Díaz-Canel admite erros na condução da economia cubana: “Não saiu tudo bem”

Díaz-Canel reconheceu erros na gestão econômica durante uma entrevista em que falou sobre o bloqueio, a crise energética, a escassez de alimentos e o colapso dos serviços.

Miguel Díaz-Canel em entrevista com Breno AltmanFoto © Captura de Vídeo/Youtube/Desde a Presidência

Miguel Díaz-Canel admitiu falhas na condução econômica do país, durante uma entrevista concedida ao jornalista brasileiro Breno Altman. Em um gesto incomum de autocrítica, o mandatário reconheceu que a crise atual não é apenas resultado do embargo dos Estados Unidos, mas também de erros internos de sua gestão.

“Seria desonesto dizer que não foram cometidos erros. É impossível não cometer erros quando se trabalha sob estas pressões”, disse o governante cubano do Palácio da Revolução, em uma entrevista transmitida pelo canal de Youtube da Presidência de Cuba.

Captura do Facebook/CMHW A Rainha Radial do Centro

Díaz-Canel insistiu que a causa “fundamental” da crise continua sendo o “bloqueio criminoso” dos Estados Unidos, especialmente as sanções impostas durante o governo de Donald Trump e mantidas pela administração Biden e retomadas novamente por Trump em seu segundo mandato. No entanto, reconheceu que também convergem fatores internos que aprofundaram o deterioro da vida na ilha.

“Houve uma coincidência do bloqueio e uma coincidência de incongruências, erros na implementação de determinadas medidas econômicas projetadas para melhorar a situação e que não tiveram todo o impacto possível”, confessou.

Entre esses falhas, mencionou a fracassada Tarefa Ordenamento, a mentalidade importadora do país, a falta de investimento em setores estratégicos como a agricultura e as fontes renováveis, e problemas graves como a corrupção, a ineficiência administrativa e a fuga de profissionais.

O presidente reconheceu que os dois maiores problemas atuais são o déficit energético e a insegurança alimentar. O primeiro, objeto de incontáveis queixas da população pelos apagões diários, foi descrito por Díaz-Canel como resultado de termoelétricas obsoletas, falta de peças de reposição e impossibilidade de realizar investimentos.

“O sistema tem uma estrutura com mais de 40 anos de obsolescência tecnológica”, admitiu. “Não fomos eficientes na gestão dos poucos recursos disponíveis”, acrescentou.

Sobre a alimentação, reconheceu a incapacidade do país para sustentar a cesta básica: “Não fizemos os investimentos necessários na agricultura e na produção de alimentos”.

O mandatário também admitiu que as “conquistas” históricas da Revolução, saúde e educação gratuitas, têm sido afetadas. Indicou que mais de 70% do quadro básico de medicamentos está desabastecido e que a mortalidade infantil, tradicional emblema das conquistas do sistema, piorou.

“Nos afetou significativamente. Não estamos de braços cruzados, mas os indicadores se deterioraram”, apontou.

No caso do setor educacional, falou sobre problemas com a equipagem, a impressão de livros, a perda de poder aquisitivo dos professores e o êxodo em massa de profissionais.

Apesar do diagnóstico sombrio, Díaz-Canel insistiu que o modelo socialista cubano é a única alternativa possível para o país.

“Embora o bloqueio nos aperte ainda mais, vamos responder com talento, criatividade e inovação”, argumentou.

No entanto, sua afirmação contrasta com a crescente insatisfação popular dentro da ilha e entre os cubanos emigrados, que observam com ceticismo um discurso oficial desgastado após décadas de promessas não cumpridas.

Um apelo que não convence

Ao longo da entrevista, Díaz-Canel fez constantes apelos à resistência, à unidade do povo e aos valores éticos da Revolução. No entanto, seu discurso é superado pela realidade: uma ilha empobrecida, uma população sobrecarregada por carências e um êxodo sem precedentes.

Para milhares de cubanos que vivem diariamente os apagões, a escassez e os altos preços, as palavras do governante não são consolo, mas sim prova do fracasso de um modelo que insiste em culpar o bloqueio enquanto evita responsabilidades mais profundas.

Perguntas frequentes sobre a crise econômica e energética em Cuba

Quais são os principais erros reconhecidos por Díaz-Canel na gestão econômica de Cuba?

Díaz-Canel admitiu erros internos na gestão econômica de Cuba, destacando a fracassada Tarefa de Ordenamento, a mentalidade importadora, a falta de investimento em setores estratégicos como a agricultura e as energias renováveis, além de problemas de corrupção e ineficiência administrativa.

Qual é a causa da crise energética em Cuba segundo Díaz-Canel?

Díaz-Canel atribui a crise energética ao embargo dos Estados Unidos e à obsolescência tecnológica das termelétricas. No entanto, ele também reconheceu a falta de investimentos e os erros de gestão como fatores que agravam a situação.

Quais medidas o governo cubano propõe para resolver a crise energética?

O governo cubano planeja investir em energias renováveis, como a instalação de painéis fotovoltaicos, e na reparação de usinas termelétricas. Espera-se incorporar 1.000 MW de energia renovável até o final do ano, embora os prazos e o financiamento exato não tenham sido detalhados.

Como a crise afeta os serviços básicos em Cuba?

A crise afeta gravemente os serviços básicos em Cuba. Os apagões prolongados interromperam o fornecimento de água potável, a refrigeração de alimentos e o funcionamento de hospitais e escolas, exacerbando o descontentamento social.

Qual foi a resposta da população cubana às declarações de Díaz-Canel?

A população cubana reagiu com ceticismo e descontentamento diante das declarações de Díaz-Canel. Os protestos e o crescente descontentamento social refletem a frustração em relação a um discurso oficial que é percebido como desconectado da realidade cotidiana.

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