrine vazia.

Estratégia 2: Controle

A segunda ferramenta será o controle bancário e financeiro. Reduzir o uso de dinheiro em espécie, limitar as transferências, obrigar o uso de cartões e fechar cada vez mais o acesso ao dólar físico.

Em outras palavras: pressionar o cidadão até que não tenha outra opção a não ser recorrer ao banco. Mas esse controle alimenta outro fenômeno: a migração das operações para canais digitais (Zelle, Binance, Revolut, empresas de remessas informais), fora do alcance do Estado.

Estratégia 3: Manipulação

A terceira jogada será manipular a taxa oficial. O regime pode aumentá-la ligeiramente para simular uma “flutuação real”, aproximando-a do valor informal quando lhe convier.

Assim tenta convencer de que “o mercado está se equilibrando”. Mas, na verdade, apenas muda a placa, não o preço real do dólar.

Como advierte o economista Mauricio de Miranda Parrondo, as taxas múltiplas apenas criam distorções e privilégios: “Manter um dólar a 24 pesos para alguns e outro a 400 para o restante não é política econômica: é um disparate”.

A pergunta

O governo cubano pode tentar impor sua taxa com medo, controle e manipulação. Mas não pode mudar uma verdade elementar: as pessoas vendem onde recebem mais, não onde o regime ordena.

Enquanto a economia continuar estagnada e o peso desmoronar, os cubanos continuarão trocando dólares na rua, não na CADECA.

E nenhum decreto poderá transformar uma taxa imposta em uma taxa credível.

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