O MINCIN se une à dolarização com a abertura de dezenas de lojas para "parte da população"

Estima-se que a Empresa Mixta Alma Caribe abrirá cerca de 50 lojas em todo o país, das quais 48 serão de nova construção.


A vice-ministra do Comércio Interior, Aracelys Cardoso Hernández, reconheceu durante sua intervenção na Mesa Redonda que a oferta em moeda nacional é deficiente devido à contração da produção e ao déficit de divisas, o que impede o reabastecimento do comércio interno.

O governo cubano anunciou a abertura de 50 novas lojas dolarizadas, fortalecendo assim o comércio em divisas dentro do país.

Este movimento faz parte de uma estratégia mais ampla de captação de moeda estrangeira, em um contexto onde a oferta em moeda nacional continua sendo insuficiente.

Por outro lado, a dolarização não apenas não resolve os problemas estruturais da economia cubana, mas também aprofunda a desigualdade e limita o acesso a bens básicos para aqueles que dependem de salários e pensões em pesos cubanos.

Novas modalidades de negócios no comércio atacadista e varejista para captar divisas

Cardoso Hernández lembrou que desde a flexibilização da política setorial em 2022, foram implementadas diversas modalidades de negócios no comércio atacadista e varejista para captar receitas em divisas. O objetivo final, disse, é alcançar uma maior oferta em moeda nacional que beneficie a população.

Até a data, foram aprovados 15 negócios de comercialização atacadista e varejista, dos quais oito estão relacionados ao sistema empresarial do Ministério do Comércio Interior.

Um desses negócios opera sob um contrato de associação econômica internacional.

Em relação à comercialização atacadista, três empresas estão dedicadas exclusivamente a essa atividade, enquanto cinco empresas mistas obtiveram autorização para vender tanto no atacado quanto no varejo bens de consumo e produtos diversos.

Cardoso Hernández destacou que a comercialização por atacado deve garantir o fornecimento de matérias-primas e insumos que promovam a produção nacional e local, além de priorizar a oferta de produtos de primeira necessidade, como artigos de higiene, utensílios domésticos e alimentos.

Alma Caribe S.A.: Expansão do comércio atacadista e varejista

Sonia Rivero Batista, gerente cubana de a empresa mista Alma Caribe S.A., explicou que esta entidade se dedica à comercialização de produtos alimentícios e não alimentícios, tanto de produção nacional quanto importada.

Na sua primeira etapa, a empresa priorizará a oferta de alimentos, produtos de limpeza e higiene, com o objetivo de satisfazer a demanda do comércio atacadista e varejista.

Alma Caribe também pretende garantir o fornecimento estável de matérias-primas e insumos necessários para o desenvolvimento da indústria nacional e das formas de gestão não estatal. A empresa abrirá em breve sua primeira loja em El Vedado, especificamente na rua 23.

Para o seu design logístico, estudou experiências de mercados similares, como o da 3ª e 70 em Playa.

Como parte de sua estratégia de expansão, Alma Caribe prevê abrir 15 lojas em Havana durante a fase inicial, e em uma segunda etapa ampliará sua rede para 50 lojas em todo o país, das quais 48 serão de nova construção. Paralelamente, trabalha no desenvolvimento de uma plataforma de comércio online.

Mercalhabana S.A.: Nova aposta para o comércio atacadista

O Ministério do Comércio Interior criou a Mercalhabana S.A., uma sociedade comercial destinada a fortalecer o comércio atacadista e varejista.

Segundo a sua vice-presidente, Yaimara Pérez Barrera, esta entidade representa um sistema de 22 empresas atacadistas e tem como objetivo participar como acionista em investimentos estrangeiros, assim como gerenciar importações e exportações para abastecer o canal atacadista do país.

A Mercalhabana S.A. conta com uma ampla rede de armazéns e com a Empresa Nacional de Frigoríficos, que oferece capacidades de refrigeração essenciais.

No entanto, Pérez Barrera reconheceu que a infraestrutura atual apresenta um notável deterioro tecnológico, pelo que a estratégia da empresa se concentra na modernização de equipamentos e na recuperação de suas instalações.

Apesar de sua recente constituição, a sociedade já concretizou um negócio na modalidade de empresa mista para a comercialização por atacado e varejo e está explorando outras oportunidades semelhantes.

Além disso, foram implementadas formas alternativas de comercialização, como a venda em consignação e o regime de depósito aduaneiro, o que permitiu um reabastecimento parcial do comércio atacadista.

A vice-ministra Cardoso Hernández concluiu sua intervenção afirmando que a comercialização em atacado fortalecerá o mercado cubano e permitirá a renovação da indústria nacional, garantindo uma maior oferta para a população.

"O comércio interno em moeda nacional é e continuará sendo majoritário em nosso país. A população deve ter confiança, pois, apesar da situação atual do mercado cubano, é uma prioridade do Estado e de nosso ministério manter e expandir as ofertas em moeda nacional", destacou.

Além disso, explicou que a comercialização em divisas é uma medida transitória necessária para captar recursos que permitam sustentar os programas sociais. "A dolarização parcial da economia é uma estratégia de curto prazo. O Estado cubano definirá as prioridades para o uso dessas divisas de acordo com as necessidades da população, da economia e do desenvolvimento industrial", concluiu.

Reação do economista Pedro Monreal

O economista Pedro Monreal analisou criticamente esta estratégia, apontando que o comércio atacadista em divisas, apresentado como um mecanismo para fortalecer a produção nacional, não garante insumos de maneira eficaz se problemas estruturais não forem resolvidos, como a estabilidade no fornecimento de eletricidade e a existência de incentivos reais para os produtores nacionais.

Além disso, Monreal alerta que esse sistema de arrecadação não demonstrou na prática que os fundos obtidos se traduzam em uma maior oferta de moeda nacional para a população.

Em contrapartida, observou-se um reforço da infraestrutura comercial estatal que monopoliza o comércio varejista em divisas.

O economista também questiona a narrativa oficial que propõe um "círculo virtuoso" de captação de divisas, venda de insumos e fomento da produção. Experiências anteriores, como o caso da GELMA, a empresa estatal encarregada de vender insumos aos produtores agropecuários em divisas, mostraram que esse esquema nem sempre cumpre suas promessas.

Outro ponto crucial é que a expansão do comércio interno em dólares não se deve tanto a uma estratégia de captação de remessas, mas a uma manobra para canalizá-las do mercado informal para os grandes "holdings" estatais.

Isso deixa fora do jogo atores privados, que continuam excluídos do comércio atacadista em divisas, enquanto o comércio varejista dolarizado segue sendo monopolizado por empresas estatais.

O governo cubano justificou essa estratégia como parte de uma série de medidas de "flexibilização" e "atração de investimento estrangeiro", mas essas declarações contrastam com a realidade de um mercado altamente restrito e dominado pelo monopólio estatal.

A expansão do comércio em moedas estrangeiras impõe uma barreira adicional à participação de atores privados na economia e reforça um modelo onde apenas alguns poucos setores estatais têm acesso aos benefícios do comércio dolarizado.

Neste contexto, para Monreal, ainda está por ver como funcionará o novo mecanismo de alocação de divisas anunciado pelo governo e se trará consigo um "redimensionamento" do mercado cambial, ou se simplesmente continuará beneficiando os mesmos setores privilegiados dentro do aparelho estatal.

Perguntas frequentes sobre a dolarização parcial e o comércio em moeda estrangeira em Cuba

O que implica a abertura de novas lojas dolarizadas em Cuba?

A abertura de novas lojas dolarizadas em Cuba implica um esforço por parte do governo para arrecadar divisas estrangeiras em um contexto onde a oferta em moeda nacional é insuficiente. Este movimento busca fortalecer o comércio em divisas, embora também tenha sido criticado por aumentar a desigualdade e limitar o acesso a bens básicos para aqueles que possuem apenas rendimentos em pesos cubanos.

Como a dolarização parcial afeta a economia cubana?

A dolarização parcial afeta a economia cubana ao criar um sistema onde só aqueles com acesso a divisas podem adquirir bens em lojas dolarizadas. Isso aprofunda a desigualdade econômica e limita o acesso a produtos para a maioria da população, que recebe seu salário em moeda nacional. Além disso, não resolve os problemas estruturais da economia e pode enfraquecer a política monetária do país.

O que é Alma Caribe S.A. e qual é o seu papel no comércio cubano?

Alma Caribe S.A. é uma empresa mista dedicada à comercialização de produtos alimentícios e não alimentícios, tanto de produção nacional quanto importada. Seu papel no comércio cubano é priorizar a oferta de alimentos, produtos de higiene e limpeza, além de garantir o fornecimento de matérias-primas e insumos necessários para o desenvolvimento da indústria nacional. Planeja abrir 15 lojas em Havana e se expandir para 50 lojas em todo o país.

Qual é o objetivo da Mercalhabana S.A. no mercado cubano?

Mercalhabana S.A. busca fortalecer o comércio atacadista e varejista em Cuba através de uma rede de 22 empresas atacadistas. Seu objetivo é participar como acionista em investimentos estrangeiros e gerenciar importações e exportações para abastecer o canal atacadista do país. A empresa também trabalha na modernização de sua infraestrutura para melhorar o fornecimento de produtos de primeira necessidade.

Que críticas a estratégia de dolarização parcial em Cuba recebeu?

A estratégia de dolarização parcial em Cuba tem sido criticada por incrementar as desigualdades econômicas e não resolver os problemas estruturais da economia. Especialistas como o economista Pedro Monreal apontaram que esse sistema não garante uma maior oferta em moeda nacional e apenas reforça o monopólio estatal sobre o comércio varejista em divisas, excluindo os agentes privados e grande parte da população que depende do peso cubano.

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