Régimen cubano e União Europeia abrem rodada de diálogos em meio a críticas pelo arresto de opositores

A UE e Cuba realizam diálogos em Bruxelas, apesar das críticas pela prisão de opositores. Organizações denunciam avanços nulos em direitos humanos sob o acordo vigente desde 2016.


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O regime cubano e a União Europeia (UE) se reúnem na próxima quarta-feira para organizar uma nova rodada de diálogos em meio a críticas pelo arresto dos opositores José Daniel Ferrer e Félix Navarro.

A reunião em Bruxelas o quarto ciclo de diálogos políticos entre ambas as partes e abre o quinto, seguindo o Acordo de Diálogo Político e Cooperação (ADPC) de 2016, informa Efe.

A citação chega em meio a dúvidas dos países membros, que têm seu reflexo nas críticas de organizações independentes.

O Observatório Cubano de Direitos Humanos (OCDH) lamentou, por exemplo, a “visão desatualizada” da UE sobre o que acontece em Cuba.

O OCDH afirmou que o Acordo teve resultados nulos em matéria de direitos humanos e pediu à UE "maior criatividade, firmeza e mudanças nas estruturas relacionadas com Cuba".

Também a Prisoners Defenders se uniu às críticas, lamentando que o Acordo conceda ao regime da ilha a prerrogativa de vetar representantes da sociedade civil, o que o levou ao fracasso em relação ao seu objetivo mais relevante, a proteção dos direitos humanos.

Prisoners Defenders elevou em abril o número de presos por motivos políticos na ilha para 1.155 pessoas, conclui a informação

Outras críticas

Recentemente, a ativista cubana Carolina Barrero Ferrer instou a União Europeia (UE) a adotar uma postura mais coerente e firme em relação ao regime cubano, que ela acusa de ser um aliado estratégico da Rússia na América Latina.

Em uma entrevista com a cadeia alemã Deutsche Welle, Barrero criticou a cumplicidade da UE com o governo cubano, apontando que essa atitude contradiz os valores de liberdade e democracia que a Europa defende em outros contextos, como no caso da Ucrânia.

“O que pedimos à Europa é coerência. É muito simples: se a Europa está no meio de uma guerra em que se defendem valores como a liberdade e a democracia, e se defende a Ucrânia, não se pode ser condescendente com uma ditadura que é o aliado estratégico mais importante de Vladimir Putin na América Latina, que envia mercenários para a Ucrânia...”, destacou a ativista.

Vice-presidente da Comissão Europeia defende manutenção do Acordo

No início de maio passado, a alta representante da União Europeia para Assuntos Exteriores e Segurança, Kaja Kallas, defendeu no Parlamento Europeu a continuidade do acordo de diálogo político e cooperação com o regime cubano, apesar das denúncias de violação de direitos humanos e dos apelos à sua suspensão.

Durante um debate realizado em 6 de maio em Estrasburgo, Kallas rejeitou os argumentos de eurodeputados conservadores e de extrema-direita que defendem a ativação da cláusula de salvaguarda do acordo vigente desde 2016. “Não tínhamos o acordo antes de 2016 e também não havia democracia. Portanto, não importa se há um acordo ou não”, afirmou.

Kallas afirmou que o pacto não garante por si só uma mudança democrática na ilha, mas fornece uma estrutura de diálogo necessária para abordar assuntos sensíveis como a situação dos presos políticos. Em referência aos opositores encarcerados, José Daniel Ferrer e Félix Navarro, questionou: “Suspender o acordo vai libertar Daniel Ferrer e Félix Navarro? Acredito que todos sabemos a resposta”.

A chefe da diplomacia europeia também se questionou se a União pode limitar seu diálogo apenas a democracias consolidadas: “Temos a possibilidade de interagir apenas com democracias perfeitas? Pois não a temos. E por isso também temos esses diálogos, para falar precisamente sobre esses assuntos tão difíceis”.

Ante acusações sobre um suposto financiamento ao governo cubano, Kallas respondeu: “Nós não apoiamos o regime. Não estamos canalizando nossos fundos através do governo cubano. Temos parceiros em Cuba, projetos europeus com agências da ONU e ONGs. O que apoiamos é a transição ecológica e a modernização da economia.”

As declarações de Kallas ocorreram em meio a crescentes pressões da sociedade civil cubana e de membros do Parlamento Europeu para suspender o acordo com Havana.

Perguntas frequentes sobre os diálogos entre a União Europeia e Cuba

Por que há críticas ao Acordo de Diálogo Político e Cooperação entre a UE e Cuba?

O Acordo de Diálogo Político e Cooperação entre a União Europeia e Cuba tem sido criticado por sua falta de resultados em matéria de direitos humanos. Organizações como o Observatório Cubano de Direitos Humanos e Prisoners Defenders consideram que o acordo não conseguiu proteger os direitos humanos na ilha e permite que o regime cubano vete representantes da sociedade civil. Além disso, critica-se a falta de coerência da UE ao manter relações diplomáticas com um regime considerado aliado da Rússia, em contraste com sua postura em conflitos como o da Ucrânia.

Qual é o estado atual dos presos políticos em Cuba?

Até abril de 2025, são reportados 1.155 prisioneiros políticos em Cuba. O número foi documentado por organizações como Prisoners Defenders, que também denunciaram irregularidades no processo de libertação anunciado pelo regime cubano. Este processo foi qualificado como "opaco, arbitrário e injusto", e foi observado que muitos dos liberados continuam sob condições restritivas, sem garantias de que não serão detidos novamente.

Qual é a postura da União Europeia em relação ao regime cubano?

A União Europeia defende a continuidade do Acordo de Diálogo Político e Cooperação com Cuba, apesar das críticas sobre violações de direitos humanos. Kaja Kallas, alta representante da UE para Assuntos Exteriores, argumentou que o acordo fornece um quadro necessário para abordar questões sensíveis, como a situação dos prisioneiros políticos. Embora não garanta mudanças democráticas por si só, é considerado um instrumento estratégico para manter o diálogo com o regime cubano.

Como a sociedade civil cubana reagiu ao diálogo entre a UE e Cuba?

A sociedade civil cubana expressou seu descontentamento e instou a UE a suspender o acordo com o regime cubano. Ativistas como Carolina Barrero criticaram a cumplicidade da UE com o governo de Cuba, pedindo coerência em sua política externa. Organizações de direitos humanos e coletivos feministas independentes exigiram a suspensão do acordo, argumentando que legitima um regime autoritário e não contribui para melhorar a situação dos direitos humanos na ilha.

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