A Cubavisión censura Julio González Pagés por abordar a violência, drogas e desigualdade na TV nacional

O fundador da Rede Ibero-Americana e Africana de Masculinidades anunciou sua saída da Cubavisión após a rejeição de séries sobre violência, drogas e desigualdade. Continuará seu trabalho no YouTube com projetos independentes.

Julio César González Pagés é censurado na Televisão CubanaFoto © Collage Cubadebate e Facebook / Julio César González Pagés

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O doutor Julio César González Pagés, historiador e investigador cubano, e fundador da Rede Ibero-americana e Africana de Masculinidades, anunciou nesta quarta-feira o fim de sua participação no programa “Alerta em Series” da Cubavisión, após ser informado pela direção do programa que suas propostas “não são de interesse”.

A notícia foi confirmada pelo próprio González em uma publicação em seu perfil do Facebook, onde explicou que os temas que propôs, relacionados à violência, drogas, desigualdade, adolescência e esporte, foram descartados pela direção do programa.

Captura Facebook / Julio César González Pagés

Em seu lugar, para o verão, foi selecionada uma nova série de “temas de política” que será apresentada por outra pessoa, sublinhou o doutor em ciências.

Entre as propostas rejeitadas estavam séries como “La edad de la ira”, prevista para dezembro de 2024 e centrada na violência entre adolescentes em ambientes escolares e familiares, assim como “La Academia”, projetada para o verão de 2025, que abordava questões como o individualismo, o consumo de drogas, o assédio nas redes sociais e as desigualdades de gênero no esporte.

Também ficou fora do ar a polêmica série “Adolescência”, que estava prevista para ser exibida em dezembro.

“Apresentamos pareceres, objetivos, linhas temáticas e listas de convidados com pessoas conhecedoras do tema em diferentes áreas e setores”, explicou González.

No obstante, as propostas não foram classificadas, o que marcou o encerramento da sua participação no espaço televisivo.

“A inversao do tempo profissional e laboral tem o limite da utilidade daqueles que nos envolvemos com esses temas ‘woke’ na televisão nacional e não o fazemos por dinheiro, já que o pagamento que nos oferecem é simbólico”, destacou o acadêmico e promotor de projetos sociais e de gênero.

Apesar do rejeição, González afirmou que continuará trabalhando em questões que considera urgentes para a Cuba atual, como a delinquência juvenil, a violência, as drogas e a emigração, através de seus dois canais no YouTube, onde serão compartilhadas as séries e materiais de forma independente.

“Há sempre alternativas”, afirmou, agradecendo à equipe de produção do programa e a todos que o acompanharam nas duas temporadas anteriores.

“Nos vemos no verão pelo YouTube em uma apresentação independente com outro nome e equipe de realização. Obrigado”, concluiu.

Em outra publicação, González Pagés agradeceu as demonstrações de solidariedade recebidas após sua saída do programa e lembrou que essa prática de censura não é nova.

Captura Facebook / Julio César González Pagés

Detallou que em 2021, após o sucesso do programa “Cosas de hombres”, com 13 episódios gravados em sua casa durante a pandemia e sem custo algum para a televisão, foi informado pelo então diretor do canal, Rafael Pérez Ínsua, e pelo assessor principal — a mesma pessoa que agora vetou seus conteúdos — que, apesar dos bons resultados do programa, não haveria uma segunda temporada.

Segundo o que foi comunicado, apesar de o espaço ter alcançado uma audiência estimada de seis milhões de pessoas e uma aceitação de 90%, não seria permitida a sua continuidade “para não saturar o canal com esse tema”.

Em sua mensagem, destacou que esta seria sua última publicação sobre o assunto e que não busca reverter decisões nem exigir a revisão de critérios.

A poucos meses de completar 60 anos, confessou que não voltará a apresentar na televisão devido ao estresse que isso lhe causa, e esclareceu que o fez apenas por compromisso com questões urgentes, como a delinquência juvenil, o consumo de drogas, a prostituição, a violência de gênero, a homofobia e o racismo.

“Nosso compromisso é com Cuba, com todos e para o bem de todos”, concluiu, reafirmando sua disposição de continuar trabalhando pela equidade e pelos direitos dos grupos vulneráveis em outros espaços, com o apoio de profissionais distantes de visões machistas, misóginas ou discriminatórias.

No início de 2025, foram registrados vários episódios de censura nos meios oficiais cubanos que refletem uma tendência crescente em silenciar conteúdos críticos ou sociais.

Uma das primeiras polêmicas ocorreu após a retirada inesperada da telenovela Violetas de Água da grade da Cubavisión, uma decisão sem explicações que gerou críticas pela falta de transparência e respeito aos seus realizadores.

Em fevereiro, o cineasta Pavel Giroud denunciou que seu documentário El caso Padilla havia sido vetado nos espaços institucionais. Segundo explicou, as autoridades culturais evitaram sua difusão apesar do interesse que havia despertado, o que evidencia o temor do regime a revisões históricas incômodas ou narrativas independentes.

Já em março, foi emitido um alerta sobre novas ferramentas legais que ameaçam ainda mais a criação alternativa. As chamadas "leis da mordaça" permitem apreensões e penalizações contra aqueles que produzem materiais audiovisuais fora do sistema estatal, o que coloca em risco jornalistas, artistas e promotores culturais que trabalham de forma independente.

Recientemente, foi divulgado um novo caso durante uma transmissão ao vivo, quando o jogador de beisebol Omar Ajete foi censurado enquanto participava de uma homenagem esportiva. Ao mencionar figuras do exílio e agradecer a familiares fora do país, o áudio foi interrompido, confirmando a censura direta mesmo em eventos públicos e não políticos.

Perguntas Frequentes sobre a Censura na Cubavisión e Temas Sociais em Cuba

Por que Julio César González Pagés foi censurado na Cubavisión?

Julio César González Pagés foi censurado porque suas propostas sobre violência, drogas e desigualdade não foram consideradas de interesse pela direção da Cubavisión. O canal decidiu substituir esses temas por outros de natureza política, o que tem sido alvo de críticas, dado o contexto de censura nos meios oficiais cubanos.

Quais temas foram propostos por Julio César González Pagés que foram rejeitados?

González Pagés propôs abordar temas como a violência entre adolescentes, o consumo de drogas, o assédio nas redes sociais e as desigualdades de gênero no esporte. Esses temas foram descartados pela Cubavisión, que preferiu se concentrar em outros conteúdos de política.

Como tem reagido González Pagés a essa censura?

Apesar da censura, González Pagés decidiu continuar trabalhando de forma independente em seus canais de YouTube. Nesses espaços, continuará abordando os temas urgentes para a sociedade cubana que não foram aceitos na televisão nacional.

Este caso de censura é um incidente isolado na televisão cubana?

No, a censura nos meios cubanos é um problema recorrente, como se tem visto em outros casos recentes, como a retirada da novela "Violetas de Água". Esse padrão de censura reflete a falta de liberdade de expressão e controle sobre o conteúdo que é veiculado na ilha.

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