O sacerdote cubano Alberto Reyes Pías compartilhou em suas redes uma reflexão sobre a continuidade e descontinuidade nos processos históricos, na qual faz um apelo para reavaliar as decisões tomadas nas últimas décadas em Cuba.
Em uma mensagem crítica no Facebook, Reyes destacou a importância de guiar o futuro de um povo com critérios lógicos baseados na realidade e não em ideologias, paixões pessoais ou no simples desejo de controlar a vida dos outros.
Na publicação, destaca que a história de um povo é construída selecionando quais aspectos devem continuar e quais devem desaparecer. Para isso, propõe um critério fundamental: "escolher o que contribui para que a vida do povo melhore".
No entanto, alerta que se essas decisões forem bases em interesses ideológicos ou desejos de poder, os resultados podem ser desastrosos, como ocorreu em Cuba desde 1959.

Em sua análise, o sacerdote cubano menciona diversas áreas que sofreram a "descontinuidade" nessas seis décadas, como o pluripartidarismo, as eleições, a liberdade de imprensa, a autonomia do sistema judicial e direitos fundamentais como o direito à greve, a manifestação pacífica e a diversidade de opções na educação e na saúde.
Segundo Reyes, tudo isso foi substituído por políticas que limitam as liberdades individuais e dão continuidade a estruturas de poder baseadas na lealdade ideológica em vez da capacidade real de gestão.
"Foi dada continuidade a promoções e nomeações com base na fidelidade ao 'Processo revolucionário' e não de acordo com a capacidade real de gestão da pessoa", comentou o sacerdote, criticando a falta de meritocracia no sistema.
Além disso, destacou a manutenção de políticas econômicas fracassadas e o controle absoluto da vida cidadã, aspectos que têm prejudicado o bem-estar do povo cubano.
Reyes conclui sua reflexão com um apelo a uma mudança radical nas políticas que prevaleceram por tantos anos na ilha, sugerindo que é o momento de "continuar o que um dia descontinuamos" e "descontinuar aquilo a que por tanto tempo temos dado continuidade".
A seguir, CiberCuba compartilha o texto integral da publicação.:
Tenho pensado… (107) por Alberto Reyes Pías
Tenho pensado sobre a continuidade e a descontinuidade
A história dos povos é um processo no qual se decide dar continuidade a certas coisas e não a outras.
Por supuesto, a continuidade e a descontinuidade precisam de um critério que guie a escolha do que deve continuar e do que deve desaparecer, e o critério lógico é escolher o que contribui para que a vida do povo melhore, pois é um critério que se confronta com a realidade.
Caso contrário, corremos o risco de nos orientar por critérios que, em vez de buscar a confirmação na vida cotidiana e real, a procuram na ideologia, no gosto pessoal, no capricho ou na simples paixão por controlar a vida dos outros.
Nenhum desses últimos critérios pode sustentar a pretensão de continuidade, pois o fato de minhas ideias serem bonitas ou eu estar convencido de que funcionarão não significa que, de fato, conduzam a uma vida melhor. Da mesma forma, meus gostos e desejos também não são a garantia de um bem-estar social, muito menos meus caprichos ou minha convicção de que a sociedade só pode progredir se tudo for controlado.
A partir do processo iniciado em 1959, em nossa pátria foram descontinuadas muitas coisas que sustentavam a saúde da sociedade: foi descontinuado o pluripartidarismo e, com isso, o direito à livre oposição; as eleições livres que possibilitam uma mudança de sistema de acordo com a vontade popular, a autonomia dos meios de comunicação social e, com isso, a liberdade de imprensa, rádio e televisão, o direito à greve e à manifestação pacífica, e a liberdade de expressão sem consequências punitivas. Foi descontinuada a pluralidade de opções na educação, a intervenção privada no sistema de saúde, a iniciativa empresarial privada e o livre mercado. Foi descontinuada a autonomia do sistema judiciário e a separação dos poderes legislativo, executivo e judiciário; a autonomia dos movimentos universitários, a função dos sindicatos como defensores do trabalhador...
Por outro lado, tem-se dado continuidade a promoções e nomeações com base na fidelidade ao 'Processo revolucionário' e não segundo a real capacidade de gestão da pessoa; tem-se mantido mecanismos que desarticularam o poder da sociedade civil, políticas econômicas fracassadas, e o controle rígido e absoluto da vida cidadã. Tem-se perpetuado a mentira institucionalizada, a dupla moral, e as promessas vazias.
E, no final, após todos esses anos de continuidades e descontinuidades, a vida falou, porque a vida sempre fala. Podemos não querer ouvi-la, podemos tentar ignorá-la e insistir que o que ela diz não é verdade, mas a vida está aí, a realidade é o que é, e se o critério para escolher o que deve continuar ou deve desaparecer é o que contribui para que a vida de um povo melhore, não é difícil compreender que precisamos continuar o que um dia descontinuamos e descontinuar aquilo a que por tanto tempo temos dado continuidade".
Perguntas frequentes sobre as críticas de Alberto Reyes Pías ao regime cubano
Que crítica Alberto Reyes Pías faz sobre a continuidade do comunismo em Cuba?
Alberto Reyes Pías critica que a continuidade do comunismo em Cuba se baseia no controle ideológico e no poder, em vez de melhorar a vida do povo. Ele aponta que, desde 1959, foram eliminados direitos fundamentais como o pluripartidarismo e a liberdade de imprensa, e foram mantidas políticas fracassadas que limitam as liberdades individuais e o bem-estar social.
Quais são as principais áreas de descontinuidade em Cuba mencionadas por Reyes?
Reyes menciona que em Cuba foram descontinuadas áreas como o pluripartidarismo, as eleições livres, a liberdade de imprensa, a autonomia judicial e direitos como o direito à greve e à manifestação pacífica. Essas descontinuidades limitaram o desenvolvimento social e as liberdades individuais no país.
O que propõe o sacerdote para melhorar a situação em Cuba?
Reyes propõe uma mudança radical nas políticas que têm prevalecido em Cuba. Sugere "continuar o que um dia descontinuamos" e "descontinuar aquilo a que por tanto tempo temos dado continuidade", baseando-se em um critério que prioriza o bem-estar do povo sobre as ideologias e o poder.
Como Reyes descreve a situação atual de Cuba?
Reyes compara a situação atual de Cuba com um campo de concentração, destacando a falta de liberdades, a repressão política e a precariedade em que vivem os cidadãos. Aponta que o mais terrível é a ausência de esperança e a sensação de imutabilidade do sistema.
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