
Vídeos relacionados:
Um jovem espanhol acusado de participar nos distúrbios durante a recente greve do metal em Cádiz foi recebido em Cuba com honras pelo Instituto Cubano de Amizade com os Povos (ICAP). A cena, que poderia parecer um ato nobre de apoio a causas sociais, revela, no entanto, uma profunda contradição: na ilha, quem protesta é considerado inimigo do Estado.
O jovem, cuja detenção no aeroporto de Madrid foi tratada como um possível intento de fuga por parte da Polícia espanhola, finalmente conseguiu voar para Cuba junto com sua esposa após ser liberado sem medidas cautelares. A viagem fazia parte da sua lua de mel, mas na ilha foi elevado a símbolo político, informou CádizDirecto.
“Fizeram-nos sentir como defensores de uma causa, não como criminosos”, disse a esposa do espanhol após serem recebidos oficialmente por autoridades do ICAP, lideradas pelo diretor para a Europa, Rigoberto Zarza Ross.
O problema não está no gesto em direção ao parceiro, nem em sua luta: as reivindicações dos trabalhadores e a organização sindical são direitos fundamentais que devem ser respeitados. A verdadeira pergunta é por que o regime cubano aplaude esse tipo de ativismo quando ocorre em outro país, mas encarceram, reprimem e estigmatizam os cubanos que fazem o mesmo em sua própria terra.
A mesma Cuba que oferece hospitalidade a este espanhol qualificou de “mercenários” os seus próprios cidadãos que se manifestaram pacificamente em 11 de julho de 2021. Vários deles ainda cumprem penas de até 20 anos de prisão. Nenhuma instituição oficial os chamou de “lutadores” nem lhes deu uma “recepção solidária”.
“Depois de tudo o que passamos, isso é como respirar ar puro”, acrescentou a mulher, em uma frase que poderia soar irônica para tantos cubanos que não têm liberdade de movimento, nem justiça independente, nem direito a protestar sem serem criminalizados.
De detido em Barajas a “amigo do povo cubano”
A detenção do jovem em Barajas ocorreu no âmbito da operação policial "Fuego", após as manifestações do setor metalúrgico em Cádiz, que resultaram em mais de uma vingtaine de detenções. As autoridades o acusam de desordens públicas e atentado contra a autoridade, mas não lhe impuseram medidas cautelares, o que lhe permitiu viajar.
A dupla chegou a Cuba neste fim de semana e foi recebida com “carinho e respeito”, segundo contaram. “Aqui nos trataram como lutadores”, disseram. Para o ICAP, o gesto se encaixou dentro de seu tradicional apoio a “movimentos sociais perseguidos” em outras partes do mundo.
No entanto, essa narrativa contrasta com a política interna do regime, que tem reprimido com severidade qualquer tentativa de organização independente, desde ativistas de direitos humanos até sindicalistas, jornalistas ou simples cidadãos que pedem mudanças.
Não é a primeira vez que o governo cubano utiliza politicamente sua hospitalidade em relação a estrangeiros. Já fez isso antes com membros do movimento zapatista, com antigos militantes latino-americanos e, mais recentemente, com ex-presos políticos bascos ou catalães. Para muitos, trata-se de uma estratégia propagandística que busca reforçar sua imagem como "baluarte das causas justas", enquanto ignora suas próprias causas.
O caso deste turista convertido em símbolo de “resistência” parece seguir essa mesma lógica. Uma história de lua de mel truncada, transformada em vitrine política para limpar a imagem de um sistema que, por trás das portas, nega a seus cidadãos os mesmos direitos que proclama para outros.
Este episódio volta a colocar em pauta a dupla moral do regime. Não se trata de questionar a legitimidade das lutas sociais na Espanha, nem de desvalorizar o apoio a causas trabalhistas. Trata-se de apontar uma hipocrisia sistemática: a Cuba oficial elogia ativistas estrangeiros enquanto condena seus próprios cidadãos por ousarem levantar a voz.
Perguntas frequentes sobre a recepção de ativistas estrangeiros em Cuba e o duplo padrão do regime
Por que foi recebido com honras em Cuba o espanhol detido em Barajas?
O espanhol foi recebido com honras pelo Instituto Cubano de Amizade com os Povos (ICAP) como parte do apoio do regime a movimentos sociais estrangeiros, apesar de que em Cuba se reprime qualquer forma de protesto similar.
Qual é a contradição na postura do regime cubano em relação às manifestações?
O regime cubano apoia abertamente manifestações e ativistas estrangeiros, enquanto reprime e criminaliza seus próprios cidadãos que tentam exercer direitos semelhantes, como o direito de protestar pacificamente.
O que simboliza a recepção do espanhol pelo ICAP?
A recepção simboliza uma estratégia de propaganda do regime cubano para reforçar sua imagem internacional como defensor de causas justas, enquanto ignora as violações dos direitos humanos dentro do país.
Que consequências enfrentam os cubanos que protestam pacificamente?
Os cubanos que protestam pacificamente são frequentemente encarcerados, estigmatizados e condenados a longas penas de prisão, como ficou evidente após as manifestações de 11 de julho de 2021, onde vários participantes receberam penas de até 20 anos.
Arquivado em: