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Em meio ao crescente rejeição ao aumento das tarifas de internet em Cuba, a Federação Estudantil Universitária (FEU) apresentou nesta quarta-feira um relatório com mais de 40 propostas dirigidas à Empresa de Telecomunicações (ETECSA), após as reuniões entre ambas as partes.
Sem dúvidas, o documento surge como uma medida de contenção política em um contexto marcado por protestos estudantis, paralisações de aulas e crescente descontentamento juvenil. Tal panorama leva a uma pergunta: representação estudantil ou controle político disfarçado?
O encontro de quarta-feira, apresentado em um reportagem na televisão nacional, foi presidido por representantes do Partido Comunista, do Governo, da UJC e da própria FEU, em que claramente se estruturou como uma estratégia de apaziguamento após a onda de críticas ao novo esquema de preços dos pacotes de dados móveis, implementado pela ETECSA.
Embora tenham sido apresentadas propostas que variam desde ajustes técnicos até mudanças na estratégia de comunicação da empresa, o tom geral do encontro foi mais próximo de uma defesa encoberta da empresa estatal do que de uma representação genuína do descontentamento juvenil.
Além dos resultados, a realidade expõe a desconexão entre os líderes da FEU e a maioria do estudante, que exigia uma posição firme e direta em relação ao chamado “tarifazo”.
Desculpas e até elogios à ETECSA
Uno dos momentos mais polêmicos foi protagonizado por Luis Yoel González, vice-presidente da FEU na Universidade de Ciências Pedagógicas, que após agradecer os debates, reconheceu o esforço da ETECSA e chamou a compreender a medida “a partir das informações recebidas”, suavizando assim a rejeição inicial, de acordo com o que foi publicado pelo site oficial Cubadebate.
Na mesma linha, José Alberto Almeida, da FEU de Havana, ressaltou o nível técnico dos especialistas da ETECSA e propôs que os universitários façam parte das soluções nacionais, em um discurso alinhado com a narrativa oficial.
Estas intervenções podem ser vistas como uma traição à protesto legítimo que se manifestou nas redes e nos campi, onde a interrupção das aulas foi uma forma clara de expressar que a conectividade em Cuba não é um privilégio: é uma necessidade.
Propostas úteis ou manobra política?
Entre as iniciativas mencionadas estão: revisão da política de preços e pacotes de dados; projetos de impacto social e econômico; diagnóstico de falhas técnicas (baterias, nós, infraestruturas); criação de um manual para tempos de crise, e propostas de “comunicação efetiva” para se aproximar do público.
Mas nenhuma menção concreta a uma redução tarifária imediata ou a um redesenho inclusivo do acesso à internet no país. Também não foram oferecidos prazos vinculativos nem mecanismos reais de fiscalização cidadã.
A julgar pelo conteúdo, o grupo multidisciplinar parece mais um instrumento de legitimação institucional do que uma plataforma de pressão real da base estudantil.
O dilema da FEU: voz dos estudantes ou braço do poder?
Este episódio marca um novo capítulo na crise de legitimidade da FEU, uma organização historicamente utilizada como correia de transmissão das estruturas políticas do país. Apesar do discurso de “intercâmbio franco e aberto”, o que ocorreu esta semana demonstra que os líderes estudantis optaram pelo acomodamento político e não pelo apoio popular.
Enquanto isso, a maioria dos universitários em Cuba continua enfrentando sérias dificuldades para se conectar, em um país onde o acesso à internet ainda é um luxo segmentado por classe e região geográfica.
De fato, sob a pressão do regime e seus aparelhos, a Faculdade de Matemática e Computação (MATCOM) da UH anunciou na segunda-feira, 9 de junho, a desconvocação da paralisação docente iniciada no dia 4 de junho, após receber compromissos concretos por parte do Ministério da Educação Superior e da ETECSA.
O relatório apresentado pela FEU não acalmou as águas. Pelo contrário, expôs o abismo entre uma liderança que pede paciência e compreensão e uma juventude que exige mudanças reais e voz própria. Se algo ficou claro neste capítulo, é que a verdadeira representação estudantil não se constrói com elogios ou desculpas, mas sim com coragem e coerência.
Perguntas frequentes sobre os protestos estudantis e o aumento de tarifas da ETECSA em Cuba
Quais propostas a FEU apresentou à ETECSA em resposta ao aumento de tarifas?
A Federação Estudantil Universitária (FEU) apresentou mais de 40 propostas à ETECSA, que incluem a revisão da política de preços, a criação de um manual para tempos de crise e projetos de impacto social. No entanto, não foram oferecidos prazos nem mencionadas reduções tarifárias imediatas, o que gerou dúvidas sobre a efetividade dessas iniciativas.
Como tem respondido o estudante cubano ao aumento das tarifas da ETECSA?
O aumento das tarifas da ETECSA provocou uma onda de protestos nas universidades cubanas, onde os estudantes expressaram seu completo descontentamento com as novas tarifas, argumentando que prejudicam o acesso equitativo à educação e à informação. Muitos estudantes exigem a renúncia dos líderes da FEU por não representarem seus interesses e apoiarem o regime.
Que papel tem desempenhado a FEU nos protestos contra a ETECSA?
La FEU tem sido criticada por sua postura ambivalente. Embora a princípio tenham rejeitado o aumento das tarifas, muitos de seus líderes rapidamente se alinharam com o discurso oficial, o que gerou desconfiança entre os estudantes. Seu papel tem sido visto mais como uma tentativa de apaziguar os protestos do que de representar verdadeiramente o estudante.
Por que se acusa a FEU de ser um braço do poder em Cuba?
A FEU é acusada de agir como um braço político do Partido Comunista porque, apesar das reclamações dos estudantes, defendeu as medidas do regime e desconsiderou os protestos, acusando "inimigos da revolução" de manipular o descontentamento. Isso gerou uma crise de legitimidade e desconfiança em relação à organização estudantil.
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