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O governo de Antigua e Barbuda encerrou de forma inesperada sua histórica aliança médica com Cuba, apesar de ter defendido durante todo o ano de 2025 que a saída dos médicos cubanos desmantelaria o sistema de saúde nacional.
A administração do primeiro-ministro Gaston Browne colocou fim ao acordo médico, enquanto profissionais cubanos se preparam para deixar o país, o que marca uma reviravolta abrupta em uma política que o próprio governo havia defendido por meses diante de crescentes pressões diplomáticas dos Estados Unidos, informou o jornal Antigua Observer.
Ao longo de 2025, Browne se afirmou como um dos principais defensores caribenhos das brigadas médicas cubanas, rejeitando as acusações do Departamento de Estado dos Estados Unidos, que qualificou esses programas como uma forma de “tráfico humano”, apontou a mídia.
Em março, o primeiro-ministro chegou a afirmar que os médicos cubanos constituíam “o núcleo” do sistema de saúde de Antigua e Barbuda e que sua retirada teria consequências devastadoras.
No entanto, o acordo foi cancelado neste mês sem que o Executivo oferecesse uma explicação oficial.
A notícia não foi comunicada pelo governo, mas pela oposição do United Progressive Party (UPP), que emitiu um comunicado expressando seu “profundo agradecimento” aos profissionais cubanos e lamentando a forma abrupta como foi encerrada a cooperação.
O UPP apresentou o cancelamento como um “fracasso político” e um “ato de ingratidão”, ressaltando que a cooperação com Cuba possibilitou programas essenciais, como o Eye-Care Programme, que beneficiou centenas de cidadãos, além da formação de estudantes de Antigua em diversas disciplinas, oportunidades que muitas famílias não teriam condições de custear.
A saída dos médicos cubanos deixa um vazio significativo no sistema de saúde pública do país, especialmente em áreas onde há escassez de profissionais locais.
A situação torna-se ainda mais delicada com o lançamento previsto de um Seguro Nacional de Saúde em 2026, o que levanta dúvidas sobre a continuidade dos serviços e a capacidade do governo para substituir rapidamente o pessoal que está saindo.
Até agora, o Escritório do Primeiro-Ministro não respondeu a perguntas-chave sobre o número de médicos que estão saindo, o cronograma de saída, o futuro dos programas afetados nem o destino dos estudantes que cursam estudos em Cuba.
No entanto, o Governo abordou parcialmente o tema em uma declaração após o Conselho de Ministros no dia 18 de dezembro.
O diretor geral de Comunicações, Maurice Merchant, anunciou uma mudança de política voltada para a sustentabilidade do sistema de saúde, e o ministro Sir Molwyn Joseph confirmou a contratação de cerca de 120 profissionais de saúde, principalmente enfermeiros e alguns médicos oriundos de Gana, que seriam deslocados para o país antes do final do ano.
Segundo as autoridades, este reforço permitirá uma transição "ordenada" após a saída dos médicos cubanos e garantirá a continuidade dos serviços.
O Executivo expressou também seu agradecimento pela contribuição histórica do pessoal cubano e assegurou que, apesar do fim do programa, manterá relações diplomáticas respeitosas com Cuba.
A decisão ocorre após um ano de pressão contínua por parte da administração de Donald Trump, liderada pelo secretário de Estado Marco Rubio, para que os países do Caribe cancelassem ou reestruturassem os programas médicos cubanos.
Washington exigiu que os pagamentos fossem feitos diretamente aos médicos, evitando o governo cubano, e até mesmo alertou sobre possíveis sanções pessoais a funcionários que facilitassem essas missões.
Segundo a fonte, Antígua e Barbuda tentou inicialmente se ajustar a essas demandas por meio de modificações nos esquemas de pagamento, mas a interrupção total do programa sugere que tais concessões não foram suficientes ou que o custo diplomático foi considerado insustentável pelo governo.
Em outubro, o governo das Bahamas revelou algumas das condições do novo contrato de trabalho que oferecerá aos médicos cubanos que trabalham no arquipélago, enquanto aguarda a aprovação definitiva dos Estados Unidos para implementar o acordo.
O anúncio marca mais um passo na transformação de um programa que durante anos foi denunciado por Washington como uma forma de “trabalho forçado” controlado pelo regime de Havana.
A administração Trump incluiu recentemente Antigua e Barbuda na chamada proibição de viagem, destinada a “restringir e limitar ainda mais a entrada de estrangeiros” provenientes de cerca de trinta nações que, segundo Washington, apresentam deficiências graves e persistentes nos sistemas de verificação, controle documental e cooperação em matéria de segurança.
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