O primeiro-ministro cubano, Manuel Marrero Cruz, enfatizou a necessidade de que a imprensa oficialista seja mais eficaz e estratégica em sua missão de transmitir ao povo de maneira oportuna as decisões do regime, assim como as ações supostamente contempladas em seu recém-anunciado Programa de Governo.
Reunido nesta segunda-feira nos salões do Palácio com funcionários e diretores de meios oficialistas, o primeiro-ministro fez o balanço anual do Instituto de Informação e Comunicação Social (IICS) e “insistiu na necessidade da garantia comunicacional ao Programa de Governo e no fortalecimento da função de direção” do ente criado em agosto de 2021, um mês após as históricas e massivas manifestações protagonizadas por centenas de milhares de cubanos em 11 de julho daquele ano (11J).
“É de parte a parte. Está o acompanhamento que precisamos de vocês, mas também aqueles que geramos essas decisões precisamos ver como as transferimos a tempo para que esse acompanhamento possa ter impacto midiático, comunitário, organizacional, em todo tipo de espaço público físico e digital,” exortou Marrero Cruz à imprensa oficialista.
O primeiro-ministro enfatizou que a comunicação é um pilar fundamental para o regime cubano e que, apesar de o acesso institucional a diversas plataformas digitais ainda ser deficiente, é necessário fazer um esforço na "batalha midiática", segundo relatório do Noticiero Nacional de Televisión (NTV).
“Nós, como um país agredido, ainda temos (e eu reitero) insatisfações. Apesar mesmo do nível de acesso institucional que se tem às diferentes plataformas, internet, etc., ainda a luta é muito pouca. E não somente lutar para combater um inimigo da revolução, mas também para expor, para comunicar a verdade de Cuba", expressou.
Além disso, o primeiro-ministro enfatizou que, embora o governo enfrente numerosos problemas e desafios, é imprescindível transmitir não apenas os aspectos negativos, mas também os esforços do regime para superar as dificuldades.
“Que sim, que temos muitos problemas, temos muitas insatisfações, mas também é preciso dizer que estamos lutando, que estamos fazendo coisas diferentes, quais são as complexidades que estamos enfrentando… E também denunciar a falta de cuidado, e denunciar quando as coisas são feitas de forma inadequada, quando até se deixam de fazer coisas que não têm a ver com o bloqueio… o próprio autoblqueio, que às vezes limita… [Trata-se], como insistimos, de fazer coisas diferentes, não um pouco mais do mesmo, [porque] vivemos tempos diferentes”, concluiu o dirigente.
Um contexto de maior controle e restrições informativas
Os meios estatais cubanos têm sido submetidos a uma crescente reestruturação com o intuito de reforçar o controle do regime sobre a informação.
O Instituto de Informação e Comunicação Social (IICS) foi criado em 2021 para substituir o Instituto Cubano de Rádio e Televisão (ICRT) e reforçar a hegemonia informativa do Estado. Com a promessa de melhorar a comunicação nos meios estatais, na prática, o regime cubano não fez mais do que consolidar o monopólio governamental sobre os meios oficiais.
Neste contexto, o governo cubano acreditou inspetores para controlar a informação e verificar sua conformidade com os interesses oficiais, em uma tentativa de fortalecer a supervisão dos conteúdos informativos e disciplinar os funcionários públicos.
Por outro lado, a pressão sobre os meios oficiais também aumentou, com reconhecimentos públicos do próprio governante Miguel Díaz-Canel sobre as limitações e erros na estratégia de comunicação do governo.
Em dezembro de 2024, o mandatário admitiu que os meios de comunicação oficiais não conseguiram se conectar com a população nem gerar confiança na gestão do regime
Enquanto isso, o governo continua a promover sua narrativa de resistência diante de um "inimigo externo", justificando seus problemas internos com o argumento do embargo estadunidense. No entanto, a insatisfação popular com a falta de transparência e a ineficiência governamental se torna cada vez mais evidente, o que se reflete na necessidade de reforçar o controle sobre a comunicação e o discurso oficial.
Ao alinhar a totalidade da imprensa estatal com seu programa de governo, Marrero Cruz não apenas pretende melhorar a comunicação interna, mas também blindar a legitimidade do regime diante do crescente descontentamento social, de modo que o povo não questione o governo da "continuidade".
O salto das Projeções para o Programa de Governo
Anunciado recentemente como uma evolução das ‘Projeções do Governo para corrigir distorções e reimpulsionar a economia’, o Programa da chamada “continuidade” foi apresentado nesta segunda-feira no Conselho de Ministros sem um plano detalhado nem medidas concretas sobre a mesa.
A ausência de uma análise autocrítica, dados específicos, objetivos quantificados ou recursos alocados transforma o Programa de Governo de Díaz-Canel em um discurso vazio, desprovido de informações verificáveis sobre como serão corrigidas as distorções econômicas ou como a economia será realmente reimpulsionada em 2025.
Tal como analisou o economista cubano Pedro Monreal, em vez de reconhecer o fracasso de suas políticas e propor soluções eficazes, o oficialismo se apega à propaganda, com discursos elaborados para simular controle e planejamento, quando na realidade o país continua em queda livre.
Este não é um programa público de política econômica, mas "a roda de conversa de um círculo limitado de políticos", distante das urgências reais da economia cubana e do bem-estar de sua população, concluiu Monreal.
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