Uma falha maciça no Sistema Elétrico Nacional (SEN) provocou um apagão geral no Oriente de Cuba neste domingo, deixando várias províncias da região sem serviço elétrico e causando também impactos no ocidente do país, particularmente na unidade 6 da termoelétrica de Mariel.
Segundo a União Elétrica (UNE), a interrupção ocorreu às 19h37 do dia 7 de setembro, quando a linha de 220 kV Nuevitas-Tunas disparou, desconectando completamente o sistema de Las Tunas até Guantánamo.

A entidade estatal indicou que estavam sendo investigadas as causas, embora posteriormente o jornalista oficialista Lázaro Manuel Alonso tenha informado em suas que a desconexão foi provocada por “condições meteorológicas adversas” e uma geração muito baixa na zona oriental no momento do evento.
Além disso, a queda de energia gerou consequências na zona ocidental: a unidade 6 da termelétrica de Mariel saiu de operação e sua reintegração está prevista para esta segunda-feira, segundo o mesmo relatório.
Após o colapso, foram iniciados os trabalhos de recuperação. Durante a noite, a UNE informou em que Las Tunas foi a primeira província a ser reconectada, e a partir daí começou um processo escalonado de reenergização.
Pouco depois, a corrente chegou a Camagüey, Holguín e às principais subestações dessas províncias.
A empresa também confirmou que havia sido alcançada com energia Santiago de Cuba, e que o objetivo era continuar avançando em direção ao extremo oriental do país.
Nesse sentido, foi proposta a estratégia de alcançar os motores de Moa e, em seguida, a planta de Renté, em Santiago, com o objetivo de colocar em operação sua unidade 6 e fortalecer a geração local.
Na madrugada de segunda-feira, o Ministério de Energia e Mineração anunciou oficialmente que Guantánamo já havia sido reconectado. “A energia já chegou a Guantánamo. Continua a restauração do Sistema Elétrico no leste de Cuba”, informou a entidade em .
Apesar desses anúncios, a situação continua crítica. O déficit de geração no país é muito elevado, o que mantém os apagões prolongados, como reconheceu a própria UNE e meios oficiais como Canal Caribe.
Os frequentes colapsos do SEN refletem o deterioro estrutural da infraestrutura energética em Cuba, assim como a ineficiência na planeação e manutenção do sistema. Enquanto isso, milhões de cubanos continuam enfrentando cortes diários de eletricidade sem uma solução definitiva à vista.
Cuba às escuras: Cronologia de uma crise energética sem fim
O colapso do Sistema Elétrico Nacional (SEN) ocorrido neste 7 de setembro no leste do país não é uma exceção, mas sim parte de uma cadeia ininterrupta de apagões em massa que refletem o profundo e estrutural deterioração do sistema energético cubano.
Apesar dos repetidos anúncios oficiais e estratégias de contingência, a situação não só não melhora, como se agrava com o passar do tempo.
Durante os primeiros dias de setembro, a população já vivia sob alertas constantes. A União Elétrica advertia que a demanda superava amplamente a capacidade de geração, que unidades chave estavam fora de serviço e que o sistema operava em condições de instabilidade crítica.
O déficit nacional girava em torno de 1.900 MW, praticamente metade da demanda total, e com várias termoelétricas paralisadas, entre elas Mariel 6, Felton 2, Diez de Octubre 5 e Guiteras.
Este novo apagão, que deixou todo o oriente do país sem serviço elétrico e afetou a região ocidental, se soma a uma sequência de eventos similares que têm abalado a Ilha nos últimos anos.
Em agosto, Havana e outras cidades enfrentaram apagões prolongados devido a um déficit próximo a 1.800 MW, enquanto em junho foi relatado outro colapso do SEN, com números ainda mais altos de afetados.
O sistema elétrico cubano opera há anos em condições precárias. Muitas de suas usinas térmicas têm mais de 40 anos de exploração, há escassez crônica de combustível, falta de peças de reposição e pessoal técnico desmotivado ou emigrado.
As soluções propostas pelo regime, como a instalação de geradores móveis ou a segmentação do sistema por regiões, falharam em proporcionar estabilidade duradoura.
A isso se soma a percepção cidadã de uma priorização do turismo e das zonas de interesse econômico, enquanto os lares enfrentam apagões diários de entre 8 e 16 horas. Durante um dos colapsos mais recentes, os hotéis continuaram iluminados enquanto cidades inteiras ficavam às escuras.
A situação gerou descontentamento social, protestos em várias províncias orientais e um profundo deterioração da qualidade de vida, afetando o abastecimento de água, a conservação de alimentos, o acesso a serviços de saúde, a educação e a vida profissional.
Cronologia de recentes apagões massivos e colapsos do SEN em Cuba
- 7 de setembro de 2025
- Desconexão total do sistema elétrico no oriente após disparo da linha Nuevitas-Tunas. Serviços são interrompidos de Las Tunas até Guantánamo. Mariel 6 também fica fora de serviço.
- 4 de agosto de 2025
- Déficit recorde de 1.799 MW. Registram-se apagões em Havana, no ocidente e no centro do país.
- 26 de junho de 2025
- O déficit supera 1.800 MW. Relatórios de todas as províncias confirmam apagões prolongados de mais de 10 horas.
- 22 de mayo de 2025
- Apagões massivos geram protestos em Santiago e Holguín. Se mantiene un déficit superior a los 1,700 MW. El viceministro de Energía y Minas, Argelio Jesús Abad Vigoa, aseguró que los apagones que afectan a millones de cubanos não eram consequência de erros internos, mas do "bloqueio criminoso norte-americano contra Cuba".
- 15 de marzo de 2025
- Apagão geral em todo o país. Las principales ciudades y zonas rurales quedan sin servicio. Se reporta que solo los hoteles mantienen la electricidad.
- 16 de março de 2025
- Uma pesquisa revela que 72 % dos cubanos ainda estavam sem eletricidade após a falta de energia do dia anterior. Em Santiago, apenas foi possível conectar parcialmente menos de um terço dos clientes.
- 22 de octubre de 2024
- Apagón total en Santiago de Cuba. Os vizinhos relatam apenas 3 horas de eletricidade diárias.
- 8 de noviembre de 2023
- Se registra un apagão geral em várias províncias do leste.
- 19 de outubro de 2024
- A termoelétrica Guiteras sai do sistema. Um apagão nacional ocorre. Os aeroportos operam às escuras.
Esta cronologia reflete claramente que os colapsos do SEN não são isolados, mas sim sintomas de uma crise energética sistêmica. Enquanto o governo continua a culpar fatores externos, a infraestrutura nacional continua a falhar, deixando milhões de cubanos literalmente às escuras.
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