Regressam a Cuba 220 médicos vindos da Venezuela, enquanto persiste o silêncio oficial sobre a situação dos cooperantes



O retorno de 220 médicos cubanos da Venezuela parece rotineiro, mas o silêncio oficial sobre a situação de milhares de cooperantes persiste. A tensão política e militar na região aumenta as dúvidas sobre a segurança dos colaboradores ainda na Venezuela.

Aeronave da Conviasa no aeroporto de VaraderoFoto © Facebook / Aeroporto Internacional Juan Gualberto Gómez Ferrer

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Un vuelo da companhia aérea venezuelana Conviasa aterrizou nesta sexta-feira no Aeroporto Internacional Juan Gualberto Gómez, em Varadero, com 220 colaboradores cubanos da saúde provenientes da Venezuela.

A chegada foi celebrada por meios oficiais como parte do retorno “habitual” de profissionais que completam sua missão ou viajam de férias, embora sem oferecer muitos detalhes sobre as circunstâncias do retorno.

Captura de tela Facebook / Aeroporto Internacional Juan Gualberto Gómez Ferrer

O desembarque foi confirmado pela própria terminal aérea através de uma publicação em : “Neste momento, um voo da companhia aérea venezuelana Conviasa aterrizou em nosso aeroporto para trazer de volta à Pátria uma equipe de 220 colaboradores médicos. Bem-vindos a Cuba!”.

Por sua vez, a Brigada Médica Cubana na Venezuela informou através de sua conta oficial no X (antes Twitter) que foi realizado “um ato emocionante presidido pelo Dr. Duniel López Góngora para colaboradores que estão saindo de férias e outros que estão concluindo sua missão na Venezuela”.

Na cerimônia, segundo o comunicado, foram reconhecidos os trabalhadores destacados “por sua entrega e humanismo”, com o tradicional lema “¡Misión cumplida!”.

Nenhuma das mensagens oficiais, no entanto, faz referência ao complexo cenário político e militar que atravessa a região.

Desde há semanas, a tensão no Caribe aumentou após o desdobramento de navios de guerra americanos frente às costas venezuelanas e as ameaças de uma intervenção militar contra o regime de Nicolás Maduro.

Nesse contexto, o governo cubano tem mantido um silêncio absoluto sobre a sorte dos milhares de cooperantes que ainda permanecem em território venezuelano.

De acordo com estimativas diplomáticas e de organizações independentes, entre 10.000 e 20.000 cubanos trabalham atualmente na Venezuela em missões médicas, educativas e técnicas, embora algumas fontes aumentem esse número para até 25.000 ao incluir pessoal vinculado a atividades de inteligência, logística e assessoria militar.

O regime cubano, no entanto, não publica cifras oficiais nem detalhes sobre os acordos que sustentam essas missões, amparadas em convenções bilaterais assinadas desde o ano 2000 sob o chavismo.

O retorno do grupo de 220 colaboradores é apresentado oficialmente como um movimento rotineiro dentro do programa de rotação de pessoal, mas a ausência de informações complementares gera questionamentos.

Nenhuma autoridade cubana —nem do Ministério da Saúde Pública (MINSAP), nem do Ministério das Relações Exteriores— explicou se o voo faz parte de um plano de retorno maior ou de medidas de prevenção diante de um possível agravamento da situação na Venezuela.

Enquanto isso, as redes sociais alinhadas ao regime se limitaram a destacar o componente simbólico do retorno, com mensagens de tom triunfalista e referências ao “legado de solidariedade internacionalista”.

Para alguns observadores, esse tipo de comunicação controlada lembra o padrão habitual do regime diante de cenários de risco externo, onde se evita reconhecer qualquer situação que possa ser interpretada como uma retirada ou uma crise de confiança com seus aliados políticos.

Outros interpretam estes voos como parte de uma estratégia de recuo gradual, destinada a reduzir a exposição do pessoal civil em meio à incerteza sobre o futuro do chavismo.

O certo é que, em contraste com a discrição oficial, o retorno dos 220 médicos cubanos ocorre em um momento especialmente delicado, quando aumentam as dúvidas sobre a segurança e o destino de milhares de compatriotas que ainda permanecem em território venezuelano.

Nem o MINSAP nem o governo de Havana fizeram declarações públicas sobre o número de colaboradores ativos, as condições de sua estadia ou os protocolos em caso de emergência. Na ausência de informações transparentes, o silêncio continua sendo a resposta do regime diante de uma situação que combina opacidade, dependência e risco.

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