O ex-espião cubano e atual coordenador nacional dos Comitês de Defesa da Revolução (CDR), Gerardo Hernández Nordelo, publicou um vídeo em suas no qual gravou seu filho mais novo explicando um jogo familiar criado para lidar com o apagão geral que afeta Cuba desde a última sexta-feira.
Na gravação, realizada no sábado à noite, observa-se a criança explicando o jogo denominado “globo não toca chão”, que consiste em um círculo de familiares (Hernández Nordelo, sua esposa, uma filha e o pequeno) que tentam manter um globo flutuando no ar sem que toque o chão.

"Fazemos isso porque em toda Havana não há luz e, de alguma maneira, temos que nos entreter", explicou de forma didática o filho do coordenador nacional da "organização de massas" criada pelo ditador Fidel Castro para promover a "vigilância revolucionária" e a delação anônima a nível de bairro.
A iniciativa, aparentemente inocente, serve aos propósitos propagandísticos do dirigente dos CDR, que tenta se projetar como um "cubano comum" que também sofre com os apagões. Ao mesmo tempo, busca "romantizar" e, portanto, "normalizar" a crise energética que afeta a ilha, apresentando-a sob uma perspectiva mais amena e tolerável.
O vídeo se insere em uma série de publicações anteriores de Hernández Nordelo, nas quais ele tentou minimizar as dificuldades do dia a dia em Cuba.
Em datas recentes, publicou um vídeo amplificando a celebração de um "debate de bairro antimperialista" em Holguín, e compartilhando imagens suas em frente a um grupo de pessoas na rua. "Para isso sim há corrente", responderam os internautas cubanos.
Em outubro, incentivou os cederistas a "lutar nas redes" em defesa da chamada "revolução", apelando ao ativismo digital para contrabalançar as críticas ao regime cubano. Um mês antes, publicou uma imagem empurrando um ônibus em meio à crise de transporte na ilha, tentando transmitir uma imagem de solidariedade e esforço pessoal.
Em fevereiro, a imprensa oficial foi criticada por tentar romantizar os apagões com frases como "nos une" e "nos aproxima", em uma tentativa de amenizar a dura realidade da crise energética.
O vídeo do novo “documentalista” do regime cubano se insere em uma mudança discursiva mais ampla adotada pelas autoridades e meios de comunicação oficiais, que pretendem mostrar a imagem de um “povo heroico” que “resiste criativamente” às dificuldades que enfrenta por causa do “bloqueio” americano.
En esse contexto, em março de 2024, foi reportado que “cederistas” cubanos dispensaram um grupo de canadenses em Guantánamo no meio de um apagão geral e uma aguda crise de abastecimento de água.
Os exemplos desse ardil propagandístico são abundantes. Em setembro de 2022, Hernández Nordelo celebrou que os cubanos aguardavam o dia 28 de setembro, aniversário da fundação dos CDR, apesar das carências e da crise energética na ilha.
O recente vídeo do ex-espião faz parte dessa estratégia de propaganda para normalizar a crise energética em Cuba. Enquanto milhões de cubanos sofrem com apagões prolongados e o agravamento das condições de vida, Hernández e outros porta-vozes do governo tentam apresentar a situação como "suportável" e até mesmo como uma oportunidade para a união familiar.
No entanto, a realidade é que os apagões agravam a falta de abastecimento, impedem o funcionamento de eletrodomésticos básicos para a cozinha e afetam a qualidade de vida de toda a população. A tentativa de romantizar esta crise com jogos infantis ou discursos oficiais complexos dista muito da realidade que os cubanos enfrentam diariamente.
No final, parece que o verdadeiro jogo de Hernández Nordelo não é o "globo não toca o chão", mas sim o de manter, com ar propagandístico, a mentira de que a cúpula do regime que representa sofre as mesmas dificuldades que o povo cubano.
Mas enquanto seu globo continua suspenso, desconectado da realidade, os cubanos comuns não apenas tocam o chão, mas vivem no subsolo de opressão e miséria que o próprio sistema lhes impõe.
Em Cuba, "globo" também é sinônimo de mentira, e este, inflado pela máquina de propaganda oficial, não tardará a murchar diante da insuportável realidade que já não pode ser escondida com jogos ou discursos vazios.
Arquivado em: