El General de Ejército Raúl Castro Ruz voltou a aparecer publicamente nesta sexta-feira durante a sessão final do sexto período ordinário de sessões da Assembleia Nacional do Poder Popular (ANPP), realizada em um contexto marcado pela crise econômica e social que o país enfrenta.
Segundo informou a Presidência de Cuba na rede social X, Raúl, a quem a narrativa oficial voltou a apresentar como "líder à frente da Revolução Cubana", participou da jornada final do Parlamento, onde foram várias as sinalizações visíveis de que o poder real continua concentrado em suas mãos.
Em uma segunda mensagem, a Presidência destacou que o veterano militar chegou ao plenário ao lado do governante Miguel Díaz-Canel e foi ovacionado pelos deputados, após ter estado "atento durante todo o dia aos debates".
A cena reforça a centralidade simbólica e política do ex-mandatário, apesar de ele ter anunciado sua retirada dos cargos formais em 2021.
O site oficialista Cubadebate também destacou sua presença - por videoconferência - na primeira sessão da Assembleia.
A mídia voltou a empregar a denominação de "líder à frente da Revolução", uma fórmula que tem se repetido nos últimos meses e que evidencia o peso que Raúl Castro mantém dentro do sistema de poder cubano.
Durante essa sessão parlamentar, Díaz-Canel informou sobre movimentos relevantes na estrutura institucional do país.
Anunciou que, como parte de um processo de "renovação natural", o Conselho de Estado propôs liberar de seu cargo como presidente do Tribunal Supremo Popular Rubén Remigio Ferro, e designar em seu lugar o atual ministro da Justiça, Oscar Silvera Martínez.
Por sua parte, o presidente da Assembleia Nacional, Esteban Lazo, comunicou que foram recebidas as renúncias de vários deputados: Homero Acosta Ávila, secretário da ANPP e do Conselho de Estado; Ulises Guilarte de Nascimento, ex-secretário geral da Central dos Trabalhadores de Cuba; e Ricardo Rodríguez González, ex-presidente da Federação Estudantil Universitária.
A reaparição de Raúl Castro na Assembleia não é um fato isolado, mas se soma a uma série de episódios recentes que confirmam seu papel preponderante na tomada de decisões estratégicas do país.
Na semana passada, ficou sabendo que foi ele quem ordenou adiar o 9º Congresso do Partido Comunista de Cuba, previsto inicialmente para abril de 2026, diante do colapso econômico e social que a ilha enfrenta.
A decisão foi anunciada por Díaz-Canel durante o XI Pleno do Comitê Central do PCC, quando leu uma carta assinada por Raúl Castro.
No documento, o general afirmou que adiar o Congresso não deveria ser interpretado como um retrocesso, mas sim como uma medida necessária para concentrar recursos, esforços e energia dos quadros do Partido, do Governo e do Estado no enfrentamento dos problemas atuais do país.
Em outubro passado, Raúl Castro, de 94 anos, também presidiu uma sessão do Conselho de Defesa Nacional no Ministério das Forças Armadas, onde foi novamente apresentado oficialmente como "chefe à frente da Revolução".
Nessa ocasião, estava escoltado por seu neto Raúl Guillermo Rodríguez Castro, conhecido como "El Cangrejo", e acompanhado por Díaz-Canel à sua direita.
Essa apresentação gerou atenção especial, já que contrasta com o que está estabelecido na Constituição cubana, que determina que o Conselho de Defesa Nacional deve ser presidido pelo presidente da República.
A própria informação publicada pelo jornal oficial Granma confirmou que Díaz-Canel não chefiou o órgão, o que implica uma contradição direta com o texto constitucional e reforça a percepção de que o comando efetivo continua nas mãos do general.
Apesar de sua retirada formal da vida política, Raúl Castro mantém uma influência decisiva nas estruturas-chave do Estado, particularmente no setor de defesa e no conglomerado empresarial GAESA, sob controle do estamento militar.
A insistência em chamá-lo de "líder" ou "chefe à frente da Revolução", em vez de ex-presidente ou líder histórico, consolida a ideia de que seu poder não diminuiu.
Em meio a uma profunda crise econômica, apagões prolongados e um crescente descontentamento social, a presença de Raúl Castro no centro dos principais espaços de decisão envia uma mensagem clara tanto dentro quanto fora de Cuba: além dos cargos formais e dos discursos sobre renovação, o controle político e militar do país continua sob a tutela do general do Exército e do aparelho que o cerca.
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