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Decenas de cubanos, muitos deles acompanhados por crianças pequenas, amanheceram esta semana em frente ao escritório do Serviço de Imigração e Controle de Aduanas (ICE) em Orlando com uma pergunta que pesa mais que qualquer trâmite migratório: se poderão passar o Natal ao lado de suas famílias nos Estados Unidos ou se sairão detidos da reunião.
A cena, marcada pelo frio, o silêncio e a ansiedade, foi descrita pelo Orlando Sentinel em uma reportagem que retrata como esse escritório se tornou um espaço de medo para solicitantes de asilo que atendem a todos os requisitos legais, mas ainda assim temem não retornar para casa. Mais de uma centena de imigrantes fez fila desde a madrugada, alguns após viajar várias horas, sem certezas sobre seu destino imediato.
Entre eles estava o cubano Pedro Yusbel González Guerra, de 34 anos, que chegou aos Estados Unidos após uma perigosa travessia em uma embarcação rústica a partir de Cuba. Três dias no alto-mar, desidratação, crianças a bordo e cenas que ele ainda recorda com angústia marcaram essa viagem que quase custou a vida a uma menina do grupo.
Hoje vive na Flórida com sua esposa e seus dois filhos, sendo um deles nascido em solo americano, e trabalha na construção e energia solar enquanto aguarda uma resposta definitiva ao seu pedido de asilo.
Antes de entrar no escritório do ICE, González Guerra apenas conseguiu pedir que “tudo corra bem”. “É impossível viver em Cuba, por isso estamos aqui buscando refúgio”, disse ao meio local. Horas depois de sua entrada, sua família continuava sem notícias.
O Orlando Sentinel destaca que o número de pessoas que comparecem aos registros obrigatórios no escritório do ICE em Orlando triplicou desde abril, enquanto aumentam também as detenções e o medo de separações familiares. Defensores dos imigrantes alertam que muitas pessoas vão às suas consultas sem saber se sairão em liberdade ou se serão enviadas para um centro de detenção.
Na calçada, voluntários e líderes religiosos tentam aliviar a tensão com orações, café quente e palavras de encorajamento. O pastor Sócrates Pérez, da coalizão “Os Imigrantes São Bem-vindos Aqui”, explicou ao Orlando Sentinel que o medo não é infundado, pois muitos migrantes testemunharam amigos ou familiares sendo detidos ao comparecerem às suas consultas migratórias.
Alguns, no entanto, conseguiram sair com um alívio temporário. A cubana Zureli Escalona, que foi com seu esposo e seu filho de quatro anos, recebeu uma prorrogação de um ano e desabou em lágrimas ao sair do escritório. “Me deram um ano a mais”, disse entre lágrimas, ajoelhada na calçada.
Histórias como estas se repetem em diferentes cidades dos Estados Unidos e fazem parte de uma realidade que preocupa especialmente a comunidade cubana, marcada pela incerteza migratória e pelo medo constante da separação familiar.
Para muitos, o Natal se aproxima não como uma celebração, mas como um prazo que pode marcar um antes e um depois em suas vidas.
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