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Os Estados Unidos voltaram a enviar migrantes cubanos para a base naval de Guantánamo, reativando uma prática carregada de simbolismo e polêmica que havia ficado em pausa durante dois meses.
O traslado de 22 homens do território estadunidense marca o primeiro envio de cidadãos cubanos para essa instalação desde janeiro e reviva temores, lembranças e questionamentos legais.
Segundo revelou The New York Times, os cubanos chegaram esta semana à base localizada no leste de Cuba em um voo charter do Serviço de Imigração e Controle de Aduanas (ICE) procedente da Louisiana.
Com eles, Guantánamo volta a funcionar como centro de detenção migratória, apesar dos revés jurídicos, dos altos custos e das duras críticas que cercaram essa política durante todo o ano.
Fontes citadas pelo diário estadunidense indicam que pelo menos cinco dos recém-chegados foram classificados como “estrangeiros ilegais de alto risco” e recolhidos em uma prisão que no passado abrigou supostos membros da Al Qaeda. O restante permanece em instalações do tipo dormitório, historicamente utilizadas para migrantes caribenhos que buscavam asilo.
O Departamento de Segurança Nacional evitou esclarecer qual será o destino final desses cubanos e se serão ou não devolvidos às mãos do regime de Havana.
O retorno de cubanos a Guantánamo ocorre após meses de incertezas. Em março, funcionários estadunidenses defenderam perante os tribunais sua autoridade para reter migrantes na base, enquanto organizações como a União Americana de Liberdades Civis (ACLU) denunciavam condições “desumanas”, limitações ao acesso legal e depoimentos de detidos que descreviam o local como um “inferno vivente”, de acordo com reportagens da Associated Press.
Dias depois, a própria administração Trump retirou os últimos migrantes que permaneciam lá e os transferiu para centros de detenção nos Estados Unidos, deixando a base vazia pela segunda vez em poucas semanas.
Em abril, o tema voltou a agitar Washington quando se soube que a administração havia gastado cerca de 40 milhões de dólares em apenas um mês para manter cerca de 400 imigrantes em Guantânamo.
Senadores democratas qualificaram a operação como um desperdício desnecessário e questionaram duramente o uso de recursos militares para fins migratórios, de acordo com The New York Times.
A isso se somaram críticas por instalações sem ar condicionado nem fornecimento elétrico adequado e declarações incendiárias, como as do secretário de Estado Marco Rubio, que chegou a afirmar, segundo EFE, que alguns migrantes eram “piores que os membros da Al Qaeda”.
O contexto legal também não é irrelevante. O recente deslocamento de cubanos é o primeiro desde que uma juíza federal em Washington determinou que a administração Trump ultrapassou sua autoridade ao reter imigrantes na base naval.
Em dezembro, outra juíza bloqueou a tentativa do Governo de extinguir uma ação judicial contra esta política e deu razão, pelo menos de forma preliminar, aos argumentos da ACLU, que considera ilegal enviar migrantes para uma base militar em território estrangeiro apenas como um “espetáculo político”.
Para os cubanos, Guantánamo não é um lugar qualquer. Nos anos noventa, dezenas de milhares foram retidos lá após serem interceptados no mar, em uma experiência marcada pela incerteza e pelo desarraigo.
Hoje, décadas depois, o retorno de cidadãos cubanos a essa base revive velhos fantasmas em meio a uma crise migratória sem precedentes, onde o medo da deportação, a separação familiar e o limbo legal fazem parte do dia a dia.
Enquanto Washington insiste em defender o uso de Guantánamo como ferramenta migratória, a retomada desses envios coloca os cubanos, mais uma vez, no centro de uma política tão cara quanto controversa, cujo impacto humano continua sendo, para muitos, a parte mais dolorosa da história.
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