O regime cubano "chora" pela restauração do financiamento a meios independentes

O chanceler cubano Bruno Rodríguez criticou o restabelecimento de fundos dos EUA para meios independentes em Cuba, classificando-os de "subversivos". A medida desafia o controle informativo do regime.


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O ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez Parrilla, reagiu nesta terça-feira com evidente aborrecimento ao anúncio do Departamento de Estado dos Estados Unidos sobre o restabelecimento de fundos destinados a projetos de apoio à sociedade civil e meios independentes cubanos, classificando-os de "programas subversivos".

“Como era de esperar, o Secretário de Estado dos EUA restabelece o financiamento com dinheiro do governo para programas subversivos contra #Cuba de organizações que dizem ser independentes e que, durante anos, têm lucrado e feito carreira com o mercenarismo anticubano”, escreveu Rodríguez Parrill em sua conta no X (antes Twitter), deixando clara a incomodidade do regime com o retorno do apoio internacional às vozes críticas dentro da ilha.

A declaração do chanceler chega semanas após o governo dos Estados Unidos, sob a administração de Donald Trump e com Marco Rubio como secretário de Estado, ordenar o fechamento da USAID e congelar abruptamente os fundos destinados à promoção dos direitos humanos, liberdade de expressão e democracia em países autoritários, incluindo Cuba.

Nesse período, as autoridades cubanas comemoraram a medida. Altos funcionários e porta-vozes do regime zombaram dos meios afetados, afirmando que a “torneira do dinheiro do império” havia se fechado para sempre.

Uno deles foi o vice-presidente da UPEC, Francisco Rodríguez Cruz, conhecido como “Paquito de Cuba”, que publicou mensagens irônicas nas redes sociais sobre a crise de meios como Radio Martí, incluindo uma foto com um rádio portátil fingindo buscar sinal e outra na qual insinuava que os cortes aumentariam o desemprego entre “a contrarrevolução”.

Gerardo Hernández Nordelo, ex-espião da Rede Avispa e atual coordenador nacional dos Comitês de Defesa da Revolução (CDR), também celebrou o fechamento de Radio y TV Martí. Com tom sarcástico, declarou no Facebook que "os meios mercenários viveram tempo demais da história".

O restabelecimento dos fundos, embora parcial, representa um golpe simbólico a essa narrativa. O Departamento de Estado justificou a decisão como parte de seu compromisso com a promoção dos direitos humanos e o fortalecimento da sociedade civil em contextos repressivos como o cubano.

Entre as organizações beneficiadas estão meios como Cubanet, El Toque e Cubalex, que receberam notificação oficial sobre a reativação de contratos suspensos.

Em resposta, outras vozes oficiais cubanas também elevaram o tom. Carlos Fernández de Cossío, vice-ministro de Relações Exteriores, questionou a legitimidade dos projetos apoiados pelos EUA, insinuando que os opositores que recebem financiamento americano não podem ser considerados independentes.

A essa reação se somou Johana Ruth Tablada de la Torre, subdiretora geral dos EUA no MINREX, que durante uma reunião televisionada com Díaz-Canel e Gerardo Hernández denunciou a hipocrisia de Washington por financiar o que chamou de “uma máquina subversiva” contra Cuba, enquanto ao mesmo tempo “presumem de defender a democracia”.

Em contraste com as críticas ao regime, vários jornalistas e ativistas cubanos viram na restituição de fundos uma oportunidade para continuar seu trabalho em defesa dos direitos humanos e da liberdade de imprensa.

“Não somos mercenários. Somos cubanos comprometidos em informar o que o poder tenta ocultar”, disse um repórter de Havana sob condição de anonimato.

Segundo El Nuevo Herald, a restauração não é total: pelo menos 83% dos programas geridos pela USAID foram eliminados, e a maioria das grandes organizações americanas que promoviam a democracia na região perdeu dezenas de projetos. No entanto, o desbloqueio parcial de fundos para Cuba representa uma exceção notável.

Em meio a essa incerteza, a reação irada de Havana revela a verdadeira preocupação do regime: o medo de perder o monopólio informativo e que as vozes independentes ganhem força com apoio internacional.

Enquanto o aparelho oficial zomba, criminaliza e desacredita, o jornalismo livre continua resistindo e agora conta com um novo impulso para seguir retratando a realidade cubana fora do controle estatal.

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