Díaz-Canel pede que os apagões sejam distribuídos de forma mais justa em Cuba: "Há desproporções"

Díaz-Canel insta a repartir os apagões de forma equitativa em Cuba, ao reconhecer desigualdades entre regiões. A crise energética se agrava com um déficit importante e falta de manutenção.

Miguel Díaz-CanelFoto © YouTube / Canal Caribe

O governante cubano Miguel Díaz-Canel pediu nesta quinta-feira “aperfeiçoar a programação elétrica” para que os apagões sejam distribuídos de maneira mais equitativa pelo país, ao reconhecer que existem “desproporções” entre províncias, municípios e cidades principais.

Desde o Palácio da Revolução, e por meio de videoconferência com autoridades do Partido Comunista, do Governo e de organizações sociais em todas as províncias e no município especial Ilha da Juventude, Díaz-Canel abordou o agravamento da situação elétrica e do abastecimento de água, insistindo na necessidade de explicar mais à população o que está sendo feito em ambos os frontes.

“É importante o tema da programação elétrica. Eu sei que dá muito trabalho, mas também temos observado que há desproporções. Às vezes, protegemos tanto a cabeceira provincial que ela tem um ciclo, digamos, relativamente confortável, enquanto há um município com 25 horas de apagão. Não pode ser”, afirmou.

O mandatário chamou as autoridades locais a agir rapidamente diante das demandas do povo, buscar soluções nas comunidades e comunicar constantemente as ações que estão sendo empreendidas: “É necessário comunicar por todos os meios possíveis sobre as ações que estão sendo realizadas tanto no setor de recursos hídricos quanto no energético para sair dessa situação complexa.”

Em outro momento, referiu-se a delitos que afetam a infraestrutura elétrica, como o roubo de transformadores ou cabos, e disse que esses atos deveriam ser punidos: “A vigilância revolucionária, companheiros. Aqui há coisas que não se podem tolerar e que devem ser sancionadas severamente. Aquele que atentarem contra uma linha elétrica, contra transformadores, contra uma subestação, contra o roubo de transformadores, roubo de óleo, roubo de cabos, vai contra a estabilidade do país e prejudica a nação.”

Em outro momento de sua intervenção, voltou a insistir em uma mensagem de resistência: “Com o calibre com que nos atacaram, para nos matar, e que estejamos vivos, e que estejamos projetando futuro, e que estejamos preparando um congresso, e que estejamos falando de soluções […] é uma expressão de que aqui ninguém vai se render”. Também declarou que “vamos lembrar depois de tudo toda a amargura desses tempos, mas também vamos recordar com muita satisfação a capacidade que tivemos de resistência, e a vontade que tivemos para vencer”.

Apagões prolongados e sistema em crise

As declarações de Díaz-Canel ocorrem em meio a uma crise energética nacional que, nesta quinta-feira, deixou um déficit de 1826 megawatts (MW) no horário de pico da noite, segundo dados oficiais da União Elétrica (UNE). Na manhã de sexta-feira, o déficit era de 1190 MW, com uma disponibilidade de apenas 1660 MW frente a uma demanda estimada de 2820 MW.

A UNE alertou que as interrupções poderiam se estender até afetar 1760 MW à noite, quase metade do consumo nacional.

Neste cenário, as queixas sobre a distribuição desigual das quedas de energia se multiplicaram. Enquanto algumas áreas do país acumulam mais de 30 horas consecutivas sem serviço elétrico, em Havana os cortes foram menores. Apenas nesta quinta-feira, a Empresa Elétrica da capital relatou 16 horas e 23 minutos de queda de energia, com impactos em todos os seis blocos da cidade.

Um sistema deteriorado por rupturas, combustível e falta de manutenção

O colapso do sistema elétrico responde a múltiplos fatores estruturais. Nesta quinta-feira, várias unidades de geração —incluindo Felton, Mariel, Santa Cruz, Nuevitas e Céspedes— estavam fora de serviço devido a falhas ou manutenção. Além disso, 53 centrais de geração distribuída estavam paralisadas por falta de combustível, e outras pela carência de lubrificantes.

A isso se soma que o próprio governo havia admitido recentemente que a termoelétrica Antonio Guiteras precisará sair de operação em breve para receber manutenção, o que agravará ainda mais as afetações. A planta, uma das principais do país, carrega anos de exploração sem o cuidado necessário, conforme reconheceram as autoridades do setor.

Comunicação, controle político e promessas sem datas

Durante o encontro, também interveio o primeiro-ministro Manuel Marrero Cruz, que valorizou o trabalho dos técnicos do setor elétrico e pediu às autoridades locais que acompanhem os delegados de circunscrição no contato direto com a população.

A linha discursiva oficial manteve o ênfase na responsabilidade externa. Díaz-Canel vinculou a crise energética com a “ingerência do governo dos Estados Unidos na Venezuela” e com o “agravamento do bloqueio americano”, que ele acusou de buscar “destruir a Revolução”.

Enquanto isso, milhões de cubanos continuam enfrentando apagões prolongados e a incerteza de um sistema elétrico que, segundo os próprios dados do governo, não tem solução imediata.

Perguntas Frequentes sobre a Crise Energética em Cuba

Por que Miguel Díaz-Canel pede uma melhor distribuição dos apagões em Cuba?

Miguel Díaz-Canel pediu uma distribuição mais equitativa dos cortes de energia em Cuba devido às "desproporções" atuais, onde algumas áreas sofrem interrupções prolongadas enquanto outras têm um ciclo mais "confortável". Este pedido surge em meio a uma crise energética que gerou apagões de até 30 horas em algumas províncias.

Qual é a principal causa da crise energética em Cuba?

A crise energética em Cuba deve-se a múltiplos fatores, como o deterioramento da infraestrutura elétrica, a falta de manutenção e a escassez de combustíveis. O sistema elétrico cubano está tecnologicamente obsoleto, com termelétricas que já ultrapassaram sua vida útil e que não receberam os investimentos necessários para sua modernização.

Quais medidas o governo cubano propôs para resolver a crise energética?

O governo cubano propôs várias medidas, incluindo o investimento em energias renováveis, como a instalação de painéis solares e a recuperação da geração distribuída. No entanto, essas medidas não tiveram um impacto visível devido à falta de combustível e a problemas estruturais do sistema energético.

Como a população cubana tem reagido aos apagões?

A população cubana tem reagido com crescente descontentamento diante dos apagões prolongados. Foram relatadas protestas e manifestações em várias províncias, refletindo o descontentamento dos cidadãos. A falta de eletricidade tem contribuído para um clima de mal-estar social, exacerbado pela escassez de alimentos, água e serviços básicos.

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