"Corrupto e simulador", a qualificação do regime a Alejandro Gil após condená-lo à prisão perpétua



Alejandro Gil, ex-ministro cubano, foi condenado à prisão perpétua por espionagem e corrupção.

Alejandro Gil Fernández em uma Mesa Redonda como ministro da Economia.Foto © X/Mesa Redonda

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O regime cubano anunciou nesta segunda-feira a imposição de cadeia perpétua ao ex-ministro da Economia Alejandro Gil Fernández, ao declará-lo culpado de espionagem em favor dos Estados Unidos, corrupção continuada, subtração de documentos oficiais, violação de selos e outros crimes econômicos. Uma segunda acusação, também concluída, acrescentou 20 anos adicionais de prisão, com confisco de bens e proibição de exercer funções públicas.

A severidade da condenação não surpreendeu sua família. Da Espanha, sua irmã, a jurista e ex-apresentadora María Victoria Gil, havia alertado semanas antes que a perpétua "já estava predeterminada", ao afirmar que todo o processo respondia a uma operação política do aparato repressivo.

O Tribunal Supremo Popular informou que durante as audiências orais, realizadas em novembro, foram comprovados, segundo sua versão, crimes graves que justificavam a pena máxima.

O documento oficial qualificou o ex-ministro como um funcionário “corrupto e simulador” que teria enganado o país e colocado informações classificadas “à disposição dos serviços do inimigo”.

No entanto, a acusação mais explosiva, a suposta espionagem para a CIA, nunca foi explicada publicamente, nem foi revelada qualquer evidência.

Esse vazio informativo foi preenchido pela voz mais persistente do caso: sua irmã, que denunciou uma investigação inteiramente controlada pela Segurança do Estado, com processos "criptografados" e sem garantias reais.

"A sentença já estava proferida."

Em entrevistas com Martí Noticias e El Mundo de Darwin, María Victoria afirmou que “Alejandro nega categoricamente ponto por ponto tudo relacionado com espionagem”. E embora a defesa, liderada pelo advogado Abel Solás, tenha contestado cada acusação, o desfecho, disse, era inevitável.

“Da cadeia perpétua, ela não vai se livrar. Essa sentença está predeterminada”, afirmou dias antes de o Tribunal torná-la oficial.

A queda de Alejandro Gil começou em 1 de fevereiro de 2024 com uma chamada de Marrero para informá-lo sobre sua destituição por "mau trabalho", havia apontado sua irmã.

Semanas depois, quando o ex-ministro foi novamente ao escritório do primeiro-ministro para entregar documentação, encontrou-se com dois oficiais da Segurança do Estado, que o notificaram de que estava sob investigação.

O que se seguiu, segundo a família, foi o recolhimento em casas controladas pelo MININT, um processo construído sem transparência e uma transferência para uma prisão de alta segurança, onde recebe apenas 15 minutos de visita a cada 15 dias.

María Victoria afirma que o caso não revela apenas um suposto delito, mas sim “lutas internas no poder”, onde um funcionário se torna um bode expiatório para proteger outros.

“Em um país onde toda a cúpula é corrupta, teriam que julgá-los a todos”, disse. “Por isso recorrem ao espionagem.”

Um silêncio oficial que deixa a família como a única voz

O julgamento concluiu sem cobertura da mídia oficial. Nem o Noticiário nem a imprensa estatal mencionaram o processo. Os familiares só puderam assistir após assinar documentos de confidencialidade, uma prática que busca, segundo a irmã, “silenciar as vítimas”.

Enquanto o Tribunal assegura que todas as garantias foram respeitadas, a família denuncia isolamento, opacidade e um dossiê político para condenar um dos rostos mais visíveis do desastroso “ordenamento monetário” e da crise econômica que marcou a vida dos cubanos.

A sentença de prisão perpétua já é oficial. O que continua sendo um mistério, como quase tudo no poder cubano, é por que realmente caiu Alejandro Gil?, e a quem sua condenação protege.

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