O escritor Enrique del Risco reúne 2.300 assinaturas de intelectuais para que os universitários contra o aumento das tarifas da ETECSA saibam que "não estão sozinhos"

O autor de "Nuestra hambre en La Habana: Memorias del Período Especial de la Cuba de los 90" explica em entrevista com a CiberCuba que escreve para compreender a vida que lhe tocou viver. "Eu vou contra o fluxo", confessa

O escritor e humorista cubano Enrique del RiscoFoto © CiberCuba

O escritor e humorista cubano Enrique del Risco, Enrisco, lançou neste 7 de junho uma coleta de assinaturas de artistas, intelectuais e jornalistas cubanos contrários à repressão dos universitários da Ilha que protestaram após o aumento das tarifas da ETECSA.

Sem esforço, o autor de "Nossa fome em Havana: Memórias do Período Especial da Cuba dos anos 90" conseguiu reunir nomes do mundo cultural cubano (também latino-americano) que dificilmente se encontram física ou virtualmente. Ele foi além dos "suspeitos habituais" e em sua lista há uma diversidade que raramente se reúne.

En uma entrevista concedida nesta segunda-feira à CiberCuba, o humorista da "Plegaria a San Zumbado" explicou que esse desafio à desunião da intelectualidade cubana exilada ou emigrante o levou a agir para que os estudantes que levantaram a voz nas faculdades da Ilha "saibam que não estão sozinhos". E não só isso, para que estejam cientes de que suas manifestações têm o apoio daqueles que em seu momento não o fizeram, embora o escritor reconheça que "todos quisemos fazer isso alguma vez".

Enrisco não é dado a se meter em confusões, por isso nem ele mesmo sabe por que decidiu organizar uma coleta de assinaturas, recorrendo, em primeiro lugar, à sua própria agenda e tendo que lidar, às vezes, com a resposta negativa de quem não quer saber da iniciativa que ele promoveu no change.org com o título "Não à repressão contra os universitários cubanos". E ao contrário, com aqueles que querem, a todo custo, aparecer na lista, mas a plataforma não permite visibilizar 100% dos nomes.

"A ideia nem é minha. Alguém me disse: 'Olha, Enrique, eu acho que você deveria fazer isso'. Eu estou em outro projeto e está sendo um pouco pesado. É muito difícil ficar escrevendo para as pessoas, até porque alguns te respondem que não de uma maneira feia, embora desta vez tenha sido muito pouco, para ser sincero", comentou em uma entrevista de uma hora e meia de duração, na qual também revisitou sua odisséia no exílio, desde que saiu de Cuba em 1995, chegou à Espanha, não conseguiu a concessão do asilo político e, dois anos depois, conseguiu se mudar para os Estados Unidos. Vive há trinta anos em Nova Jersey e trabalha em Nova York como professor.

"Fizemos isso, por um lado, para que os estudantes em Cuba se sintam apoiados, que saibam que suas reivindicações não caem no vazio, que não estão sozinhos. Mas também para que o exílio, as pessoas que estão fora de Cuba, exiladas ou não, cubanos ou não, sintam que esta causa também lhes pertence e deve ser deles."

Em sua conversa com a CiberCuba, Enrisco comentou sobre o que foram os anos 70 na Ilha, uma época que ele lembra como "norcoreana"; criticou a intelectualidade a serviço do totalitarismo, que "diz o que quer dizer, em uma linguagem tolerada" pelo regime; falou sobre o quanto valoriza a liberdade porque "ser livre não tem preço" e, como não poderia deixar de ser, do que significa o humor para quem, como ele, se dedicou a escrever textos para serem levados ao teatro por humoristas como Osvaldo Doimeadiós. "Para mim, o humor é a parte mais rica da vida".

Neste momento, Enrisco está preparando uma viagem a Madrid, prevista para o dia 11 de julho, para apresentar uma antologia de textos sobre o impacto da Perestroika na intelectualidade cubana do final dos anos 80. Ele também tem trabalhado em um livro sobre o escritor Cirilo Villaverde, que, assim como ele, também foi exilado em Nova York. Enrisco explica que Villaverde conviveu com Martí, embora, ao que parece, a relação não tenha sido fluida, razão pela qual Martí só fez menção ao autor de "Cecilia Valdés o la Loma del Ángel" em uma necrológica.

"Eu escrevo para me explicar sobre a minha vida e a vida em geral", disse a esta plataforma, resignado com o fato de que ele é um intelectual que vai "contra a corrente".

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Tania Costa

(Havana, 1973) vive na Espanha. Ela dirigiu o jornal espanhol El Faro de Melilla e FaroTV Melilla. Foi chefe da edição de Murcia do 20 minutos e assessora de Comunicação da Vice-Presidência do Governo de Múrcia (Espanha).