Uma suposta rede dedicada a "enganar" a ETECSA com recargas internacionais foi exposta na televisão cubana durante o programa "Hacemos Cuba", do Canal Caribe.
El esquema implica a “um cubano residente nos Estados Unidos” com vínculos nas províncias de Havana, Artemisa e Holguín.
A fonte oficial -que não precisou o número de prisões relacionadas ao caso- detalhou que em três buscas domiciliares na capital, a polícia apreendeu mais de 40 milhões de pesos em moeda nacional, além de “um carro, uma antena satelital, máquinas de contar dinheiro, computadores, cartões magnéticos e telefones”.
O caso aponta para uma rede que operava através de plataformas digitais como Soky Recargas Online, que simulavam oferecer recargas internacionais a cubanos na ilha, mas que na realidade transferiam saldos nacionais, ficando com a moeda fora do país, conforme alega a empresa estatal.
Como funcionava?
O coronel do Ministério do Interior (MININT), Marcos Yobany Rodríguez González, disse que essas plataformas operavam como se fossem oficiais e ofereciam promoções semelhantes às da ETECSA, mas o dinheiro nunca chegava à empresa cubana.
Alegam que em vez de realizar uma verdadeira recarga internacional, o que se fazia era uma recarga nacional dentro do país, utilizando saldo acumulado por agentes de telecomunicações ou intermediários locais.
Dizem que dessa forma, o cliente em Cuba recebia saldo, mas não os benefícios habituais que a ETECSA oferece em suas promoções, como "dados ilimitados das 12:00 às 7:00" ou WhatsApp livre.
“A divisa ficava nas mãos deles”, explicou o coronel Rodríguez. “O nacional o que tinha era um distribuidor que recarregava saldo a nível nacional”, acrescentou.
O esquema se tornava ainda mais lucrativo graças ao diferencial cambial no mercado informal.
ETECSA diz que se um usuário no exterior enviasse $20 USD, em vez de usar um distribuidor oficial, trocaria esse dinheiro no mercado negro, onde o dólar supera 370 CUP.
A citada fonte oficial revelou que isso permitia aos responsáveis pelo negócio comprar múltiplos pacotes nacionais de 110 CUP e revender o saldo. Assim, multiplicavam seus ganhos enquanto o cliente em Cuba recebia um serviço de menor valor.
Quando a recarga não é o que parece
Uma diretiva da ETECSA -não identificada- mencionou que os usuários começaram a se aproximar das oficinas da companhia para reclamar sobre os serviços prometidos por seus familiares no exterior: recargas que não incluíam os gigas, as mensagens ou os benefícios noturnos.
Michel Rodríguez Averoff, diretor de Cibersegurança da ETECSA, explicou como identificar a diferença: a mensagem que acompanha uma recarga internacional legítima contém bônus adicionais que não aparecem em uma recarga nacional.
“Muitas pessoas receberam um plano combinado nacional como se fosse uma recarga internacional”, esclareceu.
Advirtió, além disso, que só existem 16 distribuidores oficiais autorizados pela ETECSA para realizar recargas internacionais, e que qualquer outro site ou plataforma que as ofereça não está legalmente validado pela empresa.
Um delito que o regime cubano classifica como “sabotagem”
O chefe do Ministério Público da Direção de Processos Penais, José Luis Reyes Blanco, informou que os fatos citados classificam-se como "sabotagem", ao implicar um dano econômico direto ao Estado e a uma infraestrutura crítica.
"O beneficiário está sendo vítima do processo", esclareceu o promotor, e precisou que "toda a estrutura em torno da venda da recarga está cometendo um delito”, acrescentou.
As autoridades destacam que o impacto não é apenas financeiro - nas divisas que a ETECSA deixou de receber - mas afeta também o funcionamento técnico e comercial do serviço, que se sustenta com esse fluxo econômico.
Além do sabotagem, o Ministério do Interior e a Procuradoria mencionam possíveis delitos conexos como "fraude, tráfico ilegal de divisas e uso indevido de licenças comerciais".
As investigações continuam, segundo o Ministério do Interior, “com as garantias legais que estabelece a lei cubana”.
A referência a tais "fraudes" foi uma das desculpas usadas pela ETECSA para impor a impopular medida que, há poucas semanas, desencadeou uma onda de descontentamento entre os cidadãos ao limitar as recargas em moeda nacional a um máximo de 360 pesos cubanos (CUP) a cada 30 dias.
Em resposta às críticas, a Empresa de Telecomunicações de Cuba anunciou nesta sexta-feira um novo plano de dados móveis de 2 GB por 1.200 pesos cubanos, disponível a partir do dia 20 de junho.
Perguntas Frequentes sobre a Fraude à ETECSA e a Crise de Telecomunicações em Cuba
Como operava a rede de fraude relacionada com as recargas internacionais da ETECSA?
A rede de fraude operava simulando recargas internacionais através de plataformas digitais não oficiais como Soky Recargas Online. Em vez de realizar uma verdadeira recarga internacional, era feita uma recarga nacional utilizando saldo acumulado por agentes de telecomunicações ou intermediários locais. Assim, o cliente em Cuba recebia saldo, mas não os benefícios habituais da ETECSA, enquanto a moeda ficava fora do país.
Por que o regime cubano classifica a fraude à ETECSA como "sabotagem"?
O regime cubano classifica a fraude à ETECSA como "sabotagem" porque considera que essas atividades afetam uma infraestrutura crítica como o sistema de telecomunicações. O promotor José Luis Reyes Blanco indicou que o fraude constitui um dano econômico direto ao Estado, impactando tanto a receita em divisas quanto o funcionamento técnico e comercial do serviço da ETECSA.
Quais medidas a ETECSA tomou para enfrentar a crise financeira decorrente desses fraudes?
Para enfrentar a crise financeira, a ETECSA impôs um limite de recargas em moeda nacional de 360 CUP mensais e promoveu pacotes de dados em dólares americanos. A empresa argumenta que essas medidas são necessárias para captar divisas e sustentar a rede, embora tenham sido percebidas como uma "dolarização encoberta" que aumenta a desigualdade econômica.
Como tem reagido a população cubana diante das novas medidas da ETECSA?
A população cubana reagiu com indignação às novas medidas da ETECSA. Muitos usuários consideram que essas medidas excluem aqueles que não têm acesso a divisas estrangeiras e reforçam a desigualdade econômica e digital no país. Foram registradas protestos nas redes sociais e apelos para boicotar as recargas internacionais como forma de protesto contra o regime.
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