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O brutal assassinato de um gerente de motel em Dallas, cometido pelo cubano Yordanis Cobos-Martínez, foi utilizado por o presidente Donald Trump e pelo Departamento de Segurança Nacional (DHS) para endurecer seu discurso contra a imigração ilegal e justificar uma medida extrema como a de deportar imigrantes indocumentados para países que não são os de origem.
O Supremo Tribunal já aprovou essa política em junho, abrindo as portas para que centenas de migrantes, incluindo cubanos rejeitados por Havana, sejam enviados a nações onde os espera o isolamento, a violência ou a prisão.
Os destinos do medo
Em sua última declaração, o DHS enumerou os lugares onde migrantes como Cobos poderiam acabar:
- Esuatini: a última monarquia absoluta da África, governada pelo rei Mswati III desde 1986. Um país empobrecido, sem partidos políticos livres e com protestos reprimidos a sangue e fogo. Para um cubano, o exílio em Esuatini significa cair em um canto desconhecido do mundo, sem redes de apoio e sob um regime repressivo.
- Uganda: apontado por organismos internacionais por violações sistemáticas dos direitos humanos e perseguição contra minorias. O país se tornou um símbolo da repressão estatal, onde os migrantes correm o risco de serem invisíveis e vulneráveis diante de abusos.
- Sudão do Sul: uma nação marcada pela guerra civil, pela fome e uma das piores crises humanitárias do planeta. Ser enviado para lá é praticamente uma condenação à miséria, sem vínculos culturais e sem possibilidade real de recomeçar a vida.
- CECOT (El Salvador): a megacárcere de máxima segurança construída por Nayib Bukele, onde milhares de gangues cumprem penas sob condições extremas. Migrantes com histórico criminal podem ser transferidos para este complexo, o que equivale a desaparecer em uma prisão temida mesmo dentro da América Latina.
Cubanos presos no limbo
Cuba se recusa sistematicamente a receber seus cidadãos com antecedentes criminais graves, o que deixa dezenas de cubanos indocumentados presos em um limbo legal. Sob Trump, esse vazio está sendo preenchido com destinos que parecem tirados de um pesadelo.
Ya há um precedente. Em julho, um cubano condenado por assassinato em primeiro grau e ligado à gangue Latin Kings foi deportado para Esuatini junto com outros quatro migrantes classificados pelo DHS como “monstros depravados”. O homem agora cumpre isolamento em uma prisão africana, longe de sua família e sem garantia de repatriação.
Organizações de direitos humanos alertam que essa prática viola princípios básicos de proteção internacional, ao expor pessoas a contextos de violência, pobreza extrema e repressão.
Uma política com rosto humano
Para os migrantes cubanos, a ameaça não é apenas a deportação, mas o desterro para lugares onde não existem laços familiares nem comunitários. Muitos deles chegaram aos Estados Unidos em busca de refúgio diante da crise da ilha; agora enfrentam a possibilidade de serem enviados para regiões onde a sobrevivência é incerta e a dignidade é reduzida a zero.
O caso de Cobos serviu como um catalisador político, mas a medida não faz distinção entre criminosos violentos e aqueles que simplesmente entraram de forma irregular no país. O resultado é o mesmo: o risco de que um cubano seja arrancado de sua vida nos EUA para acabar em uma cela em El Salvador ou perdido em um país africano onde ninguém fala seu idioma nem compartilha sua história.
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