Golpe ao empreendedorismo: O Governo cubano fecha dezenas de mipymes



O regime afirma que as mipymes não possuíam sistemas contábeis adequados, omitiam dados no registro de receitas e despesas, e sua contabilidade era deficiente.

Mipyme em CubaFoto © CiberCuba

O Governo cubano anunciou o fechamento parcial ou total de dezenas de micro, pequenas e médias empresas (mipymes) como parte do chamado "Programa de Governo para corrigir distorções e reimpulsionar a economia", em um contexto marcado pelo deterioro geral da atividade produtiva e uma relação cada vez mais tensa entre o Estado e a iniciativa privada.

O primeiro-ministro Manuel Marrero informou na Assembleia Nacional que, dentro do processo de "redimensionamento, desenvolvimento e gestão da empresa estatal socialista e dos demais atores econômicos", foram realizadas verificações em entidades que se declararam em perdas.

De um total de 869 entidades revisadas, 87% mantinham essa condição, o que levou ao fechamento parcial ou total de 65 delas.

Segundo Marrero Cruz, entre as causas detectadas estão a falta de sistemas contábeis adequados, a omissão no registro de receitas e despesas, assim como deficiências na contabilidade.

Essas irregularidades foram utilizadas como base para as decisões de fechamento, que impactam diretamente um setor que, desde sua legalização em 2021, se tornou um dos mais dinâmicos da economia cubana.

Durante sua intervenção, o chefe de Governo detalhou que no ano foram constituídas 77 novas mipymes estatais, elevando o total dessas entidades para 330.

Em paralelo, foram registradas 816 mipymes privadas, atingindo a cifra de 11.866 em todo o país, além de duas cooperativas não agropecuárias que elevaram para 73 o total dessas formas de gestão.

No entanto, sublinhou que "continuam as ações para a organização dos seus objetos sociais", uma formulação que na prática tem se traduzido em maiores controles e revisões.

Marrero também informou sobre a aprovação da regulamentação do comércio atacadista para os agentes econômicos não estatais, uma medida que elimina a obrigação de realizar operações atacadistas exclusivamente através de entidades estatais.

No entanto, reconheceu que a descentralização da faculdade para aprovar a criação de mipymes privadas e cooperativas não agropecuárias avança lentamente.

Até o momento, essa atribuição foi concedida apenas a 65 municípios, o que limita a expansão do setor no restante do país.

Nesse contexto, o primeiro-ministro destacou que foi aplicada uma metodologia para o controle e apoio às entidades em perdas, embora os resultados mostrem que a maioria das comprovadas não conseguiu reverter sua situação.

Como resposta, o Governo optou pelo fechamento de várias delas, uma decisão que contrasta com o discurso oficial sobre a necessidade de "reimpulsionar" a economia.

De acordo com o relatório do jornal Granma, dentro do Objetivo 4 do Programa do Governo, orientado ao redimensionamento e à gestão da empresa estatal e dos demais agentes econômicos, também foi anunciada a criação do Instituto Nacional para a Administração - ou Ativos - de Empresas Estatais, cuja estrutura e quadro estão em processo de conformação.

Captura de Facebook / Cubadebate

Esta nova entidade reforça a ênfase governamental no setor estatal, mesmo quando as mipymes privadas assumiram um papel fundamental no fornecimento de bens e serviços que o Estado não consegue garantir.

Marrero também defendeu um Decreto-Lei para implementar novas modalidades de negócios entre pessoas jurídicas estatais e privadas nacionais.

Entre estas figuras mencionou contratos de franquia, a participação de nacionais com capacidades financeiras em encadeamentos produtivos e a aquisição por empresas estatais de participações em sociedades de responsabilidade limitada privadas.

Essas propostas foram apresentadas como uma forma de "reverter a situação", embora estejam inseridas em um esquema onde o Estado mantém o controle decisivo.

O retrocesso do setor privado contrasta com dados oficiais divulgados meses atrás pela Oficina Nacional de Estatística e Informação (ONEI).

Em agosto, a entidade publicou um relatório preliminar do sistema empresarial e orçamentário correspondente ao primeiro semestre de 2025, que excluía expressamente as mipymes e cooperativas.

Esse relatório mostrava um leve aumento no número de entidades registradas, com crescimento no setor empresarial estatal e uma redução no que foi orçado, além de uma diminuição no número de entidades com prejuízos e uma leve melhoria nos indicadores de eficiência econômica.

A exclusão das mipymes dessa análise foi interpretada por analistas como um sinal do lugar secundário que o Governo concede ao setor privado, apesar do seu peso real na economia cotidiana.

Desde há meses, vozes acadêmicas e estudos independentes têm alertado sobre a ambivalência oficial em relação aos empreendedores, que o regime considera um mal necessário, um recurso tolerado, mas não desejado.

Investigações citadas em relatórios anteriores destacam que, embora as mipymes tenham proporcionado uma certa oxigenação econômica e acesso a alimentos, insumos e produtos básicos, as autoridades continuam mostrando desconfiança em relação a esses agentes.

Regulações em mudança, entraves burocráticos e controles constantes têm marcado seu funcionamento, mesmo com mais de 11.000 empresas privadas registradas desde sua legalização.

Na prática, o fechamento de dezenas de mipymes e o foco no fortalecimento do aparato estatal reforçam a percepção de que a iniciativa privada é aceita apenas de forma limitada e condicionada.

Enquanto o Governo reconhece sua utilidade em meio à crise, mantém uma abordagem de supervisão e restrição que afeta diretamente a capacidade desses negócios de se consolidarem e contribuírem de forma sustentável para a recuperação econômica do país.

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