Empregados da Radio Martí poderão retornar aos seus postos de trabalho

Um e-mail recebido pelos funcionários notificou a suspensão das restrições de acesso às instalações e o retorno imediato às atividades.

Empregado da Rádio e Televisão Martí nas consolesFoto © Facebook / Martí Notícias

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Os empregados federais da Radio Televisión Martí poderão retornar esta quarta-feira aos seus postos de trabalho, após uma inédita semana de fechamento total de operações, em meio a turbulências administrativas, demissões em massa e reações críticas da comunidade cubana.

A informação foi revelada pelo jornalista Wilfredo Cancio Isla, do meio independente Café Fuerte, que teve acesso ao conteúdo de um e-mail enviado pelo Departamento de Recursos Humanos da Oficina de Transmissões para Cuba (OCB), entidade responsável pela emissora.

No mensagem, os funcionários foram notificados sobre a suspensão das restrições de acesso às instalações e o retorno imediato ao trabalho.

O reinício das transmissões, no entanto, não foi confirmado. “Recebi um e-mail hoje que me surpreendeu, mas não está claro se as transmissões vão reiniciar imediatamente”, declarou, sob anonimato, um funcionário consultado pela Café Fuerte.

Captura de tela Facebook / María Elena Mir Marrero

A paralisação total da Radio Martí, ocorrida no dia 17 de março, marcou um fato sem precedentes nos 40 anos de história do meio. A medida foi tomada após uma ordem executiva assinada pelo presidente Donald Trump que impulsionava o desmantelamento da Agência dos Estados Unidos para os Meios Globais (USAGM), órgão ao qual pertence a OCB.

Cerca de 50 funcionários federais foram colocados em licença administrativa com salário, enquanto aproximadamente 20 contratados foram dispensados, com efeito até o próximo dia 31 de março. A diretora da OCB desde 2021, Silvia Rosabal, foi oficialmente destituída, conforme também confirmou Cancio Isla.

Captura de tela Facebook / Mario J. Pentón

As reações não se fizeram esperar. Desde jornalistas até ativistas opositores dentro de Cuba questionaram duramente o fechamento da emissora, considerada um bastião da informação livre sobre a ilha. Um título do New York Times resumiu o impacto político com uma frase mordaz: “Trump fez o que os Castro não puderam: tirar do ar a Radio Martí”.

Além disso, funcionários filiados à Federação Americana de Empregados Governamentais (AFGE) entraram com uma ação em um tribunal federal de Nova York contra o USAGM e sua assessora Kari Lake, argumentando que o fechamento viola a Constituição dos Estados Unidos.

Lake, conhecida aliada de Trump, justificou o fechamento, qualificando a agência como “uma podridão gigantesca” e “quebrada irremediavelmente”.

Radio TV Martí, que opera com um orçamento anual de 25 milhões de dólares, também enfrenta a cancelamento do contrato de locação de sua sede em Doral, Miami, uma decisão impulsionada por Elon Musk a partir do Departamento de Eficiência Governamental, com o argumento de reduzir despesas.

O fechamento temporário da Radio Martí provocou críticas e zombarias de ambos os lados do estreito

A interrupção total das operações na Radio y Televisión Martí gerou uma intensa onda de reações entre a comunidade cubana dentro e fora da ilha.

Para muitos ativistas, opositores e figuras políticas do exílio cubano-americano, a medida representou um sinal de alerta sobre o enfraquecimento do apoio institucional à causa democrática em Cuba.

Desde Washington, o congressista Mario Díaz-Balart expressou sua preocupação sobre as consequências do fechamento, mas considerou que a decisão poderia ser reversível.

Sua colega, a congressista María Elvira Salazar, rejeitou o fechamento da mídia, destacando seu papel na luta contra a propaganda do regime cubano e a importância de garantir o acesso a informações sem censura.

Organizações como a Fundação Nacional Cubano-Americana (FNCA) também expressaram seu desapreço, destacando que o desmantelamento de Radio Martí apenas beneficiaria o regime cubano.

Desde a ilha, opositores como José Daniel Ferrer, líder da União Patriótica de Cuba (UNPACU), criticam o que consideram uma traição aos valores da liberdade de expressão, e lembram que a emissora tem sido uma das poucas fontes de notícias não controladas pelo Estado.

As Damas de Branco se uniram a esse sentimento, pedindo publicamente ao presidente Trump que garantisse a continuidade das transmissões.

Em contraste, desde o governo cubano houve expressões de zombaria diante da suspensão das operações.

O ex-espião e dirigente dos CDR, Gerardo Hernández Nordelo, juntou-se às zombarias públicas nas redes sociais, ironizando sobre o fato. "Ahhh... Agora entendo o 'Tic tac, tic tac...' que alguns haters escreviam nos comentários... Era que, com Marco Rubio, a Rádio e TV Mentí tinham seus dias contados!", disse Hernández Nordelo em suas redes sociais em tom de zombaria.

Por sua parte, o vice-presidente da UPEC, Francisco Rodríguez Cruz (Paquito de Cuba), compartilhou uma publicação em tom sarcástico na qual se referia ao fechamento como motivo de risadas. “Medidas de Trump aumentam em 20% o índice de desemprego entre as fileiras da contrarrevolução cubana…”, disse o funcionário, enquanto em outro post zombou do apagão do sinal, com um receptor de rádio na mão e expressão de surpresa.

O desmantelamento da USAID sob a administração Trump

A paralisação temporária da Radio Televisión Martí ocorreu em um momento de profundas transformações impulsionadas pela administração de Donald Trump em seu segundo mandato, marcadas por uma ofensiva direta contra programas de apoio à democracia no exterior financiados pelos Estados Unidos.

No centro dessas mudanças está o secretário de Estado, Marco Rubio, que liderou uma reestruturação radical da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).

Desde que assumiu o controle da agência, Rubio cancelou 83% dos programas da USAID, o que implicou a rescisão de mais de 5.000 contratos e a demissão da maioria dos 10.000 funcionários da agência. Essa medida afetou especialmente organizações e meios independentes cubanos que recebiam apoio financeiro para promover a democracia e os direitos humanos na ilha.

Rubio justificou essa decisão como parte de uma estratégia para alinhar a ajuda externa com os interesses da política externa dos Estados Unidos, denunciando que a USAID tinha se tornado uma "caridade global" ineficiente. Trump apoiou publicamente esses cortes e criticou o gasto destinado a meios direcionados ao público cubano, qualificando-o como um desperdício.

Embora recentemente a administração tenha anunciado a restituição parcial de alguns programas, não foi especificado se Radio Martí ou meios afins serão incluídos.

Enquanto isso, em Havana, as celebrações pela “derrota” do que qualificam como “projetos subversivos” entram em pausa novamente, confirmando que a montanha-russa de emoções provocada pela administração Trump é uma dor de cabeça para um regime totalitário que está no poder há 66 anos, e cuja permanência nele depende quase exclusivamente de sua habilidade para navegar no complexo cenário internacional destes tempos.

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Equipe Editorial da CiberCuba

Uma equipe de jornalistas comprometidos em informar sobre a atualidade cubana e temas de interesse global. No CiberCuba, trabalhamos para oferecer notícias verídicas e análises críticas.

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